Editorial: JORNALISTA NÃO É MENINO DE RECADOS DO PODER POLÍTICO!

Mais uma vez o Presidente da República, José Mário Vaz, veio publicamente instar os profissionais da imprensa a denunciarem atos de corrupção cometidos na governação do país. Com este tipo de posicionamento, Jomav pretende imprimir a marca de um advogado pela causa da transparência no funcionamento das instituições de Estado.

Não obstante a vontade e ao entusiasmo que nortearam as intervenções do Chefe de Estado desde a sua investidura em Junho do ano transato, é bom deixar claro que a missão de um jornalista não se limita em reportar denúncias. Um verdadeiro jornalista não precisa receber, constantemente, conselhos do Presidente da República (ou de qualquer outro dirigente de Estado) em forma de “benção” para poder fazer o seu trabalho.

Um jornalista bem sabe que a Constituição da República no artigo 56 garante o exercício livre da profissão jornalística. Com base nesse princípio, o jornalista investiga, analiza e cruza suas fontes antes de proceder à publicação de qualquer investigação. Um verdadeiro jornalista, sempre guiado pela responsabilidade de servir o interesse público, não pode em nenhum caso ser “menino de recados” nem porta-voz de qualquer representante do poder político, sob pena de transformar-se em “Djidiu” ou “mininu di mandadu”.

Senhor Presidente, a missão da imprensa não se recomenda. Não se decreta! O combate à corrupção não é uma tarefa exclusiva da imprensa e dos profissionais da comunicação social. O Estado tem papel essencial de criar condições necessárias para que cada cidadão independentemente do seu estatuto social possa participar, a sua maneira, no combate à corrupção.

Infelizmente, o Estado guineense, tem facilitado a proliferação de práticas corruptivas através de uma normal e consolidada cumplicidade em diferentes escalas da administração pública, deixando sempre transparecer uma imagem nítida dos “intocáveis”. Face a esses, a justiça é absolutamente impotente.

Este facto não constitui sequer novidade para nenhum cidadão  deste país. Quantas investigações sobre a corrupção publicadas pelos jornais nacionais mereceram um acompanhamento dos orgãos competentes do Estado, nomeadamente do Ministério Público? Qual é a sua opinião, Senhor Presidente, sobre governantes com casos pendentes na justiça do nosso país? Será que o Estado guineense tem uma estratégia clara de combate à corrupção?  Caro Presidente não basta ler discursos bonitos para fazer os cidadãos guineenses acreditarem na vontade do poder político em combater a corrupção enraizada nas suas diversas dimensões. Em vez de estar a pedir denúncias por parte dos jornalistas, seria corajoso exigir conclusões de processos pendentes e respetivos julgamentos.

É preciso estratégias claras articuladas em torno de uma visão de ruptura com o passado. Para isso, os governantes deste país, em vez de passarem o tempo a dar lições de moral e conselhos tendenciosos aos jornalistas, que repensem profundamente sobre a qualidade do serviço que têm prestado a este martirizado povo.

Senhor Presidente, dirigir não se resume em discursos de sedução, pouco menos, em ensaios de populismo. Não é possível edificar um Estado limpo de corrupção com dirigentes suspeitos de práticas ilícitas.

 

Por: Redação

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