KLASH PEDE MAIS INVESTIMENTO NA PROJEÇÃO DA CULTURA GUINEENSE 

[ENTREVISTA] O músico da nova geração, Hayne da Graça, conhecido no mundo da cultura por ‘Klash’, bateu o recorde dos concertos na história da música nacional. O jovem rapper conseguiu levar mais de 45000 (quarenta e cinco mil) guineenses para assistir o lançamento do seu segundo álbum intitulado ‘Além do Limite’, num show realizado no Estádio Nacional “24 de Setembro”.

Hayne da Graça, que adotou o nome ‘Klashnikov’, conseguiu quebrar o complexo de promotores nacionais de concertos que apostam em artistas estrangeiros em detrimento de cantores nacionais. O jovem rapper desafiou tudo e todos, inundou o Estádio ‘24 de Setembro’ de público. Apelou numa entrevista exclusiva concedida ao semanário “O Democrata” ao investimento de empresas e do governo na projeção da cultura guineense pelo mundo fora, a semelhança dos trabalhos feito em outros países.

O rapper diz ter a coragem de abraçar um desafio que muitos não acreditavam que daria certo, mas que ultrapassou as suas melhores expetativas. Referiu-se também ao seu colega Masta Tito que considera de uma ‘peça chave’ na definição da estratégia para organização do concerto que entrou para a história de música e da cultura guineense.

“PREFERI INICIAR O DESAFIO EM CASA, PARA TER MATERIAL QUE POSSO APRESENTAR NO EXTERIOR”

Klash, rapper com espírito nacionalista, explicou que tudo começou quando definiu o conceito do álbum com o qual pretende ultrapassar as fronteiras, ou seja, ir além do limite. Para que a internacionalização do seu mais recente disco se torne numa realidade, precisava realizar um concerto do género que consequentemente abrir-lhe-á as portas do mundo, tendo em conta que as imagens falam por si. E qualquer músico internacional terá confiança em aceitar um dueto com o Klash.

“Este é um álbum que produzi com o objetivo de ir além-fronteiras e promovê-lo internacionalmente. A minha ambição e objetivos que tracei passam por fazer grandes coisas. Como artista, tenho sempre que começar aqui dentro de casa, mesmo com as solicitações para ir atuar no estrangeiro para as comunidades guineenses. Preferi iniciar o desafio em casa, para ter material que posso apresentar lá fora como prova da minha aceitação, feito que pode levar-me aos grandes festivais internacionais”, justifica o motivo de escolher o Estádio ‘24 de Setembro’ para apresentar o álbum, assim como alertar os guineenses sobre o dever de abraçar ou aderir aos concertos nacionais.

No seu entender, havia toda a necessidade de realização de um evento dessa envergadura, a fim de despertar a confiança das empresas que operam no país que, na sua opinião, devem acreditar nos músicos nacionais. Acrescentou que muitas vezes quando um cantor nacional tem um concerto ou projeto, poucas vezes recebem patrocínios de empresas que operam na Guiné-Bissau. Mas tratando-se de artistas estrangeiros patrocinam com dez milhões de francos CFA ou mais.

Todavia, o rapper não culpou as empresas e organizadores de eventos, sublinhando que as empresas querem ganhar lucro, talvez por isso, optam por músicos estrangeiros como forma de ganhar mais. Assinalou que o show business está a ganhar força no país, por isso, o concerto serviu também de uma ferramenta para chamar atenção dos organizadores de eventos em relação aos músicos nacionais.

“Claro que se as empresas e agências de eventos entenderem que o público guineense está mais virado para as músicas e músicos estrangeiros, certamente que vão apostar nos cantores de fora”, notou, para de seguida dizer que acredita que a partir da data da realização do seu concerto a tendência vai mudar. Klash espera que da próxima vez haverá uma agência que vai negociar o cachet e assumir a organização do seu show ou de outro músico nacional.

No que concerne aos apoios de patrocinadores, assegurou que recebeu apoios da parte de algumas empresas privadas, instituições públicas e personalidades individuais. Acrescentou ainda que os apoios recebidos cobrem apenas 15 por cento da despesa total do concerto, sem entrar em detalhes ou revelar valores que cada instituições públicas e privadas disponibilizaram. Sublinhou que o Ministro de Estado do Interior, Botche Candé, colaborou e sem pedir despesas de custo aos organizadores do concerto.

A partida, a comissão organizadora, encabeçada pelo próprio Klash orçou a realização de show em 25.000.000 (vinte e cinco milhões) de francos CFA, contando ainda com o patrocínio da direção do Estádio Nacional ‘24 de Setembro’ que fez um desconto do custo total de aluguer do espaço.

RAPPER DIZ QUE O SEU SHOW É UMA VITÓRIA DA CULTURA GUINEENSE E DE JOVENS MÚSICOS

Klash com título de Mestre em Administração, considerou uma vitória o show e, acredita que o seu concerto vai virar a página em termos culturais no país, fazendo com que muitos comecem a acreditar nos valores nacionais, que na sua opinião são muitos, apenas precisam de serem promovidos. Convidou os guineenses para começarem a ver as coias pelo lado positivo e não como habitual, vendo tudo somente nos aspetos negativos, isso quando foi questionado sobre algumas falhas verificadas na organização.

Admitiu as falhas, tendo justificado que muitos elementos que compõem a comissão eram novatos na organização de eventos daquela envergadura. Lamentou a forma como o apresentador consumiu desnecessariamente o tempo, assim como o facto deste ter tomado a iniciativa de adicionar muitos artistas a lista predefinida pelo músico sem, no entanto, lhe consultar previamente, desviando, assim da estratégia que o cantor garantiu que estava muito bem definida.

Para o concerto histórico, a comissão esperava contar com um número razoável de espetadores, mas que ultrapassou todas as expetativas, superando todos os shows até aqui realizados no ‘24 de Setembro’. A moldura humana fez com que o número do dispositivo das forças de segurança inicialmente previsto fosse reforçado, o que provocou um atraso no início do concerto.

Klash não descartou um novo show para os guineenses, mas disse que precisa descansar um pouco depois de uma organização estressante, por ter sido ele o organizador e cantor ao mesmo tempo. O também conhecido por King Klash, ou seja, Rei Klash, agradeceu o público que no seu entender reagiu positivamente ao seu apelo para estarem em massa no show, assim como pediu desculpas pelas falhas verificadas durante o concerto.

‘Além do Limite’ é um álbum com 15 faixas musicais entre os quais 13 inéditos e os dois são bónus tracks, ou seja, são temas cantados nos instrumentais e que não são originais do rapper guineense. No seu disco, o cantor retratou as histórias da sua vida, problemas sociais e sobre os relacionamentos, o tema foi uma inspiração filosófica de um filosofo que o cantor aprecia, cujo lema é ir além do limite, dali nasceu o nome do álbum.

Com o rendimento do show, Klash diz estar em condições de produzir vídeos com objetivo de entrar para os canais de televisão internacionais, mas estrategicamente pretende produzir tudo fora do país. Justifica que no exterior ficaria mais em conta, acima de tudo os produtores estrangeiros muitos têm contatos com canais internacionais e seus trabalhos são aceites nestes canais, enquanto os produtores de vídeos nacionais não têm estes contatos. Diz também que há mais manequins profissionais lá fora.

O álbum foi produzido e gravado no país, onde o próprio rapper produziu 90 por cento dos bites do ‘Além de Limite’ e teve a produção de Naty Pro, proprietário do estúdio de gravação ‘Congo Bongo Produções’, onde o disco foi masterizado e gravado.

“Desde o meu primeiro álbum ‘Kussas Ma Nôs’ acreditava que era possível fazer bons trabalhos a partir de casa, por isso, apostei na gravação interna do meu disco e o produto final fala por si e, até aqui não tenho reclamações. Lá fora é mais custoso e não vejo muita diferença nos trabalhos”, vinca o jovem rapperista, considerado do crítico da sociedade.

Lamentou a falta de meios dos artistas nacionais em relação aos cantores de outros países africanos, acrescentando que um músico precisa estar em constante atualização, sobretudo nas redes sociais, assinalando que para estar a par das atualizações é necessário ter um staff, mas porque infelizmente os músicos nacionais fazem concertos em locais pequenos, nunca terão a possibilidade de concorrer com os demais. Contudo, acredita que se realizar mais um concerto com mesmo sucesso do dia 16 de Dezembro de 2017 estará em condições de investir na sua carreira e terá ainda condições de ajudar outras pessoas.

“Hoje, se um artista não possuir bons vídeos, pode descansar porque os músicos vendem a imagem. Apelo às pessoas para apostarem nos cantores nacionais, apoiando as produções de vídeos, a fim de concorrerem com outros músicos internacionais e com materiais de qualidade”, alerta.

KLASH DEFENDE FUNCIONAMENTO DO DIREITO DE AUTOR NO PAÍS

O rapper defende a cultura do direito do autor no país, assim como convida as autoridades culturais a manterem contatos com os músicos para melhor se inteirarem da situação da cultura e dos músicos. Apenas assim saberão o que é necessário fazer para este setor. O olhar holístico do cantor não escapou ao descontrolo que há no setor da música, onde na sua visão, o próprio Estado legitima a venda ilegal das músicas dos artistas nas cobranças de imposto, legitimando esta prática ilícita. Sustentou ainda que se o direito de autor começasse a funcionar, os músicos terão as mínimas condições para autofinanciarem e garantir as suas sobrevivências. Apelou igualmente ao investimentos para projetar a nossa cultura, tendo em conta que existe muitos bons talentos no país.

Convidou as autoridades a se sentarem a mesa para elaborar um projeto nacional sobre a cultura, acrescentando que a cultura pode ser uma fonte de rendimento enorme porque o show business gera milhões e milhões quando está bem organizado. Afirmou que o papel do Estado é fundamental e apontou como exemplo se as autoridades guineenses podem dicidir organizar um festival da Guiné-Bissau em Portugal, como forma de divulgar a nossa cultura para os países lusófonos sendo Portugal o centro da lusofonia.

“Se este tipo festival correr bem, certamente, que atingirá todo o espaço lusófono. Os produtores da comunidade lusófona poderão apostar nos músicos nacionais e os artistas de outros países interessar-se-ão em trabalhar com os cantores guineenses. Há um exemplo a seguir. Falo do Ministério do Turismo que fez uma reportagem sobre as potencialidades turísticas do país, promovendo os hotéis sem ver ou pensar que estes podem difundir seus serviços, mas o titular do pelouro do turísmo do país vê o lado bom que é espelhar aquilo de bom que o turismo guineense tem para oferecer ao mundo”, explica.

Klash apela a todos os músicos nacionais para que cada um trabalhe para dinamizar ainda mais o seguimento musical que escolheu, seja Gumbé, Tina, Cabaz Garandi e outros estilos e acrescentou que os rappers estão a desenhar as suas carreiras de uma forma dinâmica e responsável.

Com ‘Além do Limite’, o rapper pretende atingir todo mundo, mesmo que todos não percebam o crioulo da Guiné-Bissau, mas tentou trazer no álbum um ritmo atual capaz de mexer com qualquer um.

Sobre as vozes que criticam algumas das suas faixas musicais, vendo-as como incentivadores do consumo de álcool, da droga e a prostituição, o rapper diz que procura atingir diferentes seguimentos da sociedade. Sublinhou que quem ouvir todos os temas do álbum vai constatar que tem muitas músicas com conteúdos bons.

Mesmo com mestrado em administração, Klash vive apenas da sua carreira musical e diz acreditar que é possível viver só da música. Revelou na entrevista que ao longo dos estudos descobriu os fatores que impedem o crescimento dos músicos, e decidiu aplicar os seus saberes em prática dando mais segurança a sua carreira, mostrando a sua abertura em relação à partilha dos seus conhecimentos com os colegas cantores.

Brevemente Klash lançará um presente aos fãs, num tema musical onde contará com as participações dos músicos guineenses Bunka e Npans, ambos a viverem atualmente na Rússia. Finalmente, apelou mais aderência do público aos concertos nacionais como forma de permitir os nossos artistas concorrer internacionalmente com outros profissionais, reiterando o seu agradecimento pela moldura humana registada no Estádio Nacional ‘24 de Setembro’ no passado dia 16 de Dezembro de 2017.

 

 

Por: Sene Camará/Assana Sambú

Foto: Marcelo Na Ritche

 

 

 

 

 

5 thoughts on “KLASH PEDE MAIS INVESTIMENTO NA PROJEÇÃO DA CULTURA GUINEENSE 

  1. Concordo plenamente com que Klash abordou acima nós podemos ou devemos apostar na nossa cultura porque somos ricos de cultura e temos grande valores culturais porque é só questão de virar nossas atenção pelo que é nosso em vez valorizar mais valores estrangeira por outro lado quero agradecer o rapper de alta calibre Klash por td que ele fez ou que ele esta fazer pela promução de cultura guineense tambem apelar a tds musicos guineenses para que fazemos maximo possível pr realsar a nossa cultura…

    By mcHeiby1994@gmail.com

  2. O artista da nova Geração que é o Haine da Graça(Klash-Nicov),foi ele que eu aadmiro muito sempre quero conhecer muitas coisas sobre o raper Klash,desde o ano 2005,eu começo a ser fãn numero um deste rapero,eu vou dizer somente coragem e força para ele sempre estou com você,até a morte,obrigado por tudo …

  3. um dos melhores raper guinensse de tdos os tempos niga klash força do teu irmão de sempre sadja .

Deixe um comentário para Gabriel bambo sila Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *