MULHERES JORNALISTAS QUEBRAM O SILÊNCIO SOBRE O ASSÉDIO SEXUAL

As mulheres de comunicação social guineense quebraram o silêncio durante dois dias sobre o assédio sexual nos órgãos de comunicação e no terreno, em uma roda na casa dos direitos, assim como manifestaram as suas preocupações face à segurança dessa classe jornalística.

Podia-se notar a revolta na fala trémula e nos olhos das vítimas do assédio no local de trabalho, ao partilharem experiências do que tem sido e continua a ser tabu no seio dos comunicadores.

Na conversa com a repórter do jornal O Democrata, as vítimas  foram unânimes em assegurar que existe assédio sexual nos órgãos de comunicação na Guiné-Bissau, tendo defendido que  é necessário pôr fim a esta prática contra as mulheres.

As experiências revelaram que as vítimas são muitas vezes submetidas a estas situações para conseguirem um lugar de destaque nos seus órgãos ou para poder ter privilégio entre os funcionários.

As mesmas revelaram também que se tem registado com frequência o assédio sexual nos encontros jornalísticos no terreno.

“São estes, dentre outros tipos de assédio que acontecem, por exemplo o assédio moral e  psicológico” disse uma das nossas entrevistadas.

As denuncias foram  tornadas públicas na sessão do seminário promovido pelo Sindicato dos Jornalistas e Técnicos de Comunicação Social (SINJOTECS) sobre a Segurança das Mulheres Jornalistas e Igualdade de Género na Comunicação Social.

 O encontro de dois dias (24 e 25) de janeiro de 2022, que abordou a problemática da segurança das mulheres em exercício das suas funções, constituiu um dos elementos de preocupação das participantes.

As mulheres sublinharam que é preciso adotar estratégias para combater as violações dos direitos das jornalistas, em pleno exercício da sua profissão, o que NÃO tem acontecido na Guiné-Bissau.

Na abertura da sessão, a presidente do SINJOTECS, Indira Correia Baldé, disse que as mulheres de comunicação social não podem continuar a encobrir os problemas que as afetam, porque é preciso lutar pela emancipação das mulheres jornalistas para reduzir ou acabar com o assédio sexual nos locais de trabalho e lutar pela igualdade de oportunidades.

“Se continuarmos em silêncio com os nossos problemas, não estaremos a usar as ferramentas para que as mulheres jornalistas guineenses tenham melhores condições para fazer o seu trabalho”, exortou, para de seguida  frisar que “não é segredo para ninguém que as mulheres são assediadas nos seus locais de trabalho”.

Indira Correia Baldé afirmou que há um deficit no que diz respeito à igualdade de género nos órgãos de comunicação social, tendo defendido que é preciso fazer uma luta conjunta que deve incluir também os homens da imprensa.

Baldé disse esperar que o seminário possa dar força às mulheres para mudar o cenário das mulheres jornalistas,  porque é imperativo.

“Os homens devem estar incluídos nessa luta para que deixem de assediar as mulheres e para que a equidade do género nos órgãos de imprensa guineense seja sentida como uma realidade” disse.

Já no fecho da atividade no dia 25 de janeiro, a jornalista Ana Sá, que discursou em nome das participantes, enfatizou que as mulheres saíram da casa dos direitos munidas das ferramentas para fazer face ao assédio sexual e à discriminação   nos locais de trabalho.

Ana Sá disse esperar que haja mais seminários para permitir que as mulheres jornalistas conheçam os seus direitos e saibam tomar decisões perante situações que põem em causa a sua integridade e segurança.

O secretário-geral do SINJOTECS, Diamantino Domingos Lopes, disse que o sindicato pretende dar respostas e soluções aos problemas de assédio e segurança das mulheres jornalistas.

Defendeu a necessidade da criação de um espaço para identificação dos problemas com a finalidade de produzir uma proposta para dar resposta aos problemas que forem diagnosticados.

Domingos Lopes sublinhou que o seminário vai permitir que haja essa dinâmica e para que o documento possa ser posto em ação.

Lopes disse que as recomendações do seminário devem ter efeitos e resultados que visam capacitar as mulheres e homens, profissionais de comunicação social e gestores dos órgãos, para promover a igualdade e equidade de género.

Diamantido Domingos Lopes garantiu que o projeto terá um ciclo contínuo, porque “as mulheres estão perante uma situação rotineira, o que tem estado a acontecer a cada dia.

Sublinhou neste particular que tem a ver com a questão da mentalidade, uma luta que não será  fácil.

“Cada dia  surgem mais profissionais de comunicação e muito jovens que têm que passar por situações complexas durante a sua vida profissional. São situações que muitas vezes obrigam as pessoas a desistir cedo. Por exemplo, uma menina de 20 anos que inicia a profissão e se tiver que passar por situação dessa natureza e tiver que abandonar a profissão. Ela  não só terá a sequela psicológica como também a sua carreira será interrompida”, disse, frisando que é um mal que precisa ser erradicado com urgência.

Por: Djamila da Silva

Foto: D. S

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