Porta-voz de Sindicatos: “GOVERNO DEVE CRIAR CONDIÇÕES NAS ESCOLAS PÚBLICAS OU OS PROFESSORES NÃO VOLTARÃO ÀS SALAS DE AULAS”

O presidente da Comissão Negocial e porta-voz de quatro organizações sindicais de professores, nomeadamente, o Sindicato Nacional de Professores (SINAPROF), o Sindicato Democrático dos Professores (SINDEPROF), o Sindicato dos Professores e de Funcionários da Escola Superior da Educação (SIESE) e a Frente Nacional de Professores (FRENAPROF), professor Duarte Bunghôma Sanhá, afirmou que se o governo liderado por Nuno Gomes Nabian, não criar condições para o funcionamento das escolas públicas nesta época das chuvas e da pandemia do novo coronavírus, os professores não vão lecionar, não voltarão às salas de aulas. 

O sindicalista fez estas advertências numa entrevista exclusiva ao semanário O Democrata para abordar a questão da retoma de aulas, se forem reunidas todas as condições em termos de pagamento de dívidas bem como do cumprimento de acordos rubricados entre as partes.

O executivo anunciou a reabertura das escolas públicas (em regime de autogestão) e privadas para a retoma das aulas a partir do próximo dia 13 de julho. Contudo, os professores mostram-se preocupados quanto às condições das infraestruturas escolares nesta época das chuvas, e também da pandemia do novo coronavírus que já infetou mais de mil e quinhentas pessoas no país.    

“QUEREMOS ACREDITAR QUE EXISTEM CONDIÇÕES PARA A RETOMA DE AULAS NESTA ÉPOCA DAS CHUVAS”

Sanhá disse que as organizações da classe dos professores têm de defender os seus associados de uma eventual contaminação da doença do Covid-19, os próprios docentes podem contaminar os alunos, por isso é preciso que haja condições que permitam a retoma de aulas sem grandes riscos de contaminação.

Acrescentou que muitas escolas não têm condições infraestruturais, o que é do conhecimento do ministério da Educação. Contudo, diz esperar que o executivo apresente um plano para o funcionamento daquelas escolas tanto na capital, como nas regiões em que algumas se encontram em avançado estado de degradação.   

Explicou que foram muito claros com o governo no que concerne à retoma de aulas e sugeriram às autoridades o que é preciso fazer de concreto. Frisou que na verdade o governo é responsável pela política educativa e se anunciaram a retoma de aulas a partir da próxima segunda-feira, “creio que na verdade há condições para o funcionamento das escolas públicas em regime de autogestão”.

Duarte Bunghôma Sanhá disse que governo é responsável pela política educativa e se anunciar que está em altura para dar continuidade da conclusão do ano lectivo nas escolas em regime de autogestão e privadas, os professores não podem ficar indiferentes porque formaram-se nessa área e é para trabalhar.

O porta-voz lamentou o anúncio do executivo da retoma de aulas, tendo lembrado que numa das reuniões entre ministro, sindicatos, CNJ, RENAJ, Carta 21, CONAEGUIB e Federação de Associações das Escolas Privadas, que visou pedir contribuições das organizações sobre o que deveria ser feito em matéria da edução e em particular, sobre a retoma de aulas. Recordou que no fim da reunião, criou-se uma comissão que ficou encarregue de fazer o levantamento a nível nacional para apurar se as escolas atingiram a percentagem dos conteúdos que lhes permitiriam continuar o ano lectivo 2019/2020, mas “infelizmente ouvimos pelos órgãos da comunicação social, o anúncio da reaberturas das escolas para a retoma de aulas, confesso que estamos todos com dúvidas se as escolas públicas retomarão as aulas no dia 13 de julho”.  

“Estamos na época chuvosa. Não podemos preocuparmo-nos apenas com a Covid-19, mas também com o paludismo e outras doenças, dado que algumas escolas estão em zonas húmidas, sem nenhumas condições e qual será alternativas? Neste momento estamos em confinamento, respeitando o distanciamento social. Como serão criadas as condições que permitirão o funcionamento das aulas, obedecendo as normas estabelecidas? É preciso reduzir o número de alunos nas turmas e afetar quantidades de máscaras suficientes para professores e alunos. Outro problema é que quando chove, as escolas com problemas nos telhados terão que suspender as aulas e outros que não têm tetos adequados, se chover, os alunos terão dificuldades em perceber a explicação dos professores”, notou o sindicalista.

Assegurou que é preciso tomar em conta as dificuldades dos alunos e professores em conseguir o transporte (Táxi ou Toca-Toca) que lhes permite chegar a tempo à escola por causa das limitações impostas aos meios de transportes públicos, por isso voltou a avisar que “se não forem criadas condições, chamaremos os docentes para não voltarem às salas de aulas”.

DIRETOR DE SAMORA MACHEL SUGERE A REORGANIZAÇÃO DAS ESCOLAS PARA A RETOMA EM SETEMBRO

O Democrata tentou contactar os responsáveis dos principais liceus da capital Bissau, mas apenas o diretor do Liceu Samora Moisés Machel (Regional II), situado no bairro de Missira, mostrou-se disponível. A equipa de reportagem queria saber, da parte dos responsáveis dos liceus, se as suas escolas reúnem as condições, em termos das infrasestruturas e dos conteúdos escolares que lhes permitam retomar as aulas a partir da próxima segunda-feira.

O director do Liceu Samora Moiseis Machel, Mamudu Jaló, disse que, em sua opinião como técnico da educação, seria ideal reorganizar as escolas públicas em termos dos conteúdos e das próprias infrastruturas, a fim de poderem iniciar com melhores condições no mês de setembro do ano em curso.

Lembrou que registam-se chuvadas de muita intensidade nos meses de julho e Agosto. Segundo a sua explanação, essas chuvadas poderão dificultar a deslocação dos alunos e os professores, contudo diz que estão prontos para executar planos do ministério da Educação neste sentido. Enfatizou que iniciar as aulas neste período (julho, agosto e setembro) não conseguirão concluir o primeiro período escolar, assegurando que “se não concluímos o período é impossível avaliar os alunos”. 

O responsável explicou que todos os liceus do país foram informados pelo ministério que a deverão iniciar as aulas no dia 13 deste mês, “mas aguardamos o pronunciamento ou avaliação técnica de último levantamento feito nas escolas pelos técnicos do ministério da Educação, para nos informarem como vamos funcionar neste período da chuva e da doença de Covid-19”.

“A equipa técnica do ministério da educação nacional passou aqui na escola no dia 30 de junho para fazer o ponto de situação, saber em que condições está o Liceu Samora Moisés Machel para a retoma das aulas, nomeadamente: número dos alunos e professores, salas de aulas e corrente eléctrica. Aqui iniciamos o presente ano lectivo no mês de janeiro e fomos até fevereiro, houve a greve dos professores e quando tentamos retomar, surgiu a doença de coronavírus e as aulas foram suspensas”, contou.

Questionado se a escola reúne condições para funcionar na época das chuvas, Mamudu Jaló, disse que as salas de aulas daquele estabelecimento escolar público estão em perfeitas condições e que a única dificuldade é esgoto das águas pluviais que passa junto à escola, contudo diz que a água não penetra nas salas de maneira que podem funcionar sem problemas.

Salienta-se que o liceu Samora Moiseis Machel tem 26 salas de aulas e que cada sala tem capacidade para 40 alunos, tem 120 professores.

Por: Aguinaldo Ampa 

Foto: A.A 

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