Editorial: ENTRE INÉRCIA DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA E CUMPLICIDADE DO PRS

A caminho do terceiro ano, a crise política na Guiné-Bissau atinge proporções mais inquietantes. Toda sociedade reconhece a existência da crise e do seu impacto fatal em todos os setores. Perante os desastrosos contornos do impasse político traduzido em bloqueio institucional nunca visto neste país, o primeiro magistrado da Nação parece viver numa ilha isolada, longe da realidade que este mártir povo vem enfrentando. Perante um governo, que já entrou no seu décimo primeiro mês sem Programa e nem Orçamento, o Presidente tornou-se apóstolo de “labur di arus”, numa clara usurpação de competências constitucionais do Primeiro-Ministro e do ministro da Agricultura. Em menos de três anos, Jomav trocou o “capote”. Tornou-se um agricultor que nem tempo dispõe para pensar em soluções urgentes à cutilante crise política que dia após dia assola toda sociedade guineense. A sua atuação deixa muito a desejar.  
 
No meio do impasse político agudizado, o Chefe de Estado organiza “passeios” pelas regiões no âmbito de iniciativa Mon Na Lama, transformada agora em fundação. Nos seus discursos, transparece a sensação de um chefe de Estado que acredita numa visão simplista para os complexos problemas do país. Jomav acredita, corpo e alma, que lavrando arroz em grande quantidade, a Guiné-Bissau atingirá autossuficiência alimentar e abrirá a porta rumo ao desenvolvimento. Pura ilusão!  A porta da verdadeira emancipação de um povo começa na educação mediante um ensino de qualidade, que há décadas deixou de ser uma prioridade!
 
Associado a isso, o Presidente tem grande dificuldade em distinguir os limites entre funções presidenciais e negócios privados. A Constituição da República, no seu artigo 65 estipula claramente que o exercício das funções de Presidente da República são incompatíveis com quaisquer outras de natureza pública ou privada. Cerca de três anos no cargo, Jomav deveria estar em condições de evitar erros de palmatória. É inconcebível que um Presidente que se reclama em defensor dos interesses do povo, seja o primeiro a optar por negócios privados. A fundação Mon Na Lama é um negócio privado que o povo guineense desconhece os seus meandros, seus canais de financiamento.
É contrário à ética republicana quando o Presidente proclama, em diversas ocasiões que o trabalho é valor basilar para desenvolver a Guiné-Bissau e ao mesmo tempo coabita e mantém relações de negócios com indivíduos que nunca comungaram esse valor. É curioso e triste ouvir os contantes apelos do Presidente aos jovens a permanecerem em suas aldeias e dedicarem-se à agricultura. De que aldeias fala o senhor Presidente? A maioria das zonas rurais do nosso país continuam condenados no isolamento a todos os níveis, fechando a porta a mínima oportunidade que o mundo moderno proporciona. Quando é assim, o êxodo rural é impossível de se contornar. No século XXI cada ser humano quer descobrir a experiência urbana, mesmo que isso tenha elevados custos numa cidade longe de merecer esse nome.  
 
Além de ter uma visão rudimentar do desenvolvimento, O Presidente continua com a dificuldade em afastar-se de grupinhos e posicionar-se em defensor número um de uma agenda comum que possa sustentar uma solução política durável para o nosso país. O Presidente Jomav continua nutrir cálculos em torno da sua ambição para um segundo mandato e está disposto a sacrificar todo um povo para atingir esse fim. 
Perante tudo isso, é insuportável o silêncio do Partido da Renovação Social, o maior parceiro deste governo em crónica carência de legitimidade parlamentar. Silêncio total! A cumplicidade só pode explicar a tamanha inoperância de um partido político dirigido por filhos desta terra. Como pode o PRS continuar a sustentar um governo sem mecanismo de controlo às suas ações? Por quanto tempo, o PRS acomodar-se-á com a lógica de satisfação de interesses de um grupinho dentro do partido em detrimento da Guiné-Bissau? É o tempo de o PRS abandonar a lógica de cumplicidade e agir em prol dos interesses de todo povo guineense. Para isso, é urgente o PRS apresentar uma proposta alternativa que permita acabar com esta infeliz crise política que colocou todos dirigentes políticos desta terra numa lista de “autênticos incompetentes”. 
 
 
 
Por: Redação
 
 

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