LAGOA DE CUFADA PODE DESAPARECER COMO SITE DE RAMSAR NA GUINÉ-BISSAU

[REPORTAGEM Outubro_2021] O Parque Natural de Lagoa de Cufada, considerado o paraíso de repouso das aves migratórias a nível mundial, precisa de manutenção urgente, pois poderá desaparecer daqui a 20 anos. As ervas estão a cobrir, de uma forma rápida, a sua superfície e a consumir grande parte da lagoa de Cufada. O que poderá fazer desaparecer toda a riqueza da fauna que existe na Lagoa, se não for feita uma manutenção adequada.

Os ambientalistas entrevistados pelo jornal O Democrata (outubro de 2021) garantem que o canal da ligação direta da lagoa de Cufada ao Rio Corubal e que permite albergar as diferentes espécies da fauna de grande porte a viver na Lagoa já não se encontra em boas condições para permitir que os hipopótamos, os manatins (vulgo peixe-bus), os crocodilos negros, os antílopes, os cefalópodes, os búfalos, as hienas, os gansos de Gâmbia, as calaus da crista amarela residirem na lagoa.

Defendem que é necessário e urgente o governo requisitar uma máquina de dragagem para a limpeza da Lagoa de Cufada. Os ambientalistas não têm dúvidas que se o governo da Guiné-Bissau não reagir rápido e em consonância com as necessidades ambientais, o Parque da Lagoa poderá desaparecer daqui a 20 anos. 

Localizada entre os dois grandes rios, rio Corubal e rio grande de Buba, a Lagoa de Cufada é a maior reserva de água doce do país, que abastece as fontes das regiões de Tombali e de Bolama Bijagós. Para além da ameaça de o Parque desaparecer e o que representa às aves e às outras espécies que vivem no parque, os ambientalistas da Guiné-Bissau  mostram-se também preocupados com o estado de degradação da maior reserva de água doce da Costa Ocidental da África.

Dados estatísticos avançados pelos ambientalistas indicam que a Lagoa de Cufada foi classificada em 1990 como Sites de Ramsar de importância internacional por albergar dois por cento da população mundial de espécies de pelicanos e mais de 20 mil espécies de indivíduos (a população da fauna) que vive no Parque. 

Em 2000, por exemplo, o Instituto da Biodiversidade das Áreas Protegidas (IBAP), através de um decreto do governo, reconheceu a Lagoa de Cufada como uma das maiores áreas da reserva das espécies nacionais e internacionais. É uma zona com mais de 90 hectares, dos quais 20 são navegáveis e 70 por cento está a ser neste momento consumido pelas ervas, devido à falta da sua manutenção ambiental. 

Perante estes fatos, homens ligados ao ambiente lamentam a falta de intervenção das autoridades no concernente à manutenção da Lagoa de Cufada.

A maior reserva da água doce é constituída por três lagoas: Bedasse, Biona e Cufada. As duas primeiras já estão completamente cobertas de ervas marinhas, o que, na opinião dos ambientalistas, obrigou a fuga de algumas espécies que ali  viviam. 

LAGOS DE BIONA E BEDASSE TOTALMENTE ABANDONADAS À SUA SORTE

A lagoa de  Biona possui oito hectares e Bedasse três hectares, estão hoje totalmente abandonadas à sua sorte pelos sucessivos governos, uma situação qualificada pelos ambientalistas  como triste. Os ambientalistas nacionais foram unânimes em afirmar que se os próximos governantes não fizerem nada o país perderá o maior lençol freático.

“Qualquer pessoa que visitar hoje a Lagoa de Cufada pode constatar o avanço considerável das ervas no Parque”, sublinha um dos ambientalistas entrevistado pela equipa de O Democrata no local. Esta situação fez com que os ambientalistas temam que daqui a 20 anos, o maior lençol freático da água doce na Guiné-Bissau possa desaparecer. 

Os ambientalistas nacionais  mostraram-se preocupados com a falta de conservação  e proteção da Lagoa de Cufada, porquanto “continua a haver cortes abusivos de árvores com consequências ambientais devastadoras para o Parque”.

Em relação à degradação do parque da Lagoa de Cufada, os ambientalistas não comungam a mesma opinião. Alguns apontam como a maior causa os cortes abusivos de árvores no Parque, o que poderá provocar  problemas de alteração climática, outros dizem que a  areia arrastada pelas chuvas para a Lagoa é que cria as condições para o aparecimento das ervas que estão a invadir o Parque.

Em declarações à nossa reportagem, o ambientalista e guia do Parque, Braima Djaló, assegurou  que nos anos anteriores  não havia ervas no Parque como se nota hoje.

“Mas devido à falta de manutenção e de cuidados com o maior lençol freático do país, nasceram muitas ervas que diariamente tendem a crescer mais”, sublinhou, para de seguida esclarecer que a sustentabilidade do Parque depende apenas das águas das chuvas. 

“Quando a Lagoa está cheia,  a água escoa através de um canal para o Rio Corubal, que é também a porta de entrada das diferentes espécies da fauna, dentre os quais se destacam os hipopótamos e os manatins”, indicou.  Lamentou que o canal esteja hoje a  bloquear a entrada destas espécies, por causa da invasão de ervas que estão  a crescer progressivamente no interior do Parque.

“Seria até aceitável, se fosse a uma distância de oito quilómetros do Parque”, sugeriu.

 O Guia do Parque diz não ter dúvidas que,  se o canal for muito bem tratado e desinfetado, as espécies que neste momento estão a viver perto do rio Corubal, poderão regressar à Lagoa. 

“Não obstante ter sido classificada como um site de Ramsar internacional, o governo da Guiné-Bissau deve também criar as condições necessárias para conservação da Lagoa de Cufada”, defendeu e disse que não deve ficar apenas à espera de ajudas pontuais das organizações internacionais, porque o Parque está no território da Guiné-Bissau e é da inteira responsabilidade do governo cuidar dele. 

Braima Djaló  informou que vivem no interior do Parque  89 mil pessoas cujas atividades de sobrevivência são a caça, a pesca e a agricultura, mas “infelizmente tem havido um aumento progressivo de campos agrícolas cada vez mais próximos da Lagoa de Cufada”.

Na opinião de Braima Djaló, é preciso desenvolver projetos capazes de travar este fenómeno, que ameaça o ambiente ao redor do Parque e criar as  condições necessárias para poder compensar a população local cujas atividades agrícolas seriam afetadas. No entendimento  do técnico do Parque da Lagoa de Cufada, é necessário o governo estabelecer, na zona do Parque, um projeto de criação de animais para satisfazer as necessidades dos caçadores, podendo assim reduzir a caça em todo o território do Parque.

Para Braima Djaló, cuidar do Parque é o sinónimo de garantir emprego aos jovens guineenses que residem no seu território, porque os territórios com espécies de população e fauna, como as da lagoa de Cufada, recebem muitos apoios das organizações internacionais que trabalham no setor do meio ambiente e que protegem esse tipo de ambientes naturais. 

“Se isso acontecer, o Parque terá mais jovens a trabalhar nele”, disse. O guia do Parque da Lagoa de Cufada desdramatiza à nossa reportagem dizendo que a construção da central elétrica de Buba não constituirá grande ameaça para a Lagoa de Cufada, desde que esteja bem longe do território do Parque, a uma distância mínima de dez quilómetros.  

Atualmente quem visita a Lagoa de Cufada compreende claramente que a campanha de comercialização da  castanha de cajú está cada vez mais a mobilizar atenção da maioria da população camponesa que vive no território do Parque. Por ter optado pela plantação de pomares de cajú , a população que vive no Parque está cada vez mais a contribuir para a ameaça ambiental, uma vez que se tem intensificado a problemática de corte abusivo de árvores no Parque, o que constitui uma constante ameaça à Lagoa de Cufada, porque “uma das suas sustentabilidades ambiental advém da floresta”. 

Para a proteção do seu território ambiental, o Parque Nacional da Lagoa de Cufada possui sete guardas, um éco-guia, um diretor logístico, um marinheiro e tem três Caiaques de três lugares para o passeio dos visitantes. No interior do Parque, existem 36 tabancas onde vivem cerca de 90 mil habitantes cuja sua atividade de sobrevivência se resume à pesca, à caça e à agricultura.

 Por: António Nhaga / Djamila da Silva

Author: O DEMOCRATA

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