Professor Abdou Jarju: “UNIÃO AFRICANA DEVE ASSUMIR A POSIÇÃO DE NEUTRALIDADE OU DE “GAGNANT-GAGNANT” FACE A RÚSSIA”

O Professor universitário e especialista em relações internacionais, Abdou Jarju, defendeu que a União Africana deve assumir uma posição de neutralidade ou de “gagnant-gagnant” face a Rússia e ao Ocidente, devido a pressões registadas de ambas as partes, particularmente da União Europeia e da Ucrânia que pedem à África que cesse a sua colaboração com a Rússia.

“Não estamos a mudar de chefe, mas a África deve defender primeiro os seus interesses. A posição do continente neste sentido deve ser de neutralidade ou de “gagnant-gagnant” e pensar nos seus interesses. É verdade que a África tem boas relações com a União Europeia, mas também é preciso frisar que a Rússia ajudou muitos países africanos na sua luta pela independência das mãos dos europeus ocidentais, portanto é chegada a hora de África começar a pensar na sua independência, de caminhar pelos próprios pés”, alertou o especialista em relações internacionais e também antigo Embaixador Plenipotenciário da República da Gâmbia para a Guiné-Bissau e Cabo Verde.

“ÁFRICA NÃO PODE ESPERAR AJUDA DE NINGUÉM. A ÁFRICA PRECISA DE SOLUÇÕES PRÓPRIAS PARA ERGUER-SE”

O professor universitário defendeu esta posição na entrevista ao semanário O Democrata para falar da celebração de mais um aniversário da criação da União Africana, que se assinala este ano sob o lema: “Preparando salto rumo ao Pan-africanismo Mundial: O Neocolonialismo deve ser desmantelado” e debruçar sobre as pressões exercidas sobre a África da parte da União Europeia, em relação a invasão da Rússia a Ucrânia, e ao pedido ao continente para cessar as suas relações com a Rússia.

Relativamente ao tema escolhido para a celebração do aniversário da criação da União Africana, disse que o tema escolhido é ambicioso, mas não reflete a realidade vivida no continente, que na sua opinião, continua sob a dependência do ocidente, particularmente da União Europeia.

“Continua(mos) a registar ingerências do ocidente no nosso continente. O facto de ainda estarmos sem a independência económica e de registarmos todos os dias, países africanos a desestabilizarem-se mutuamente. A criação da União Africana era um sonho muito ambicioso que se baseava na promoção da integração e da solidariedade entre os países africanos, mas atualmente não se regista essa solidariedade e o mais caricato é ver países africanos a serem usados pelo ocidente para destabilizar outros é o que está a acontecer no Mali”, notou.

Lembrou que na semana passada o atual ministro russo dos negócios estrangeiros numa conferência de imprensa conjunta com o seu homologo maliano, explicou que foi confrontado pelos seus homólogos da França e pela representante da União Europeia nas Nações Unidas, que lhe terão dito que a Rússia deveria retirar-se do continente africano, “porque a África está sob a responsabilidade da União Europeia e particularmente da França, como também a África é a zona de influência ou de interesse da Europa”.

Assegurou que o continente africano precisa encontrar o seu próprio caminho e ser livre a nível político, económico e encontrar soluções próprias, tendo acrescentado que a “África não pode esperar ajuda de ninguém. A África precisa de soluções próprias para erguer-se”.

“Enquanto o orçamento das nossas organizações sub-regionais e regionais são dependentes de organizações ocidentais, demostra que nós não podemos alcançar os objetivos de pensar com as nossas próprias cabeças e andar com os nossos próprios pés”, lamentou.

Questionado se as ações de ativistas pan-africanistas contra a ingerência do ocidente ou da França no continente são capazes de influenciar ou mudar alguma coisa na relação entre Ocidente e a África, respondeu que sim é possível, contudo admitiu que pode demorar, mas é bom levar em conta as ações de ativistas africanos na sua luta contra a política “France-Afrique”.

“Os ativistas pan-africanistas estão a ter um grande impacto a nível internacional, porque na semana passada, um jornal muito lido na França publicou um artigo sobre os três ativistas africanos que têm milhares de seguidores nas redes sociais, nomeadamente dois camaroneses e um maliano, considerados maiores influenciadores de opiniões no continente. O jornal alega no seu artigo que esses ativistas estão a influenciar os africanos para um sentimento antifrancês, mas os ativistas afirmaram sempre que não estavam contra a França, mas sim contra a política da França para a África”, contou.    

Sobre a viagem do Presidente do Senegal e Presidente em exercício da União Africana, Macky Sall, à Rússia e Ucrânia, assegurou que o presidente da União Africana deve levar uma mensagem da paz e de negociação, porque tudo acaba sempre através do diálogo.

Em relação ao fenómeno do terrorismo e da emigração clandestina e da pobreza que assola o continente, Abdou Jarju disse que a África precisa de unir-se para desencadear uma luta contra estes fenómenos.

Por: Assana Sambú

Foto: A.S

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