Opinião: PAUL KAGAMÉ, UM PATRIOTA E PAN-AFRICANISTA OU UM IMPULSIVO DITADOR?

A República de Rwanda tem se tornado uma referência de desenvolvimento em toda África subsaariana, sendo uma região de constante instabilidade política e subdesenvolvido. O presidente da República de Ruanda, Paul Kagamé, se representa como substância motriz do processo de desenvolvimento do país, pelo seu caráter de disciplina e diligência. Com isso, Presidente Kagamé, igualmente, é referenciado como símbolo de liderança, patriotismo e pan-africanista. Tanto que na última reunião do G7, Kagamé foi convidado especial para orar sobre combate à desigualdade. É muito impressionante o disfarce do presidente ruandês para com o mundo perante a situação política do país e da sub-região centro e leste africano, ou o mundo decidiu, simplesmente, pretender que está tudo bem.

Os bons resultados que a estatística da Rwanda apresenta, são atribuídos, simplesmente, a capacidade de liderança do seu Presidente, sem se importar em compreender a que se deve realmente. Com isso, também, a apreciação do regime do presidente Kagamé é muito menos crítico, ou seja, sempre tende-se a considerar os fatos positivos da liderança do Kagamé. Tudo isso, não passa de uma farsa. Os bons resultados estatísticos da situação do desenvolvimento sócio-econômico da Rwanda não se deve a capacidade de liderança do Presidente Kagamé, muito menos, que o seu regime é uma maravilha como sempre é destacado.

Eu, a semelhança de muitos africanos, fiquei muito impressionado com Kagamé, ao observar os dados estatísticos dos indicadores do desenvolvimento sócio-econômico da Rwanda. Porém, apreciando mais atento a situação política da Rwanda, indignei-me pelo enorme contrariedade da figura de Kagamé, pelos factos reais em relação a minha impressão que tinha construído sobre ele.

Com a independência do país, a 1 de julho de 1962, os povos hutus, que constituem a maioria da população do país, iniciaram a perseguição ou ajuste de conta contra os tutsis, que constituem cerca de 11% da população (os hutus cerca de 88%). A perseguição dos hutus contra tutsis, era entendido (pelos hutus) como atitude de retaliação as violências sofridas pelo regime colonial do império Belga em concluiu com os tutsis. Em consequência disso, os tutsis refugiaram-se noutros países vizinhos, como Congo, República Democrática de Congo (RDC), Burundi, Tanzânia e, principalmente, Uganda. Neste último, os tutsis criaram um movimento armado para conquistarem o poder político na Rwanda. Em 1994, os extremistas hutus promoveram uma campanha de extermínio dos tutsis, que ficou conhecido como maior acontecimento de perdas de vidas humanas nos últimos 100 anos, vitimando, mortalmente, quase 1 milhão de pessoas. Esse massacre dos tutsis foi interpelado pelo movimento armado dos Tutsis, denominado por Frente Patriótico de Rwanda (RPF) com base na Uganda, já sob comando de Paul Kagamé, que lhe possibilitou a ascender à Presidência do país.

A divergência entre os hutus e tutsis foi motivada pela conhecida estratégia da colonização europeia na África, “dividir para melhor reinar”, porque, esses povos têm histórico de convívio juntos desde sempre. Durante a colonização inventaram várias formas de dessemelhança desses povos.

“Dou-lhe o exemplo da recente etnogenese monstruosa, num cenário de genocídio, entre os hutus e os tutsis. Porque razão os hutus e os tutsis não foram tentados pelo genocídio nos séculos XVIII ou XIX? No século XIX, os tutsis e os hutus de Burundi eram mobilizados conjuntamente para combater os tutsis e os hutus de Rwanda, que por sua vez, também se uniam. Por quê? Porque havia um processo nacionalista em gestação dentro da nação burundense, por um lado, e da nação ruandesa, por outro. Nessa época, não se tratava de um conflito entre hutus e tutsis de Rwanda, de tal modo os processos nacionalistas eram determinantes. No tempo pré-colonial, um hutu, ministro de um rei tutsi podia ser mais importante que um pequeno chefe tutsi de província. Fala-se mesmo da possível passagem da mesma pessoa de uma das condições para a outra. A partir da colonização, hierarquizaram-se as etnias africanas como se hierarquizaram as raças, os brancos em cima, os negros em baixo. Foi então que se criaram os germes contemporâneos do conflito atual. As nações burundinesa e ruandesa foram apanhadas em pleno vôo e deixaram de poder pensar na respectiva realização. As contradições entre os grandes chefes ruandesas e burundineses desapareceram, para dar lugar a contradições internas. Essas contradições que não eram antagônicos no século XIX, foram progressivamente vistas como flores venenosas que germinavam durante o período precedente. Os hutus e os tutsis assistiram a um tipo de divisão de trabalho diferente do que prevalecia anteriormente. Os tutsis foram privilegiados no acesso ao alto clero ou no exercício de funções no exército e na administração pública. A sua superestrutura e a sua mentalidade foram assim reforçadas.

A contradição agravou-se com a introdução da democracia formal de tipo europeu. Nas independências, após a partida dos europeus, cada um dizia: ‘sou eu que devo comandar’. Os tutsis apoiaram-se nas suas funções de direção tradicional na sociedade, e os hutus – que eram em maior número – apoiaram-se na legitimidade democrática, no princípio da maioria. Na sequência disto, na ausência de uma Conferência Nacional para refundar a nação, tutsis e hutus separaram-se de tal maneira que fala-se hoje de etnias diferentes, quando, na realidade, ambos têm a mesma língua e a mesma cultura social.” (KI-ZERBO; 2006; p. 52-53)

Findo genocídio, houve denúncias e provas que se tinham informação de antemão da existência de um plano de assassinato sistemático dos tutsis e hutus moderados, mas foi ignorado, pelo interesse da estratégia geopolítica das potências mundiais, por isso não aceitaram tomar previdências para evitar essa crise humanitária. Aquela região da África central é marcada com disputa para ter a sua influência e controle entre Bélgica e França, como também é o caso da RDC. A França é aliada dos hutus, enquanto que a Bélgica dos tutsis desde os tempos da colonização. Por isso, a aliança Franco-americano (França em conluio com os EUA) estava a favor do então governo dos hutus.

A situação de emergência humanitária em Rwanda, e vergonha para com a insensibilidade humana com a vida humana, como se destacou nas causas do genocídio de Rwanda, sensibilizou muita simpatia do mundo para com país. Igualmente, os investimentos financeiros estrangeiro, tanto privado, como público para sua reconstrução. Períodos depois do genocídio, Rwanda ficou marcado com constantes visitas de celebridades internacionais que mobilizaram fundos para apoiar o país da crise humanitária que se deparava. Dentre os dados dos indicadores econômicos do país disponíveis, o que nos permite observar esses fatos, é a evolução da stock das dívidas do país. A expansão do stock das dívidas, demostram a atenção ou privilégio dado ao país por parte das agências credoras, ou seja, nesses períodos houve maior disponibilidade em fazer crédito ao Rwanda sem se considerar os riscos que eram altos.

Nos finais da década de 80, com a intensificação do conflito entre as forças do Governo contra RPF, igualmente, intensificou as disputas de influência e controle do país e da sub-região entre as potências internacionais pelas suas estratégias geopolíticas. Essa situação privilegiou a Rwanda em angariar mais empréstimos, que lhe permitiu a começar a expandir o seu stock da dívida. Em 1994 e 95, após o genocídio, stock da dívida do país aumentou significativamente, mais de 120% do seu Produto nacional Bruto.

Apesar de ligeiras retração do stock da dívida, não implica a perda do privilégio de financiamento ou de credito ao país, mas sim, pode ser causado pela isenção dos custos de dívida (juros) e o seu próprio valor nominal de alguma parcela da dívida. Nos anos mais posteriores ao da ocorrência do genocídio, ou nos anos mais recentes, os interesses de financiamento a Rwanda deve-se pelo quadro sócio-econômico que já se apresenta.

Ainda, analisando os dados das redes de financiamento de Rwanda, se pode constatar os fatos acima alegados.

DT.NFL.UNCR.CD: Agencia da ONU (UNHCR, United Nations Refugee Agency)

DT.NFL.UNCF.CD: Agencia da ONU (UNICEF, United Nations Children’s Fund)

DT.NFL.UNAI.CD: Agencia da ONU (UNAIDS, Joint United Nations Programme on HIV/AIDS)

DT.NFL.ILOG.CD: Agencia da ONU (ILO, International Labour Organization)

DT.NFL.IFAD.CD: Agencia da ONU (IFAD, International Fund for Agricultural Development)

DT.NFL.IAEA.CD: Agencia da ONU (IAEA, International Atomic Energy Agency)

DT.NFL.FAOG.CD: Agencia da ONU (FAO, Food and Agriculture Organization of the United Nations)

DT.NFL.MIDA.CD:  IDA (International Development Association)

DT.NFL.MLAT.CD: Parceiros Bilaterais

DT.NFL.MOTH.CD: Outras Instituições

Gráfico da evolução de algumas redes de financiamento, demostra uma tendência de crescimento constante dos financiamentos ao longo do tempo. Porém, pode-se notar um impulso considerável do mesmo, logo após o genocídio. E a sua maior expansão nos períodos mais recentes, deve-se à estrutura econômica já conquistada, pois, a partir de 2010, Rwanda já destacava como um dos mais competitivas economias africana.

Já no gráfico do histórico de algumas rede de financiamento, pode-se notar o aumento dos financiamentos de desenvolvimento social, como o caso de UNICEF e FAO, nos períodos posterior ao genocídio, como também os parceiros bilaterais, com principal destaque da China e Alemanha.

Com toda assistência de financiamento que a Rwanda teve, mas pelos indicadores da sua economia, não tem um grande sucesso ao nível da potência dos mesmos. Principalmente, o país depara-se com situação de déficit grande na sua Balança Comercial e saldo orçamental, que ainda persiste ao longo de muito tempo.

Gráfico da Evolução do Saldo de Balança Comercial de Rwanda

Gráfico da Evolução do Saldo Orçamental de Rwanda

Pelo que, Rwanda pode ser considerado um caso de muito despendio de investimento, mas não um grande exemplo de sucesso pela sua estratégia de investimento para desenvolvimento económico.

Fala-se muito de má aplicação dos financiamentos na Rwanda. De uma forma irônica, sobre mau uso de fananciamento na Rwanda, fala-se de investimentos públicos até nos clubes de futebol ou para organização de partidas de futebol. Estes fatos podem ser observados analisando a evolução de fluxo de capital.

Gráfico da Evolução de Fluxo de Capital de Rwanda

Nos períodos seguidos ao genocídio, foram marcados com muita entrada de capitais ao país, desde assistências humanitárias, também financiamentos para desenvolvimento, por isso, os saldos de fluxo de capital foram positivos. Porém, nos períodos posterior ao 2010, com a produção ou renda dos exercícios dos investimentos aplicados, causou-se déficit constante de fluxo de capital. Isso devido à exportação dos lucros. Essa situação, ainda deixa Rwanda muito dependente do capital ou financiamento estrangeiro.

Entretanto, Segundo Noble Marara (ex-membro de Guardas presidenciais), Presidente Kagamé está muito a quem de ser uma referência de boa liderança e de sucesso de governação. Ainda se considerarmos os aspectos políticos da sua liderança, principalmente, o processo de reconciliação de Rwanda após genocídio, perseguição aos seus adversários políticos e críticos ao regime, e sua política externa na sub-região que tem forte contributo na desestabilização da RDC (MARARA; 2017).

Perante o processo de reconciliação na Rwanda, que é fortemente recomendado ao país depois do genocídio, Kagamé ainda expressa publicamente o seu ódio, desprezo e preconceito discriminatório contra os hutus, tratando-lhes de gentes desafortunados querendo governar o país. “… na ausência de uma Conferência Nacional para refundar a nação, tutsis e hutus separaram-se de tal maneira que fala-se hoje de etnias diferentes, quando, na realidade, ambos têm a mesma língua e a mesma cultura social. Uns e outros tiveram funções coletivas diferentes, mas pertencem ao mesmo povo. Retiro daí a seguinte conclusão: se quisermos resolver o conflito a partir das suas raízes, devemos inventar uma nova formação social que assegura aos hutus e aos tutsis uma participação igual, isto é, equilibrada nas estruturas democráticas.” – (KI-ZERBO; 2006; p. 53).

No entanto, para Kagamé, a solução não passa de apenas excluir a descrição do grupo étnico no documento de identidade dos ruandeses, e manter a descriminação e perseguição dos hutus e de todos que defendem um processo de reconciliação verdadeira, com base numa justiça mais isenta. Considerando que houve assassinatos discriminatória tanto pelos hutus, como pelos tutsis, ou seja, houve genocídio de ambas etnias.

Essa situação pode ser observado na evolução da população ruandesa em refúgio, quem tem vindo crescendo, constantemente, ao longo do tempo.

Dado à evolução dos asilados em Rwanda e dos seus cidadãos em refúgio, se pode afirmar que existe uma correlação entre a situação de tenção política de Rwanda com a situação de conflito na sub-região de África Central. Também, isso pode comprovar as acusações contundentes do envolvimento do seu líder nesses conflitos visando desestabilizar as lideranças dos países vizinhos que não considera de aliadas, em particular caso da RDC (ONANA; 2009), apoiando grupo rebelde que recrutam crianças como soldados (AL JAZEERA ENGLISH; 2014).

Como criticou David Himbara (ex-membro do governo de Kagamé), Kagamé promove um processo de reconciliação proibindo um debate aberto sobre o passado da história política e social da Rwanda, limitando-se apenas em destacar o genocídio de 1994, que é genocídio dos tutsis, como única parte sombroso do passado do país (HIMBARA; 2017). Contudo o homem – Paul Kagamé – aparenta ser muito ignorante e rude, igualmente, é muito bom estratego e disfarçado. Pois a decisão de proibir a recapitulação de uma análise crítica da história do país, como também a restrição de liberdade de opinião e manifestações políticas de oposição, permitiu-lhe conseguir manipular as informações da situação da Rwanda e da opinião pública internacional.

Como hoje, conseguiu difundir que o acidente do ex-Presidente Juvénal Habyarimana foi causado pelos hutus extremistas como pretexto para desencadear o extermínio dos tutsis. Para Pierre Pèan (jornalista investigativo, da nacionalidade francesa, conhecido por uma obsessão pelo caso ruandês), o acidente foi causado pelas forças de RPF. Pèan também retransmite a tese do duplo “genocídio”. Defendendo que podemos falar sobre o genocídio de tutsis, enquanto, desde 1990, o número de hutus assassinados pela polícia e soldados que obedecem às ordens de Kagamé é muito superior ao dos tutsis mortos por milícias e soldados do governo (PÈAN; 2005).

Pierre Péan vai ainda mais longe, porque acusa Paul Kagamé de ter organizado o ataque com a intenção de causar o genocídio. “Na fase final de sua estratégia para conquistar o poder, Kagamé planejou o ataque, assim também planejou sua consequência direta: o genocídio de tutsis perpetrado em retaliação”. As guerras secretas das grandes potências na África, Pierre Péan expõe novamente o esboço da conspiração anglo-saxônica que, no coração da África, teria escolhido como principal auxiliar o presidente ruandês Paul Kagamé. A acusação contra RPF de ser causador do genocídio, também foi reforçado por Abdu Ruzibiz, com testemunho de alguns atores do mesmo, no seu livro publicado em outubro de 2005, intitulado “história secreta de Rwanda” (RUZIBIZ; 2005).

Judi Rever (jornalista investigativo, da nacionalidade canadense), o acidente do Presidente Habyarimana não foi único ato de assassinato dos hutus. Logo após do acidente houve ataque aos figuras hutus de alta personalidade, como caso da então primeira-ministra, foram assassinadas sistematicamente pelos elementos da RPF, sob ordem de Kagamé. Conforme Rever, ONU tem conhecimento de todas essas informações, porém, decidiram encobri-las, para garantir a estabilidade e segurança no país, evitando a continuação de violência (REVER; 2018).

Outros casos contundentes que implicam a intimação do Presidente Kagamé, destaca-se o assassinato do Assinapol Rwigara e Patrick Karegeya, perseguição ao General Faustin Kayumba Nyamwasa, e prisão do Jornalita Stalin Gatera (AL JAZEERA ENGLISH; 2014).

Assinapol Rwigara, um empresário industrial que foi um dos financiadores da FPR, foi morto em um acidente de carro na noite de 04 de fevereiro de 2015 em “Gacuriro” em Kigali. Sua família alega que foi um assassinato político. De acordo com a versão policial, ele foi morto no local quando seu Mercedez-Benz que estava dirigindo colidiu frontalmente com algo pesado, sem se saber o que é tal do algo pesado. A sua filha, Diane Rwigara, hoje é maior opositor e voz crítica do regime do Paul Kagamé, ao decidir se candidatar na eleição presidencial de 2017, cuja a sua candidatura acabou sendo invalidada, a Comissão Nacional Eleitoral estima que forneceu apenas 572 assinaturas válidas das 600 solicitadas. Diane seria a primeira mulher a participar numa disputa eleitoral a Presidência de República, isto só no ano 2017, num país com a fama de ter maior representação feminina no parlamento e no governo no mundo. A concessão das oportunidades às mulheres na Rwanda, não seria mais um disfarce do Kagamé para manipular opinião pública internacional sobre o seu regime? A família Rwigara até então exige justiça sobre o assassinato do Assinapol, em consequência disso, em 2017, sofreram prisão em conjunto, Adeline (viúva), Anne e Diane (filhas), sob acusação de incentivarem insurgência, a priori foi um desaparecimento, pois não foi anunciado acusação de ordem de prisão e ninguém sabia do paradeiro da família.

Patrick Karegeya era chefe de inteligência em Ruanda. Ele era um membro do grupo da FPR que assumiu o poder em Ruanda após o genocídio e a guerra civil. Depois de se tornar um crítico do Paul Kagamé, ele foi destituído de sua posição e preso. Conseguiu fugir de Ruanda, em 2007, e obteve o asilo político na África do Sul, onde denunciou que Kagamé tornou-se um ditador. O governo de Kagamé o acusa de orquestrar um ataque de granada em Kigali em 2010, o que Karegeya negou, e acusou, por seu lado, estar certo de que Kagamé havia orquestrado os assassinatos de vários adversários políticos. Em julho de 2013, Karegeya afirmou que Kagamé estava envolvido no assassinato do presidente Juvénal Habyarimana em 1994 – assassinato que foi um gatilho do genocídio de Ruanda. Presidente Kagamé acusou Karegeya de estar a servir a inteligência militar sul-africana. No início de 2014, Karegeya planeja participar de uma reunião do Congresso Nacional de Rwanda (CNR) – um partido da oposição – em Joanesburgo. Pouco antes desta reunião, foi encontrado estrangulado em seu quarto de hotel na tarde de dia 1 de Janeiro. A polícia sul-africana abre uma investigação por assassinato, enquanto o CNR atribuiu a responsabilidade do assassinato ao governo Kagamé (AL JAZEERA ENGLISH; 2014). Segundo essa matéria de canal televisivo Al Jazeera em Inglês, após a confirmação do assassinato do Karegeya, o ministro da Defesa do Rwanda, General James Kabarebe, afirmou que Karegeya “escolheu ser um cachorro” e, portanto, estava “morto como um cachorro”. Afirmação essa que o próprio Kagamé que é significante.

Faustin Kayumba Nyamwasa é um dos fundadores da FPR. Chefe do Estado-Maior do exército ruandês de 1994 a 2002, perto de Paul Kagamé, agora está no asilo e considerado como um grande opositor de Kagamé. Em 2002, tornou diretor de inteligência e depois se confundiu com Kagamé. Em 2004, foi nomeado embaixador na Índia, em 28 de fevereiro de 2010, deixou seu posto para asilo na África do Sul, agora abertamente se manifesta contra regime do Kagamé. Em 19 junho de 2010, sofreu uma tentativa de assassinato fora de sua residência em Joanesburgo, donde foi baleado. Sua esposa, Rosette Nyamwasa, acusou o governo ruandês de ser responsável, o Ministério das Relações Exteriores da África do Sul lhe fala de um “país estrangeiro”, acusando implicitamente Ruanda. Hospitalizado, General foi alvo de uma segunda tentativa de assassinato em sua cama, mas seus cinco assassinos foram presos pela polícia sul-africana. Jean-Leonard Rugambage, vice-editor do jornal Umuvugizi , que estava investigando essa tentativa de assassinato, foi assassinado em 24 de junho de 2010, baleado na frente de sua casa em Kigali. Em 22 de setembro de 2011, os serviços de inteligência sul-Africano frustraram pela terceira vez uma tentativa de assassinato de toda a família Kayumba. Em março de 2014, outro assalto à casa de Kayumba Nyamwasa na África do Sul, onde apreenderam seu computador e vários documentos. As autoridades sul-africanas alegaram que foi agentes de serviços de inteligência de Rwanda ligados à embaixada, por isso expulsaram do país três diplomatas ruandesas.

No final de janeiro de 2019, General Kayumba Nyamwasa foi alvo de um mandado de prisão internacional do governo de Ruanda, acusado de criar com os outros partidos da oposição uma rebelião no leste do Congo entre Fizi e Uvira. Kayumba Nyamwasa também é procurado pela justiça espanhola por sua possível implicação em “atos de genocídio, crimes contra a humanidade, crimes de guerra” no Congo. E também, é procurado e processado pelo Tribunal Penal Internacional por violação de direitos humanos e outros devido os crimes de guerra e assassinatos em massa que ele próprio ou um grupo que liderou cometeu contra refugiados hutus na RDC. Perante todas essas acusações, General Nayamwasa defende que o Presidente Kagamé é também cúmplice, que hoje quer incriminá-lo sozinho.

Stalin Gatera é um jornalista ruandês, que cumpre pena na prisão por criticar as políticas de reconciliação que está sendo provido em Rwanda. Stalin afirma que seu irmão, Nelsom Gatera, também jornalista, foi vítima de perseguições pelo poder político do pais, pelo que abandonou o país com receio de perder a vida, como foi caso dos seus muitos outros colegas da imprensa.

O presidente ruandês aproveitou da simpatia do mundo para com seu país após o genocídio, não só para criar a estrutura do desenvolvimento econômica que país se dispõe, mas, sim, para instalar o mais impulsivo regime autoritário e ditatorial no país, perseguindo e assassinando de forma sistemática qualquer um que se apresenta sob outra perspectiva as suas atuações políticas. Pelo que não passa de um ditador impulsivo, não um exemplo de chefe de Estado.

Com toda essa situação, que causou muita contestação do regime Kagamé. Contudo, nas duas últimas presidenciais, 2013 e 2017, ele consagrou vencedor com mais de 90% dos votos expressos, logo completará 24 (vinte e quatro) anos no poder, com possibilidade de permanecer ainda mais, pois extinguiu a determinação constitucional de limitação dos tempos de renovação dos mandatos.

Portanto, a guerra de Rwanda, diria eu, que ainda não cessou, apenas as suas frentes de combate ocorrem fora do território nacional do país, sim nos países vizinhos, principalmente, na RDC, e com graves consequências à populações civis desse país. E, esse conflito está longe de ter uma resolução diplomática, isso pela atitude implacável de intolerância e arrogância que tem marcado a personalidade do Kagamé.

Paris, 03 de Setembro de 2019

Por: Nataniel Sanhá

Bacharel em Ciências Econômicas, Teologia e Relações Internacionais

Referências:

KI-ZERBO, J.; Para Quando a África? entrevista com René Holenstein; Rio de Janeiro: Pallas, 2006.

HIMBARA, D.; Kagame’s Killing Fields; July 2017.

MARARA, N.; Behind the presidential curtain: inside Out of real Paul Kagame from his former bodyguard; August 2017.

RUZIBIZ, A. J.; Rwanda l’histoire secrète; Octobre 2005.

ONANA, C.; CES TUEURS TUTSI Au coeur de la tragédie congolaise; Avril 2009.

https://www.youtube.com/watch?v=XZ_Hfs67IlY > – Acessado em 02/09/2019

https://www.youtube.com/watch?v=Ut7Bs9XRFGE > – Acessado em 02/09/2019

https://www.youtube.com/watch?v=Cv7DHZ-WH3I >- Acessado em 02/09/2019

PÈAN, P.; Black furors, white liars (Fayard / Thousand and one nights); 2005.

https://www.jeuneafrique.com/808977/politique/pierre-pean-une-obsession-rwandaise/ > – Acessado em 02/09/2019

REVER, J.; In Praise of Blood: The Crimes of Rwandan Patriotic Front; March 2018.

https://www.youtube.com/watch?v=noceZ28G1Jo > – Acessado em 02/09/2019

https://www.youtube.com/watch?v=8hkHOsochIE > – Acessado em 02/09/2019

AL JAZEERA ENGLISH: https://www.youtube.com/watch?v=2NXVxP3Pr44 > – Acessado em 02/09/2019

UNHCR:<www.unhcr.org/en-us/figures-at-a-glance.html>-Acessado em 02/09/2019

BANCO MUNDIAL:< https://data.worldbank.org/country/rwanda?view=chart > – Acessado em 02/09/2019

TRADINGECONOMICS:<https://pt.tradingeconomics.com/rwanda/indicators>-Acessado em 02/09/2019

4 thoughts on “Opinião: PAUL KAGAMÉ, UM PATRIOTA E PAN-AFRICANISTA OU UM IMPULSIVO DITADOR?

  1. Gabú Sara
    Caro irmão, sobre este seu trabalho tenho as seguintes considerações:
    1-Este seu artigo de Opinião, tão extenso que é, parece (ou assemelha-se) mais um Trabalho de Pesquisa de Escola(Faculdade,etc);
    2-Para mim, é um autentico COPY PASTE! Não tem nada da sua opinião(!);
    3-Esta Opinião que o senhor copiou nos meios de Comunicação Ocidentais…são Opiniões feitas pelos inimigos da África! Feitas nos países que não querem ver o Desenvolvimento Africano! Porque uma África com SAVOIR FAIRE não lhes interessa Económica e Politicamente! Só uma África em Guerra lhes interessa para SAQUEAREM os RECURSOS NATURAIS do nosso Continente COMO QUEREM e ENTENDEM!
    Para terminar, aconselho o senhor, como jovem que é, a ler muito sobre a ESCRAVATURA,o IMPERIALISMO, o COLONIALISMO e o NEO-COLONIALISMO. Talvez assim, serás mais Africanista que PAUL KAGAMÉ!
    Bons Estudos!

    1. Muito obrigado, seu anonimo disfarçado em pseudônimo, conselho anotado. Muitos guineenses são incríveis mesmo!

      Apenas levantou as suas acusações, sem se importar em aprovar os seus fundamentos. Pelo menos, num debate acadêmico salutar e decente, assim que se faz.

      Talvez os seus conselhos de leituras enquadra perfeitamente para te, pois, pelos vistos lhe falta muitas informações de várias matérias. Abraços

    1. Pode precisar os factos que não são verdadeiros, e apresentar os factos verdadeiros que os contrariam? Senão seria uma mera refutação por conviniencia, não por facto.

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