CINEMA: EXIBIDO O FILME “BATALHA DE TABATÔ” DE JOÃO VIANA

O filme “A Batalha de Tabatô” do realizar João Viana acabou exibido na aldeia onde nasceu, mas antes foi necessário vencer várias batalhas contra a chuva torrencial, o mar de lama no caminho.
A história antes da exibição do filme foi reportada pela Lusa que acompanha diferentes cenários.

História
Foi preciso vencer várias batalhas contra a chuva torrencial, o mar de lama no caminho e geradores que não queriam funcionar, mas o filme “A Batalha de Tabatô” acabou mesmo por ser exibido na aldeia em que nasceu.
Para o realizador João Viana, foi “a realização de um sonho” e para os habitantes também: o espaço ao ar livre no centro da aldeia, no interior da Guiné-Bissau, transformou-se na última noite numa sala de cinema improvisada, algo nunca visto.
Além do mais a história era sobre eles e eles eram os atores.
Houve palmas, gargalhadas e ovações à medida que cada um aparecia e a longa-metragem pareceu curta, explica.
Durante quase hora e meia, crianças, adultos e “homens grandes” de Tabatô não tiraram os olhos da tela improvisada com um pano branco, pendurado numa estrutura de madeira, parte da qual caiu (mas ninguém se magoou) enquanto João Viana e alguns atores preparavam o espaço.
O pano mexia-se com o vento, não havia lugares sentados, mas ninguém se queixou.
Todos queriam ajudar a concretizar a exibição e foi o alpendre de uma das casas viradas para a “praça” central de Tabatô que serviu de sala técnica (com um computador, colunas de som e um projetor) e acolheu o público, de pé.
Já o filme tinha começado, pouco antes das 22:00, e alguns puxaram cadeiras para a rua assim que a chuva acalmou, ocupando também o lado de trás da tela, porque o pano transparente permitia ver o filme dos dois lados.

Pode parecer improvisação a mais, mas João Viana admira a disciplina do público no meio deste improviso, uma postura perante o filme que, para quem observa, até parece devoção.
“Estão habituados a esta disciplina” de dar tempo para escutar com quem falam, no dia-a-dia, descreve João Viana: “eram capazes de estar horas e horas” de olho na tela.

“Nós é que já não estamos preparados” para a delonga que ainda encontra espaço no tempo africano, acrescenta o realizador.
Tabatô é uma aldeia de músicos, geração após geração.
A noite da exibição foi “a realização de um sonho” para João Viana: “foi complicado”, mas “dá vontade de vir viver para aqui, porque isto tem que ser muito acarinhado senão desaparece”.

Em causa está uma cultura e história baseada na tradição oral transportada pelos “griôs”, habitantes que herdam o repositório cultural da comunidade.
No chão de Tabatô estarão, por exemplo, as raízes ancestrais do jazz e reggae, por entre muitas outras histórias que misturam o mundo físico com o espiritual.

Não admira que a música esteja presente no filme, em que a personagem principal enfrenta memórias da guerra colonial quando regressa de Portugal para Tabatô, para o casamento da filha.
Na realidade, o ator que lhe dá vida, Imutar Djebaté, perdeu um dos filhos há cerca de uma semana.

A ocasião não é de festa, mas a vontade de ver o filme era tanta que nada o podia afastar da noite de exibição – e de receber das mãos do realizador os cartazes em que aparece em primeiro plano.
Fala em Mandinga para explicar que não cabe em si de contente e que há muito mais histórias de Tabatô para contar.
“Há mais sim, muito mais. Isto mostra que a Guiné-Bissau não é só guerra”, conclui outro participante no fime, Mamadu Baio, habitantes da aldeia, mas há dois anos a residir em Portugal.
Depois da música que já corre no sangue, está lançada a semente do cinema em Tabatô.

No fim do filme, João Viana conversa com os jovens da aldeia e dá voz ao próximo sonho a concretizar: “talvez o próximo filme já seja feito por eles”.
João Viana nasceu em Angola 1966. É um realizador português. Destaca-se em 2013, ao receber uma menção honrosa com o filme A Batalha de Tabatô, no Festival de Cinema de Berlim. Começou a realizar os seus próprios filmes em 2004, ao lado de Iana Ferreira, com o filme A Piscina.
Fonte: Lusa

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