HOSPITAL REGIONAL DE BAFATÁ FUNCIONA COM AS RECEITAS INTERNAS DE 250 E 500 FRANCOS CFA

[REPORTAGEM_setembro_2021] O maior centro hospitalar da região de Bafatá, que atende 14 (catorze) áreas sanitárias e 16 (dezasseis) estruturas de saúde, funciona apenas com as receitas internas de 250 francos CFA´s provenientes das taxas cobradas em consultas a pacientes  maiores de cinco anos de idade até aos 14 anos e 500 francos CFA para os de 15 anos e adultos. Neste momento o hospital tem duas ambulâncias para cobrir todas as áreas sanitárias e estruturas de saúde a nível da região.

A equipa de O Democrata que esteve na região para fazer uma reportagem sobre o sistema sanitário da segunda capital guineense descobriu que Bafatá enfrenta enormes desafios   de sustentabilidade do hospital, bem como garantir saúde de qualidade a 290.592 (duzentos e noventa mil e quinhentos e noventa e duas) pessoas, a   população local, que procura os serviços  daquele hospital para o seu bem-estar.

FORNEEeDOR DO APARELHO DE RAIO X E RADIOLOGIA AMEAÇA RECUPERAR APARELHOS SE NÃO FOI PAGO

Recentemente foram retirados dos cofres do hospital de Bafatá 100 milhões de francos CFA que eram destinados para minimizar as demandas de saúde daquela região do leste do país e hoje o hospital é um dos maiores devedores de equipamentos hospitalares. 

O caso do roubo do dinheiro dos cofres do hospital, a 30 de março de 2021, onde os assinantes da conta na altura eram o Administrador Regional de Saúde, Osvaldo Simões Vieira, o responsável máximo da direção a nível do Ministério de Saúde, Samba Baldé, e  Silvino Daha Braba, deixou o hospital quase impotente e sem nenhumas condições financeiras para o seu funcionamento.

Os assinantes de conta encontram-se neste momento em Bissau a trabalhar no Ministério de Saúde, no gabinete de Plano Internacional do Ministério.

O diretor regional de saúde de Bafatá, Armindo Cumando Sanhá, nega ter  assinado nenhum único documento referente ao levantamento dos 100 milhões de francos CFA´s para cobrir as despesas do hospital.

Em entrevista ao jornal O Democrata, Armindo Cumando Sanhá disse não ter já nenhuma esperança quanto à devolução dos cem milhões de francos desaparecidos dos cofres do hospital, numa altura em que os funcionários e técnicos de saúde ameaçam paralisar todas as atividades hospitalares, enquanto não for devolvido o dinheiro sumido do hospital sem explicações sobre o seu paradeiro.

“A verba disponibilizada no Orçamento Geral do Estado para o hospital regional é um mistério para o atual diretor regional de saúde de Bafatá”, disse para de seguida afirmar que o que se passa no hospital de Bafatá é reflexo do sistema sanitário que o país tem.

Apesar de o hospital não depender da corrente elétrica do governo regional para garantir a sua energia, porque tém a fonte própria de abastecimento do centro hospitalar que é o gerador, neste momento depara-se com os problemas de combustível, devido a vários empréstimos efetuados que ainda não foram liquidados. 

“O fornecedor mostrou-se indisponível para continuar a fornecer o combustível ao hospital, por a direção do hospital ter contraído dívidas ao fornecedor”, notou.

Armindo Cumando Sanhá referiu que, com o roubo do dinheiro que aconteceu no hospital, a direção regional de saúde não está em condição de pagar as dívidas contraídas, alegando que neste momento o hospital não está a receber número significativo de pacientes para poder angariar fundos que permitissem M . o  gerador privado do hospital. 

“O hospital regional de Bafatá enfrenta problemas de painéis solares que se encontram numa fase de degradação avançada e permanentemente precisam de um técnico para concertá-los”, salientou.

Segundo Armindo Cumando Sanhá, quase metade dos equipamentos em funcionamento do hospital foi adquirida a crédito a particulares, incluindo os aparelhos de Raio X e de Radiologia foram emprestados ao hospital por um cidadão que já terá recebido metade do pagamento no valor de 2 milhões de francos CFA´s.

O Democrata soube de fonte hospitalar que o vendedor terá ameaçado tomar de volta os materiais, se a outra metade da dívida não for liquidada. Por incrível que pareça, estes aparelhos respondem às necessidades de saúde não só da província leste, mas também da província sul. 

Armindo Cumando Sanhá insistiu que se os 100 milhões forem devolvidos aos cofres do hospital, poderão minimizar consideravelmente as demandas do hospital regional. Frisou neste particular que, para garantir a sustentabilidade e a eficiência, o hospital precisa de uns 200 milhões de francos CFA´s.

Esse valor, na explicação do diretor de saúde, poderia ser utilizado para construir um centro de saúde que estaria mais perto da população comunitária e evitar perdas desnecessárias  de vidas ou mortes  de grávidas, ou melhor, de pacientes  que percorrem 50 quilómetros à procura do hospital regional de Bafatá.

O diretor regional de saúde de Bafatá disse na mesma entrevista que, para que o hospital possa dar  respostas eficientes às problemáticas de saúde, vai  precisar de ampliar o edifício hospitalar, para que esteja em condições de albergar e internar os pacientes devidamente, porque “o número da população já ultrapassou as salas disponíveis”.

Sanhá defendeu que é preciso também aumentar o número de camas para internamento, para poder acomodar os pacientes  que se encontram instalados  em más condições  no hospital.

 “Estamos a precisar de camas, colchões e de lençóis para permitir que haja um funcionamento adequado de um hospital”, precisou.

O médico contou que se houver situações de dois, três ou quatro pacientes de localidades diferentes, por exemplo,  a uma distância de 75 a  80 quilómetros, não conseguem responder a tempo, porque têm apenas duas ambulâncias operacionais.

“O mais complicado é quando essas ambulâncias se encontram em operações de evacuação de doentes para Bissau”, indicou.

Em relação ao boicote que se regista do setor de saúde, Armindo Cumando Sanhá  disse não ter recebido nenhum documento sobre o boicote das atividades de saúde por parte da maior central sindical do país, a União Nacional dos Trabalhadores da Guiné (UNTG).

Sobre esse assunto, no hospital regional de Bafatá não houve o completo de todos os serviços. Os técnicos têm prestado os serviços mínimos exigidos por lei. 

Por: Djamila da Silva

Foto: D. S

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