Reportagem: FUNCIONÁRIOS DA ENERGIA NA PROVÍNCIA LESTE JA  LEVAM 100 MESES SEM SALÁRIOS

Os funcionários da delegâcia energética da província Leste do país, regiões de Bafatá e Gabú, já vão para além de 100 meses de salários em atraso. Ao todo são mais de 70 homens, todos com estatutos de contratados e recebem com base nos rendimentos dos respectivos centros de fornecimento da electricidade.

Actualmente, para não deixar os funcionários em causa numa miséria total, os responsáveis dos centros de fornecimento da energia eléctrica decidiram mobilizar parceiros para retomarem o normal funcionamento dos centros energéticos das duas regiões.

No caso de Bafatá, os representantes da delegâcia local decidiram estipular o preço mínimo de 25.000 francos CFA para quem pretende beneficiar da energia eléctrica, uma das taxas mais caras em todo país.Os citadinos de Bafatá já manifestaram as suas indignações relativamente a este preço praticado pela estrutura energética da cidade natal de Amílcar Lopes Cabral,que consideram de exagerado o valor em causa.

Os profissionais da energia colocados na leste do país, são unanimes em considerarem que com centrais térmicas seria impossível ultrapassar a situação do preço elevado da energia no interior do país, onde as delegâcias funcionam numa autogestão e sem uma subvenção do Estado.

Os centros energéticos no interior do país não recebem subvenções do Estado guineense, confidenciaram acrescentando que apenas beneficiam de isenções em requisições, nas taxas alfandegárias, quando adquirem o combustível, mas há muito tempo que a estrutura da província leste não goza destes privilégios. Só recentemente conseguiram retomar a referida regalia na aquisição de gasóleo, ao mesmo preço com a Empresa da Água e Electricidade da Guiné-Bissau (EAGB).

EAGB RECEBE APOIOS PARA ILUMINAR APENAS BISSAU E AS REGIÕES FORAM ABANDONADAS

edificio-da-central-electrica-deixado-a-merce-de-animais

Confrontado com a situação, o delegado adjunto de energia para a Província Leste, Suandim Queba Dabó, considerou de “muito complicada” a situação energética na província, mencionando a dívida a mais de setenta funcionários, que recebiam com base no rendimento dos centros que, entretanto, deixaram de funcionar desde 2007 devido a falta da subvenção do Estado, desempregando todos os funcionários.

O Leste do país ficou quase sete anos sem corrente eléctrica, o que facilitou o roubo dos cabos de média tensão, sobretudo na Região de Bafatá.

Dabó exige que os dirigentes da Guiné-Bissau pensem no desenvolvimento das regiões. Asseverou, porém que a empresa EAGB, que fornece a energia apenas na capital, é sempre o único beneficiário de financiamentos e de projetos energéticos do país, enquanto as regiões ficaram simplesmente abandonadas.

“Imagine! Desde 1980 que houve um projecto denominado de “Gazela” que visava edificar uma central provincial, que começou a funcionar em Dezembro de 1983. A cidade de Bafatá recebeu novamente um grupo gerador de 450 Kva’s apenas em 2014, que está a suportar parcialmente a segunda capital da Guiné-Bissau”, explicou Dabó.

A terra natal de Amílcar Cabral tem muitos geradores privados que fornecem energia eléctrica aos citadinos, assim como pequenos geradores nas diferentes residências. Para Suandim, tudo isso tem as suas consequências negativas na saúde humana e polui a natureza, devido à insuficiência ou incapacidade da central eléctrica de Bafatá, que não consegue dar cobertura à toda cidade.

Bafatá contava nas décadasde oitenta –noventa com sete grupos geradores, mas actualmente tem apenas um, que também está fora de uso devido ao não fabrico de peças de substituição no mercado internacional. A delegâcia energética de Bafatá pede, pelo menos, um grupo de gerador de 750 Kva’s para minimizar as necessidades energéticas na cidade berço.

A autogestão energética que foi implementadaem Bafatá não garante salários aos funcionários, apenas subsídios mensais que variam entre vinte a trinta mil francos CFA.

Os parceiros da estrutura energética de Bafatá fornecem combustível e no final do mês, os responsáveis pagam o valor devido. O saldo é usado para o pagamento dos subsídio ao pessoal e à manutenção dos equipamentos. Ainda há dezoito funcionários que estão com problemas de saúde e que recebem uma subvenção da estrutura da energia da cidade.

A presença do governo central foi notada numa dada altura em que a dívida ao fornecedor de combustível estava muito alta. Nessa altura houve intervenção do executivo que reduziu o valor em causa, graças ao ministro Wasna Papai Danfá.

“Aqui pagamos muito carro a energia eléctrica, por favor, perguntem aos responsáveis, o porquê dessa taxa tão alta”, lamentou um citadino de Bafatá.

O custo elevado da energia consequência do pagamento atrasado dos beneficiários, o que leva os responsáveis do central de Bafatá a ponderarem fechar as portas em alguns momentos. Os problemas de rede eléctrica, de pessoal e de motor constituem uma dor de cabeça da delegacia regional.

POPULARES DE BAFATÁ PASSAM A FESTA DE TABASQUI NA ESCURIDÃO

O único grupo de gerador que fornece a corrente eléctrica para toda a região de Bafatá está com problemas técnicos desde o dia nove do mês em curso. Os bafatenses passaram a festa de Tabasqui na escuridão total, dado que a maioria da população da segunda maior capital do país usa a energia pública.

Esta situação criou complicações junto dos consumidores que demostraram uma certa revolta e desespero total. A maioria dos consumidores contactados pela nossa equipa de reportagem defendem que o governo central deve encarar a questão da energia como um problema nacional e não apenas uma necessidade para os citadinos de Bissau, porque conforme alegam a capital Bissau não é a Guiné-Bissau.

Segundo os responsáveis da delegacia regional da Energia, para cobrir toda a Região de Bafatá é preciso um grupo de gerador com capacidade de um megawatt. E, para cobrir a província leste no seu todo é preciso dois Megawatts, mas para um fornecimento de 24/24 horas, a província leste necessita de quatro megas, dois para  cada uma das regiões( Bafatá e  Gabú).

De momento, os maiores clientes da central de Bafatá são os Médicos Sem Fonteiras que pagam a volta de duzentos mil francos CFA e uma unidade hoteleira da segunda capital que paga mensalmente mais de seiscentos mil francos. A delegacia local fornece energia eléctrica das 19 horas às cinco e trinta da madrugada.

 

 

Por: Sene Camará/Alcene Sidibé

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *