Opinião: POR QUE NÃO AGIMOS SE JÁ PENSAMOS O BASTANTE?

Esqueçamo-nos das nossas cores político-partidárias; não lembremos das crises todas que estamos a enfrentar no nosso país; façamos de conta que não há nenhum mal entre nós, guineenses… Isso mesmo: esqueçamo-nos de tudo pelo menos neste instante, mas menos uma coisa. Aquilo que todos concordamos ser o caminho para fazer “Homens Novos”, tal como todos pelo menos uma vez dissemos, porque se não for por esta expressão, pelo menos todos almejamos uma mudança que muitos apelidam de positiva para o nosso país, para as nossas vidas, mas que eu chamo de mudança radical. Radical de raiz, como lembrava alguém numa terra longe, e não no sentido errado em que muitas vezes é pensada, de intolerância, intransigência. Não. É mudança desde fundo das nossas desavenças, desde as origens das nossas crises, para assim chegarmos ao fim da jornada e, olhos nos olhos, com sentidos de justiça e igualdade de oportunidades, proclamarmos a verdadeira mudança, a mudança das nossas vidas para melhor. Voltemos àquele bem essencial para não nos esquecermos dele, falo da educação, do ensino, da aprendizagem. É aqui que está o segredo de todos os progressos no mundo, minha gente, TODOS. Alguém me desmente?!

Enquanto não houver desmentido, sigamos em frente, e chamemos à memória de Cabral, isso mesmo, memória do militante número UM do PAIGC, coincidentemente partido no governo. Porquê Cabral? Porque ele dizia que “a nossa luta era sobretudo contra ignorância, contra obscurantismo, contra analfabetismo”, mas ainda dizia mais e ensinava o desafio de “pensar para melhor agir e agir para melhor pensar”. Sim, ele dizia tudo isto, mas não se limitava no simples dizer, Cabral, o Secretário-geral do PAIGC, era um homem de palavra e acção, ou seja, falava e fazia ao mesmo tempo. Querem provas? Dou uma e partir dela verão o resto se “pensarem pelas vossas próprias cabeças”. A prova é que Amílcar Cabral e seus camaradas, para combaterem “a ignorância, o medo, o obscurantismo, o analfabetismo”, logo em 1964, um ano depois do início da luta armada pela independência do nosso país, criaram escolas nas zonas libertadas da ocupação colonial, e foi sempre assim à medida que a luta avançava: libertava-se uma zona, construía-se uma escola, um centro de saúde e estabelecia-se uma forma de fazer justiça entre as populações e de garantir-lhes segurança. Isto não nos leva a confirmar que Cabral de facto pensava para melhor agir e agia para melhor pensar?!

Agora deixemos Cabral em paz da glória e pensemos em nós mesmos, na prática educativa que temos, no tipo de sistema de saúde que temos, na justiça que temos e não temos, na insegurança em que vivemos, etc. E perguntemos a nós mesmos: o que estamos a fazer para mudar tudo isto?! Falar, já falamos muito; pensar, já pensamos todos os nossos problemas e até já escrevemos muitos deles em grandes programas ou projectos de governação, mas então volto a peguntar: e acção?! Quando é que vamos reparar que uma esmagadora maioria das escolas públicas do país não está a funcionar, à custa de uma greve que impediu o início do ano lectivo (2019)-2020 e já estamos no mês de Fevereiro, segundo mês do ano escolar terminal?! Então onde é que vive o pensamento de Cabral entre nós, se já não formamos “Homens Novos”, que hão-de tomar conta do grande projecto de mudança pela “positiva” ou “radical”, mudança das nossas vidas?! Sem escolas da maioria a funcionar, onde está a justiça social, onde serão formados médicos, professores, juízes, advogados, camponeses (sim, camponeses) para tomarem conta de escolas, centros de saúde, tribunais, bolanhas, como ou melhores que aqueles das zonas libertadas dos tempos de Cabral e seus camaradas no Sul, Norte, Leste do país?!

Nesta questão, questão da educação, das escolas onde estudam as nossas crianças, “as flores da luta e razão do combate”, não deve haver partido, nem politiquice, não devia haver “crises” entre nós: partidos representados no parlamento do povo; organizações da sociedade civil; movimentos sociais que muito estão em voga; redes e conselhos juvenis, etc., a sociedade inteira. Se de facto “a luta continua”, a luta pelo progresso do nosso país, a luta pela mudança radical ou positiva, por que não nos levantamos pela educação, pela formação do “Homem Novo”?! Há dúvidas, muitas dúvidas. Hajam respostas, de cada um de nós, porque o que tento fazer aqui, não é proclamar a minha razão, mas convidar-nos, todos nós, a “pensar para melhor agir” e agir em salvação das escolas públicas em paralisia total.

Até lá…

Por: Sumaila Jaló

Professor do secundário em Bissau e estudante de História Contemporânea

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