O ex-primeiro ministro da Guiné-Bissau, Aristides Gomes, a residir em França com o estatuto de exilado político, defendeu que uma das medidas que a Conferência de chefes de Estado e de Governo da CEDEAO – Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental – deve adotar contra as autoridades do golpe de estado militar é o “congelamento” da conta do Tesouro da Guiné-Bissau junto da União Económica e Monetária de África Ocidental, UEMOA.
“É normal. É um país que faz parte de uma estrutura económica e financeira que tem uma moeda única e faz parte da CEDEAO. Então, a partir do momento em que um Estado membro viola as regras tem que esperar medidas como o bloqueio da sua conta. Portanto, seria normal uma sanção, por exemplo, consistindo no bloqueio da conta do tesouro público na UEMOA”, afirmou Aristide Gomes em entrevista, esta terça-feira, 02 de dezembro, à Rádio Nacional de Cabo Verde, a partir de França.
O alto dirigente do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), que deixou o país antes do fim do último congresso do partido realizado em 2022, em Gardete, secção de Cumura, setor de Prabis, região de Biombo, por perseguição política pelas então autoridades depostas pelo golpe militar de 26 de novembro, afastou qualquer cenário de um afastamento da Guiné-Bissau da CEDEAO, à semelhança do Mali, do Burkina Faso e do Níger que, hoje, constituem a Aliança dos Estados do Sahel.
Aristides Gomes afirmou que a Guiné-Bissau não apresenta neste momento sequer condições objetivas nem subjetivas, porque não haverá apoio nenhum da população à uma “Junta Militar”, que interveio como “um agente estranho” face à tranquilidade que existe na sociedade guineense.
O ex-primeiro-ministro, exilado agora em França, admitiu que existem problemas na sociedade guineense, relativamente aos problemas de desenvolvimento, das dificuldades que o povo enfrenta e da pobreza que está a aumentar a cada dia, mas não se comparam aos problemas que existem no Mali e no Níger que estão a lidar com o terrorismo que interveio com um fator exógeno, que conseguiu agravar e penetrar nos tecidos sociais destes países.
“Neste países, sim, ainda se pode encontrar gente quem, talvez, pudesse apoiar os militares, a partir do momento em que os próprios militares consigam, enfim, resolver parcial ou totalmente o problema do país. Na Guiné-Bissau não existe esse fator de legitimação de uma junta militar, não”, refutou.
ARISTIDES GOMES: “CEDEAO DEVE DEFENDER O RESTABELECIMENTO DA SUA PRÓPRIA HONRA NA CIMEIRA”
Aristides Gomes afirmou que a preocupação dos chefes de Estado e de Governo da CEDEAO, que vão participar na próxima cimeira da organização sub-regional a partir do dia 14 para analisar a situação na Guiné-Bissau e as implicações do golpe de Estado deve ser, à partida, defender o restabelecimento da sua própria honra, indicou o antigo primeiro-ministro do país e a conclusão do processo eleitoral que aguardava apenas a divulgação dos resultados pela CNE- Comissão Nacional de Eleições.
O Sociólogo guineense e professor universitário insistiu na necessidade de os líderes da CEDEAO defenderem a carta desta organização, alertando que se a crise que se vive na Guiné-Bissau não for resolvida, amanhã poderá acontecer a mesma coisa “ no Senegal, na Serra Leoa, na Libéria e em Cabo Verde.
“Não podemos continuar a ter uma organização dessa com essa carta, se de fato deixarmos uma jurisprudência alastrar-se para ou outros casos que poderão resultar desta situação. Se se interrompe a proclamação dos resultados eleitorais, hoje, na Guiné-Bissau, quem pode garantir que não vai ocorrer a mesmíssima coisa, amanhã ou mais tarde, na Libéria ou na Serra Leoa”, indicou.
A acontecer, disse Aristides Gomes, a partir desse momento morre, destes países, a democracia, a liberdade e os direitos das populações a terem as instituições estatais legítimas.
Por: Filomeno Sambú



















