Pelé morreu esta quinta-feira aos 82 anos. O antigo internacional brasileiro estava internado há um mês e o seu estado de saúde tinha-se agravado nas últimas semanas, o que levou a família a passar esta quadra junto do pai no hospital.
O Rei do futebol sofria há anos de um cancro no cólon e estava internado no Hospital Albert Einstein, em São Paulo. A notícia foi avançada pela AP, citando o agente, e depois confirmada pela filha nas redes sociais.
A família ainda não divulgou detalhes sobre o velório, mas uma estrutura já foi montada na Vila Belmiro nos últimos dias para receber a vigília. O funeral vai realizar-se em Santos.
Pelé passou por uma cirurgia em setembro de 2021 e desde então vinha sendo submetido a repetidas sessões de quimioterapia. No início de 2022, foram detetadas metástases no intestino, no pulmão e no fígado. Esta quinta-feira chegou a triste notícia da sua morte.
A 8 de março de 1958, os leitores da revista brasileira Manchete Esportiva tiveram o privilégio de ler o futuro em primeira mão, como se um vidente lhes oferecesse o número do próximo bilhete premiado na grande lotaria. Assinada por um dos nomes maiores da escrita brasileira do século XX, o jornalista-escritor-dramaturgo-génio das letras e das crónicas sociais Nélson Rodrigues, rezava assim a crónica sobre um jogo entre América do Rio de Janeiro e Santos, ocorrido dias antes:
“Examino a ficha de Pelé e tomo um susto: dezassete anos! Há certas idades que são aberrantes, inverosímeis. Uma delas é a de Pelé. Eu, com mais de quarenta, custo a crer que alguém possa ter dezassete anos, jamais. Pois bem: verdadeiro garoto, o meu personagem anda em campo com uma dessas autoridades irresistíveis e fatais. Dir-se-ia um rei, não sei se Lear, se imperador Jones, se etíope. Racialmente perfeito, do seu peito parecem pender mantos invisíveis. Em suma: ponham-no em qualquer rancho e a sua majestade dinástica há de ofuscar toda a corte em derredor. O que nós chamamos de realeza é, acima de tudo, um estado de alma. E Pelé leva sobre os demais jogadores uma vantagem considerável: – a de se sentir rei, da cabeça aos pés.”
O Rei. Ainda antes de o mundo se render a seus pés ou sequer saber verdadeiramente quem era esse tal de Pelé, já Nélson Rodrigues lhe tirara as medidas. Dizem que os grandes se reconhecem uns aos outros, não é? Pois então não podia deixar de ser assim. E o jornalista cunhou-lhe o destino que o mundo inteiro haveria de comprovar logo depois. O Rei Pelé, nascido Edson Arantes do Nascimento no dia 21 de outubro de 1940 na cidade de Três Corações (Minas Gerais), morreu este dia 29 de dezembro, aos 82 anos, com a imortalidade garantida pela memória coletiva que o elegeu como o melhor futebolista do século XX, o primeiro grande ícone global produzido nos relvados.
Para a história ficam marcas eternas como os (polémicos) 1283 golos marcados enquanto profissional de futebol, os três títulos mundiais, o primeiro com apenas 17 anos, ou, por exemplo, os 58 golos que apontou numa só edição do campeonato paulista com a camisola do Santos, coisas que mais nenhum jogador conseguiu até hoje.
Mas Pelé foi muito mais do que uma soma de números e recordes incríveis. Foi, durante o seu tempo, o sinónimo mais perfeito de futebol. Recorrendo a outro famoso jornalista brasileiro de então, Armando Nogueira, “se Pelé não tivesse nascido homem teria nascido bola”. Num tempo sem internet nem redes sociais, e em que o futebol ainda só aparecia de vez em quando nas televisões a preto e branco, foi o grande embaixador do jogo pelo mundo, a quem até as elitistas Nova Iorque e Hollywood (LA) se renderam.
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