Crônica: OS TOQUES DOS SINOS NOTURNOS

Às 22:08, alguém toca ao telefone. E eu absorvido num sono quase que profundo e ao mesmo tempo impaciente, viro-me de um lado ao outro…. E, assim, comecei os meus devaneios noturnos, quiçá, soturnos. E meu pergunto:

– Quem está do outro lado da linha? A minha npelélé?

Diz ela que tocou mais de oito vezes, porém nenhuma ligação passou. Que queria apenas desejar-me “boa noite, durma com os anjos”.

Antes de tirar do ouvido o celular, liga-me (a que sempre me recusou), mas a ligação não passa. Manda-me a seguinte mensagem: “oi, meu bem, sou G., com o tempo vais me conhecer melhor. Ainda vou fazer de ti o homem mais feliz do mundo.

Poder ter certeza disso. Bjs suculentos”. A seguir vem com mais esta: “Às vezes fico muito chateada com você, mas para sersincera, é só por ciúmes. É que tenho medo de perder-te para o resto dos meus dias. Desejo-te muito, bjs e boa noite!” “Ei, filho, adoro-te!”.

Fala-me de seus desejos de casar-se comigo, de termos dois filhos, de viajarmos por este mundo afora, etc. Mas também diz-me que não está com pressa, que tem todo o tempo do mundo para esperar por mim. Que a impressão de que ela quer tudo para anteontem é minha. Exclusivamente minha.

Que um dia, ou o momento certo há de chegar. Mas que quer ter filhos comigo. Coisas da juventude. Que está disposta a provar o contrário de que me ama. De que desta vez é para eternidade terrena.

E que a única coisa que a interessa é a felicidade ao lado dum homem que a ama e que ela ama. E que dei (talvez por egoísmo) motivos para ela duvidar do meu amor por ela. Diz-me que queria conhcer-me melhor, mas que, pelos vistos, não estou nem aí para ela.

npelélé, em contrapartida, pede colo, cafuné, carícias atrevidas ousadas, beijos intensos, húmidos e suculentos. Que, quando me estresso, dá-lhe vontade de estar ao meu lado, que tem remédio infalível para isso, e ao exaustão.

A preta nbau diz-me que, finalmente, estamos nosacertando. Que está com vontade danada de abraçar-me, de rolar pelo meu corpo, de roçar a língua no meu pepicho. Que estamos nos acertando. Que desta vez promete que não vai sair da minha vida, que acredita que sou o homem que Deus colocou em sua vida. Coisas fúteis, papo fuleiro.

Verdades plenas, felicidades serenas.

1. Os corpos que deslizam atiçando desejos

Corpos deslizantes. Corpos que rolam no chão. Húmido dos lábios singelos da terra.

Corpos que são sopros dos sogros dos órgãos. Corpos que são sopros das almas penadas que perambulam por este mundo metafísico. Corpos que desejam. Corpos desejantes. Corpos desafinados, porque soltos. Porque solitários.

Corpos, enfim, e afinal de contas, úteis de tão inúteis que parecem ser. Corpos decentes na indecência orgástico-sexual.

O chão molhado perfigura o corpo que se preza . Que a mesma nudez escandalosa, indecente, instigante, erótica, exótica é convidativa. Convidativa imaginariamente falando nos termos da eroticidade imaginativa. Estou a ser indecente? Ou estou a manifestar a decência amoral? Ou será indecência apetitosa?

De indecências gostosas está o nosso corpo cheio. De desejos e sentimentos que nos seguem (e perseguem). Nos significam e dignificam. O eros estende seus braços e encontra do outro lado do rio os braços estendidos da psiqué que o abraça, enlaça e entabula com ele relação afetiva. Sinos que atinam. E afinam. Laços que não movimentam tão lassos gestos não fiáveis (porém, contraditoriamente, confiáveis).

2. Os lares que os corpos comportam

Lares que incorporam os corpos.

Se um dia um temporal do destino (em desatino) vier a  destruir a árvore da nossa sincera (e vera) amizade. Espero, meu bem, meu zen, que guarde, no fundo do canto da generosa esperança que sabe esperar tenazmente na fé, pelo menos a raiz da nobre saudade que nos une

Pois, assim, para que um dia volte, no singelo gesto da gesta progenitora do amor, faça nascer de dentro de ti e de mim a caule da amizade-amor que nutre a vida por todos os sentidos que ela poderá adquirir.

Assim sendo quando você tiver uma lágrima a deslizar da tua face uma ternura de tristeza infeliz, agressivamente, parte-a, assim tão bruta e violentamente ao meio (e se possível dá-me a metade que, sempre ao teu dispor, chorarei contigo as mágoas que persistirem incomodar-te.

Quando eu tiver um sorriso (dentro da medida do possível) de alegria dou-te por inteiro todo o meu ser ontológico só para te ver feliz.

Saberá um dia, meu zen, o que significa saudades? Essa sensação que tritura a nossa ternura sensível? Triturando-nos os ossos do pensamento, e ao mesmo tempo, os músculos do sentimento.

Pois, deverás

Saber

Adorar

Um

Determinado

Amor por mais

Distante que ele

Esteja de mim.

Toda a saudade dói, sei-o bem.

No entanto, alguma saudade cura quando não perdura por muito tempo.

Para dizer, outrossim, que toda a saudade, contudo, corrói. Alguma saudade dura. Ou talvez perdura.

nada cura, porque nada procura.

Eis o segredo: saber esperar, mesmo que seja longo o compasso da espera.

Pacientemente, na incerteza que há de ser certa. Pois o certo é a certeza incerta do real e do verdadeiro amor. Ou seja, do obstinado amor.

Caro leitor d’O Democrata, até a próxima, que o cronista em tempos de eleições em promessa precisa dormir para tentar esquecer esta crise imbecil de políticos incompetentes reconhecidamente gestados nos campos do milho Bacil.

 

 

Por: Jorge Otinta, poeta, ensaísta e crítico literário guineense.

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