Opinião: ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS DE 24 DE NOVEMBRO: o que esperar?

A democracia guineense e de tantos outros países africanos é demasiado jovem, se olharmos para as europeias e americanas, baluartes desse regime político, razão pela qual tem apresentado deficiências tanto em sua forma quanto em sua própria operacionalidade; esse regime político ainda enfrenta, no continente negro (como gosto carinhosamente de chamar a “mãe África”), grandes objeções – com exceção de países como (Cabo-Verde, Ilhas Maurícias, Gana etc.) – que têm destacado como melhores e mais consolidadas democracias africanas, segundo os estudos da ONG internacional Freedom House, sediada em Washington.

O fim da Guerra Fria (queda de Murro de Berlim e extinção da antiga URSS eventos ocorridos nos inícios da década de 1990), o boom da globalização  e a expansão neoliberal, por assim dizer, levaram, com aclamação popular sobretudo, a adoção e consequente implantação do referido regime no país de Cabral, nos inícios dos anos 1990, mais precisamente no ano de 1994; culminando, desta feita, com o surgimento de diversas formações políticas e partidárias e a realização de primeiras eleições abertas e livres.

Desde então sempre se realizaram eleições (legislativas e presidenciais) como manda e ou designa o sistema vigente no país, o Semi-Presidencialismo, sob observação de Comunidade Internacional, vale frisar. Sempre! Muitas dessas eleições, senão todas elas têm tido lugar devido aos sobressaltos políticos, que se tornaram frequentes (as vezes com participação dos militares) afligindo assim, nos últimos 25 anos, direta e negativamente o cenário político, econômico e social do país.

Dita de outra maneira, de 1994 para cá, a instabilidade político-governativa tem sido o que caracteriza o país e isso tem maculado, sobremaneira, a imagem do país no cenário internacional, sobretudo no âmbito sub-regional, legitimando, portanto, a necessidade permanente de presença da CEDEAO, organização sub-regional responsável por dirimir e ou apaziguar conflitos no país. São incontáveis episódios do estrangulamento e de desprezo aos valores democráticos pelos políticos locais.

Infelizmente, exímio leitor do O’Democrata, eleição nenhuma chegou a ser solução clara para a resolução de qualquer imbróglio que o país já tenha experimentado. Infelizmente! As lições não têm faltado aos políticos locais, pelo contrário, o que tem faltado, em minha opinião, é a vontade e o real compromisso da classe política para com o povo e as instituições republicanas.

Em verdade, a instabilidade política, como essa que ora paira pelo país em virtude das eleições presidenciais que se avizinham, em minha concepção, tem sido talismã de alguns políticos de nossa “praça” em granjear mais privilégios que a vida pública os oferece, a opinião pública está ciente disso inclusive. Para estes é primoroso, digamos assim, manter inalterável o statuo quo da vida política do país. E para isso têm impedido que ocorra qualquer mudança nessa direção.

As eleições de 24 de novembro próximo não vão (um pessimismo que se ampara na avaliação da vida pregressa da nação e suas experiências no tocante a realização das eleições) em minha modesta opinião, constituir uma solução imediata e garantida (pelo menos no curto e médio prazo) à resolução de impasse político que se vive hoje no país, mas nem por isso devem deixar de ter lugar, como chegaram a cogitar, publicamente inclusive, alguns partidos e organizações políticas de oposição ao atual executivo.

Disse e repito: “solução garantida” para o crônico problema de dissenso político que tem assolado o país, embora possa configurar sim, vale reconhecer, uma grande oportunidade de o país reencontrar com os seus ideais (que inclusive nortearam a luta pela sua independência e emancipação do jugo colonial português). Ou seja, ocorrendo, as referidas eleições, constituirão sim, um passo importante, em minha leitura, para as tentativas incessantes de consolidação da paz e de estabilidade no país, dependendo de quem vencer e a sua capacidade de diálogo e de galvanização de consensos, mas não um processo automático como anseia a sociedade, embora com razão.

A desejada estabilidade política e consequente desenvolvimento do país está, em minha modesta opinião, nos homens e mulheres (políticos)… não no sistema político vigente no país, na constituição da república etc., embora respeite os que pensam diferente. Basta a classe política, em minha opinião, e desta única vez, pelo menos, cultivar um pouco do senso de diálogo e de boa vontade, a nossa querida Guiné rapidamente sairá na situação que se encontra. Ela pede e com muita urgência o fim desse longo ciclo de instabilidade política que corrói a nossa jovem e promissora democracia e todo o tecido social de nossa sociedade. A Guiné-Bissau merece e deve experimentar tempos melhores e mais risonhos… é o mínimo que se pode fazer para a geração vindoura!

Que Deus abençoe a Guiné-Bissau e que os dias melhores não tardem!

Por: Deuinalom Fernando Cambanco

Mestre em Relações Internacionais

Salvador, Bahia, Brasil.

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