Atividades de pesca: GOVERNO INSTITUI PERÍODO DE REPOUSO BIOLÓGICO

O governo da Guiné-Bissau anunciou esta quarta-feira, 22 de dezembro de 2021, um período de repouso biológico  e de pausa na atividade de pesca que deverá decorrer de 1 a 31 de janeiro de 2022.

É a primeira vez  na história do país que o período de repouso biológico na atividade de pesca é implementado na Guiné-Bissau.

Para garantir o cumprimento das medidas que serão estabelecidas e a implementação do período de repouso biológico,   Mário Fambé assegurou que  o patrulhamento será reforçado, com três navios de grande porte que vão até 200 milhas e três de dimensão média além de várias outras pequenas embarcações. O trabalho de patrulhamento contará com entidades como Estado-Maior General das Forças Armadas, através da Marinha da Guerra Nacional, e outras instituições estatais.      

“Quem for apanhado a desrespeitar esta decisão,  ser-lhe-á aplicada imediatamente  uma multa a dobrar sem a mínima piedade, conforme  está na Lei Geral de Pesca”, avisou, anunciando que uma equipa de monitoramento já está de prontidão 24/24 horas e a acompanhar os trabalhos de  implementação do período de repouso biológico, acompanhados de “ampla campanha” de difusão  e sensibilização  para disponibilizar à opinião pública  toda informação actualizada.

 O ministro das pescas enfatizou  o papel que o Centro de Investigação Pesqueira Aplicada (CIPA) teve quanto ao acolhimento científico para a implementação  do período de repouso biológico e o papel do Serviço Nacional da Fiscalização das Atividades de Pesca pelo seu papel no combate, sem tréguas,   a pesca “INN”, uma missão de alto risco, de combate, “a única forma  de garantir a perenidade dos nossos recursos pesqueiros”.

No seu discurso, Mário Fambé, ministro das Pescas, enfatizou que  a data de  1 a 31 de janeiro “ficará gravada na memória  de todos os guineenses” como um marco importante  na preservação  e conservação dos recursos  pesqueiros “ nas nossas águas territoriais”- a pesca na Zona Económica Exclusiva  da Guiné-Bissau estará completamente interditada.

“Trata-se, com certeza,  de uma decisão corajosa e necessária, uma vez que os dados  científicos  confirmam  que a biomassa de espécies comercialmente importantes sofreu declínio e recomendaram vivamente  a implementação de um período de repouso biológico”, sublinhou, referindo que a Guiné-Bissau, enquanto um país costeiro rico em biodiversidade marinha, não podia ficar  indiferente aos outros países da sub-região  onde o período de repouso foi implementado, por diversas vezes.

“Outrossim, a lei geral  da pesca  em vigor consagra como uma das principais  obrigações  do Estado assegurar  a implementação  das medidas de preservação  e gestão sustentável  dos recursos biológicos  aquáticos  e do ambiente marinho  e aquático, bem como  de prevenção  de perigos  para renovação  sustentável  dos recursos”, assinalou.

De acordo com o ministro das pescas,  fechar o mar para a regeneração  dos recursos  aquáticos  destina-se prioritariamente  a promover  a sua reconstrução  biológica, como forma de garantir  a continuidade “ da nossa condição pesqueira para evitar  eventual catástrofe  do esgotamento de espécies  marinhas  comercializáveis  nas nossas águas territoriais”.


ARMADORES NACIONAIS EXIGEM DA UE ABERTURA PARA  ACESSO AO MERCADO EUROPEU

O presidente da Associação de Armadores Nacionais e Industriais da Pesca, Beto Pinto Pereira, aconselhou  o governo  a fechar as negociações com a União Europeia (UE), se esta continuar a não dar abertura para que o pescado nacional seja exportado para o mercado europeu.

“Exigimos da UE licença para exportarmos o nosso pescado para o mercado europeu, porque é  o mercado mais apetecível e pode ajudar o país a ter mais ganhos. Se isto não acontecer, não adianta estarmos  a assinar acordos de pesca que não trazem ganhos para o país”, criticou.

O presidente da Associação de Armadores Nacionais e Industriais da Pesca disse que a pesca não regulamentada, a pesca ilegal, é um assunto que deve merecer a preocupação do governo guineense e a responsabilidade de todos os governos da sub-região que, em solidariedade e em cooperação entre Estados, devem trabalhar para controlar essa situação.

Beto Pinto Pereira apontou que um dos desafios do Estado da Guiné-Bissau é garantir uma produção para satisfazer permanentemente o mercado  local, accionar mecanismos que garantam que o país tenha dados fiáveis do pescado que o navios estrangeiros pescam nas águas territoriais da Guiné-Bissau e começar a fazer descarga “ obrigatoriamente”  de toda produção de peixe  nos portos nacionais.

Beto Pinto Pereira defendeu que o país deve ter uma agenda clara e definir as estratégias necessárias e ter uma frota nacional de pesca, porque “ não é impossível, hoje dia, ter domínio do nosso mar com  navios de pesca próprios da Guiné-Bissau, como a única forma de controlar as licenças de pesca emitidas e as espécies  capturadas  ”.

“O mercado está tão acessível a concessão a diversos tipos de créditos que podem permitir ao país adquirir os seus próprios barcos e definir políticas claras para a gestão dos nossos recursos. Porque essas políticas podem permitir que o país tenha dados estatísticos  que podem levá-lo a discutir  programas como o de repouso biológico para permitir que os peixes se desenvolvam”, frisou para de seguida assinalar que deve haver relação de confiança entre o Estado e o Setor Privado.

“As associações nacionais de pesca e as associações de armadores  nacionais  da Guiné-Bissau têm  pistas  concretas da situação da pesca, mas o governo deve ter coragem de vir trabalhar com essas organizações e procurar meios para  financiá-las”, indicou.

Relativamente ao programa, disse que o período de repouso biológico foi estabelecido porque neste momento há um número significativo de barcos a pescar nas águas nacionais  e o esforço de pesca é muito elevado, porque “temos muitos navios  a pescar, mas se conseguirmos controlar os barcos que estão a pescar, teremos domínio sobre a gestão do nosso mar e garantir que não cheguemos à fase de exploração, capturando peixes pequenos”.

“Temos que definir políticas e o período de repouso é uma das políticas, um programa histórico, que o ministro das penas e a sua equipa tiveram coragem de lançar como um desafio,  resta agora esperarmos os resultados”, referiu.

Criticou a forma como as licenças de pesca  são atribuídas, fato que disse ter provocado muita pressão sobre o pescado nacional  derivado do número elevado  de barcos que pescam nas águas do país de forma descontrolada, capturando peixes pequenos.

Perante estes fatos, aconselhou o ministério das pescas a regulamentar a emissão de licenças de pesca em função do número de navios por  espécie a pescar.  

Por: Filomeno Sambú

Foto: F.S 

Author: O DEMOCRATA

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