REGIÃO SANITÁRIA DE BOLAMA FUNCIONA SEM BLOCO OPERATÓRIO E NEM AMBULÂNCIA

[REPORTAGEM] O hospital regional de Bolama, que era tido como centro de referência equipado e com qualidade de serviços oferecidos aos pacientes no período colonial, funciona hoje sem nenhum bloco operatório e não dispõe de uma ambulância para socorrer os doentes. Para além dessas faltas, o hospital não dispõe também de botes ou pirogas que posam servir de meio para transportar ou evacuar doentes entre as ilhas ou para a Capital Bissau.

Os doentes na cidade de Bolama são transportados em motorizadas, a partir das tabancas mais longínquas, para o hospital. Nas ilhas mais próximas de Bolama, os pacientes são transportados de canoas a remo, correndo muitos riscos. Os familiares dos pacientes relatam que, na tentativa de salvar a vida dos seus doentes, enfrentam enormes  perigos.

O edifício onde funciona atualmente o “Hospital Solidariedade de Bolama”, categoria do ‘Tipo A’, era um aquartelamento na época colonial. O edifício é constituído por quatro pavilhões e foi transformado em hospital depois de algumas reparações  pontuais, nomeadamente: a sua estrutura, incluindo o telhado.

O hospital que se encontra atrás do edifício do Comité de Estado (administração local), construído na era colonial, foi abandonado há muito devido a seu estado avançado da degradação. Há tempos, de acordo com as informações recolhidas no terreno, as autoridades comprometeram-se em recuperar o hospital. Por isso transferiram os serviços para o antigo aquartelamento, mas até hoje nada foi feito, ou seja, não foi reparado e está totalmente  em abandono com o telhado descoberto.

A região sanitária de Bolama é composta por três áreas, nomeadamente: Bolama, a Ilha das Galinhas e São João. E cada uma das áreas sanitárias conta com dois centros de saúde do “Tipo C”, exceto a ilha das Galinhas que dispõe apenas de um único centro de saúde do “Tipo C”.

GESTOR DE HOSPITAL CLAMA POR TÉCNICOS PARA ACUDIR ÀS NECESSIDADES DAS POPULAÇÕES

O Diretor Administrativo do “Hospital Solidariedade de Bolama”, Graciano Mendes, disse que a maior dificuldade na região sanitária que representa é lidar com os animais que invadem  o centro porque, segundo disse, o hospital não tem vedação o que leva funcionários  a dividirem o pátio do hospital com vacas, cabras e porcos.

Revelou que a receita recolhida não é suficiente. Contudo, adianta que sempre tiveram a ideia de vedar o hospital, mas faltam os recursos necessários  para viabilizar os trabalhos, tendo garantido que está a ser elaborado um projeto de pedido de apoio financeiro que deverá suportar as despesas da vedação.

Segundo Graciano Mendes, o hospital tem no total oito (08) serviços prestados à população local, nomeadamente:  o laboratório, enfermaria, maternidade, farmácia, pediatria, pequena cirurgia, programa alargado de vacinação e consultório, mas que, no entanto, carece de técnicos para fazer com que esses serviços funcionem plenamente, sobretudo a maternidade, a farmácia e o laboratório. Dados recolhidos no terreno indicam que o centro funciona apenas com um médico para área sanitária de Bolama, uma parteira, um técnico do laboratório e sem farmacêutico, cuja função é desempenhada pelos enfermeiros.

De acordo com o responsável administrativo do hospital, esse assunto é do conhecimento  das autoridades sanitárias e que as dificuldades que o hospital enfrenta são reportadas ao governo, que  de vez em quando envia delegados a Bolama para fazer  o levantamento das necessidades.

Solidariedade de Bolama não enfrenta apenas os problemas de falta de técnicos e de invasão dos animais. Também enfrenta problemas de eletricidade e água potável. Graciano Mendes contou que o hospital tem um furo de água,  mas na época seca enfrenta problemas em abastecer-se de água.

Relativamente a eletricidade, referiu que o hospital tem um gerador, mas consegue ter a energia que alimenta todos os serviços do centro graças  a 11 painéis montados no local e o gerador é usado só para a esterilização dos equipamentis, tendo em conta a falta de meios financeiros para adquirir o combustível.

Em termos de segurança, contou que dantes enfrentavam roubos por falta de seguranças. Sobre o assunto, o hospital foi vitíma de assalto à farmácia e de roubo de painéis solares que forneciam corrente elétrica para o primeiro furo de água, o que os causou vários transtornos. Na sequência dessa situação, o hospital  contratou dois seguranças e, desde entanto,  não sofreu roubos do género.

Solidariedade de Bolama conta num total com 16 enfermeiros, um médico que desempenha as funções do delegado regional de saúde para região de Bolama. E quando viaja para Bissau ou para o exterior, a área sanitária fica sem médico.

Tem ainda dois técnicos de laboratório, mas de momento só um está em efetividade e o segundo é  um contratado. Nos últimos tempos foram adaptadas três enfermeiras que prestam auxilio à  maternidade. Na área da limpeza, o centro conta com cinco pessoais, das quais dois efetivos e três contratadas. Os efetivos estão na fase de reforma. Segundo Graciano, o centro consegue pagar os funcionários contratados com receitas internas.

Questionado sobre a gestão das farmácias e medicamentos dos programas para diferentes centros de saúde que compõem a região sanitária de Bolama, limitou-se a dizer que é fora da sua competência administrativa.

Graciano Mendes revelou que quando o centro tem um caso que necessite de uma intervenção cirúrgica, os técnicos recorrem à evacuação para Bissau. E a evacuação é feita no meio de vários riscos, ou seja, às vezes fazem viagens  inapropriadas e demora-se  em submeter o doente à intervenção cirúrgica. A evacuação é feita , entre ilhas, através das pirogas ou botes. A capacidade da sede hospitalar da região sanitária de Bolama é de 43 camas.

Disse que as receitas tiradas das consulta não são suficientes, tendo em consideração que nem todas as consultas são pagas, sobretudo  as de crianças 0 (zero) a 4 (quatro) anos, grávidas e idosos de mais de 60.

Explicou, no entanto, que em caso de evacuação, o hospital não tem botes nem ambulância e são os familiares que procuram os meios para evacuar os seus doentes. Assegurou, contudo, que os pacientes são acompanhados sempre por um o técnico de saúde para eventuais complicações durante a transferência.

“Os familiares recorrem ao aluguer de botes ou embarcações públicas, mas nos últimos tempos estabelecemos uma parceria com a Aida e essa ONG disponibilizou um bote, mas são os familiares que suportam os custos. Às vezes nem tudo corre como muitos pensam, porque  o bote às vezes é afundado longe, dependendo em certa medida da maré e da sua localização”, explicou Graciano.

 

 

Por: Epifania Mendonça

Foto: E.M

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