Homenagear Amilcar Cabral é reconhecê-lo como figura gigante da história, promover a sua imortalidade através de obras, iniciativas assentes na valorização efectiva do Homem, independentemente do seu estatuto social, da sua crença, origem ou grupo.
Homenagear Cabral é defender o ensino do seu pensamento. através de transmissão de conhecimentos, valores num sistema de ensino de qualidade, livre e inclusivo na Guiné-Bissau e a disseminação dos mesmos além fronteiras.
Homenagear Cabral é celebrâ-lo enquanto património universal e reivindicar o seu legado nos sucessos e nas vitórias de hoje contra miséria, mortalidade materno e infantil, contra a analfabetismo, a dominação, a violência.
Celebrar a figura de Cabral, o distinto Engenheiro Agrónomo e arquitecto ideológico dos movimentos anti-imperislistas em África e não só, é revisitar a sua visão sem fanatismo nem complexos num mundo em mutações.
Homenagear Cabral é refutar o djitu ka ten. É convocar cada guineense a um “sintadu” di korda ku m’laba sintidu” sobre o desvio do projeto independentista, o parto prematuro do sonho de alavancar uma nação plural e imortal onde haja pão para todos. Nesse “rendez-vous” de introspecção, não faltarão questionamentos:
Como explicar a ausência de visão neste país para com o pulmão da economia do nosso povo, isto é Agricultura? Como justificar o conformismo do guineense em consumir essencialmente cereais e outros produtos importados? Consumir um prato de esparguete com maionese ao invés de um cuscus de milho com sumo di fole, di limon ou di fole, de manhã?
Como aceitar que mais da metade de guineenses enfrenta a fome e pior ainda chegar ao ponto de se normalizar a fome a penúria, o sofrimento a todos os níveis?
Se a dimensão académica de Amilcar Cabral é inquestionável e universalmente reconhecida, como entender o assassínio do sistema do ensino no seu solo pátrio? A ausência da política de infraestruturação do sistema educativo, da infância à universidade, passando por liceus? Nenhum colégio, nem instituto politécnico, nenhuma universidade digna do seu nome?
Quem imaginou que na pátria de Amilcar Cabral, a segunda figura mais marcante da história contemporânea, o ensino seria aquilo que os meninos das bancadas apelidam de kolos kolos,? Quem viu essa desgraça vir e acontecer na pátria outrora dos homens bravos e mulheres dignas? Quem viu e não gritou bem alto? Quem sonhou e não alertou pelo colapso? Quem viu e não contou? Quem?
Homenagear Amilcar Lopes Cabral é voltar às raízes que fundam o nosso orgulho colectivo enquanto povo. Homenagear Cabral é reinventar o “Nós” para reconstruir o nó unitário que ontem servira de base da luta pela emancipação, pela soberania e pela honra?
Homenagear Amílcar é ressuscitar o altruísmo, o “pensar grande” dentro de cada guineense, dentro de cada moransa.Homenagear Cabral é sobretudo sacudir o conformismo alicerçado no djitu ka ten, abo ki na kumpu Guiné, arrasgar a loucura de busca de felicidade individual no pântano da miséria conectiva.Homenagear Cabral é quebrar o muro de divisionismo e complexps, combater “amontondadi” e celebrar o trabalho, a honestidade enquanto valores supremos.
Homenagear Cabral é resgatar o sentimento de grandeza e de liberdade de ser guineense e defender o guineense dentro e fora da sua pátria! É sobretudo o dever de pôr a República acima de tudo e todos.
Homenagear Cabral é reivindicar incessantemente a nossa identidade cultural, defender a disciplina e a submissão às leis da colectividade, quiçá da República!
Homenagear Cabral, para além de discursos!
Por: Armando Lona
Bissau, 2 de Setembro de 2024