Simpósio internacional: MOHAMMED VI EXORTA PARTICIPANTES A REFLETIREM SOBRE AS REGRAS DA “FATWA” NO ESPAÇO AFRICANO

O Rei Mohammed VI de Marrocos exortou este sábado, 08 de julho de 2023, os ulemas (sábios) a refletirem seriamente sobre os temas das regras da Fatwa (instrumento de jurisprudência islâmica) no espaço africano, sobretudo no concernente à definição do quadro referencial da noção de Fatwa e analisarem o problema das divergências doutrinárias.

Mohammed VI fez essa exortação através de uma mensagem lida na voz do ministro de Assuntos Islâmicos, Ahmed Toufiq, durante a abertura do simpósio científico internacional sobre a regulamentação da Fatwa islâmica no contexto africano, sob o lema “Regras legais da Fatwa no contexto africano”, que decorre de 8 a 10 do mês em curso na cidade turística de Marraquexe, no reino de Marrocos.

O simpósio internacional, que reúne sábios de cerca de 50 países africanos, é organizado pela Fundação Mohammed VI dos Ulemas Africanos. A Fundação está implementada em 34 países africanos, dos quais, três lusófonos, a Guiné-Bissau, Angola e São Tomé e Príncipe.

Para além da presença dos sábios africanos, o evento contou igualmente com a presença de sábios e professores universitários europeus e da Palestina. A delegação da Guiné-Bissau conta com cinco membros e todos são elementos da estrutura nacional da Fundação, dirigida pelo Mestre Mamadu Uri Baldé. 

O objetivo do simpósio é procurar a forma de introduzir a ciência da emissão de Fatwa e sua relação com as decisões da Sharia (lei islâmica), enfatizar a importância da Fatwa nas sociedades árabes e africanas, orientação sobre formas de proteção a Fatwa religiosa da ideologia terrorista, bem como chamar a responsabilidade dos “Muftis – conhecedores profundos do islão, tradução livre” na refutação de alegações de extremismo e tendências fanáticas.

A Fundação Mohammed VI dos Ulemas Africanos, criada em junho de 2015, tem como objetivo promover um Islão moderado e tolerante, bem como ajudar a preservar e perpetuar os laços seculares e unir os religiosos africanos.

Perante a ameaça do extremismo religioso pregado por grupos radicais como Boko Haram e Al Qaeda do Magrebe, a fundação surgiu como um vetor do Islão tolerante, cuja a prioridade é dar a conhecer a imagem real da religião tolerante do islão e promover os seus valores de moderação, tolerância e vontade de convivência.

MOHAMMED VI APELA AOS ULEMAS A OPOREM-SE AO OBSCURANTISMO E EXTREMISMO QUE ABUSAM DE ALMAS CÂNDIDAS

Na apresentação da mensagem do Rei Mohammed VI aos participantes na abertura dos trabalhos do simpósio, o ministro marroquino dos assuntos islâmicos, Ahmed Toufiq, disse que é um orgulho para o reino reunir os sábios para discutir o lugar da Fatwa nas disposições da Sharia e o seu papel no desenvolvimento de respostas às novas questões, acrescentando que “o assunto está próximo dos nossos corações, desde que assumamos a responsabilidade de proteger o dogma religioso do extremismo, ideologias de confinamento e doutrinas divisivas”.

“A nossa primeira preocupação, ao criar a Fundação Mohammed VI dos Ulema Africanos, é que ela sirva de repositório para o património que foi ricamente forjado ao longo dos séculos e que sucessivas gerações de virtuosos antepassados nos legaram como legado do estabelecimento de vínculos sólidos e multidimensionais entre o Reino de Marrocos e os países da África subsaariana”, lembrou o rei na sua mensagem.

Dirigindo-se aos sábios (ulemás), disse que sempre foi confiada uma nobre missão que agora ganha em sensibilidade e complexidade, tendo assegurado que os ulemás são responsáveis perante Deus, pelo cumprimento desta responsabilidade titânica, como também perante os seus correligionários que neles vêem a referência fidedigna com o encargo de transmitir fielmente a Mensagem de Deus, de ponderar criteriosamente as situações e assuntos da vida quotidiana à luz dos propósitos da religião.

Advertiu que os ulemás devem ter uma presença benéfica na vida das pessoas, iniciando-as nas virtudes da moderação e do meio-termo e opondo-se aos obscurantistas e extremistas de todas as matrizes que se esforçam para abusar das almas cândidas.

No que diz respeito à capacidade de harmonizar as realidades existentes com a norma religiosa, o Rei explicou na sua mensagem que os sábios marroquinos são exemplos a seguir nesta matéria porque em termos da doutrina, consagraram uma prática milenar inspirada no que se convencionou chamar de “as práticas vigentes” e que consiste em levar em conta os melhores costumes culturais da comunidade.

Afirmou, neste particular que cabe aos Ulemas africanos responsáveis pela emissão de fatwas desenvolver mais habilidades e se engajarem em trocas, particularmente em torno da jurisprudência da realidade. Contudo, alertou que os Ulemas são obrigados a registar os resultados das suas pesquisas nos diversos meios eletrônicos disponíveis, no entendimento de interesse de todos e para melhor nivelamento dos autores das fatwas.

BALDÉ: “RESULTADOS DO SIMPÓSIO SERÃO TRANSMITIDOS AOS IMAMES E SÁBIOS GUINEENSES”

O presidente da Fundação Mohammed VI de Ulemas Africanos na Guiné-Bissau, Mamadu Uri Baldé, disse na sua declaração ao O Democrata que os resultados saídos deste encontro vão regulamentar as normas islâmicas (Fatwa) a nível dos países membros da fundação presentes no evento, razão pela qual a representação local se engajará em transmiti-los às  organizações islâmicas nacionais.

“Fatwa é um instrumento jurídico, por exemplo, tipo acórdão do supremo tribunal, por causa das suas implicações e importância. Os sábios africanos estão reunidos aqui para debater amplamente o assunto e encontrar o seu enquadramento no contexto africano, baseado nas normas de Sharia”, explicou.

Baldé disse ainda que os resultados saídos deste encontro serão transmitidos aos imames e sábios guineenses através de uma conferência que a estrutura realizará em Bissau, de forma a debater largamente o assunto e a sua adoção na Guiné-Bissau.

Assegurou que a adoção da Fatwa vai unir as diferentes sensibilidades da comunidade muçulmana que nos últimos tempos  se têm divergido não só sobre assuntos da reza, com também em outros debates religiosos que são precisos abrir para criar uma iniciativa séria para unir toda a comunidade e analisar os diferentes assuntos que causam divergências, procurar soluções possíveis para saná-los de vez e encontrar um ponto de convergência comum.

Por: Assana Sambú

Enviado especial 

Author: O DEMOCRATA

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