LULA VOLTA À PRESIDÊNCIA DO BRASIL 12 ANOS DEPOIS, PARA UM PAÍS DIVIDIDO

Candidato do PT somou 50,90% contra 49,10% de Bolsonaro, com 99,97% das secções contadas, na mais apertada eleição desde a redemocratização. Há menos de três anos, o novo inquilino do Planalto estava numa cela em Curitiba e era dado como acabado politicamente. “Tentaram enterrar-me vivo mas eu estou aqui”, disse.

Luiz Inácio Lula da Silva é o novo presidente do Brasil. Na mais disputada eleição desde a redemocratização do país, em 1985, o candidato do PT foi declarado vencedor da eleição presidencial, sucedendo a Jair Bolsonaro, do PL, seu adversário na noite deste domingo, dia 30. Lula tinha 50,90% dos votos. Bolsonaro, 49,10%, com 99,97% das secções contadas. Uma diferença de um pouco mais de dois milhões de votos de um total de pouco mais de 124 milhões de eleitores.

“Não é uma vitória minha ou do PT, mas de um imenso movimento democrático, que se formou acima dos partidos políticos, dos interesses pessoais, das ideologias, para que a democracia saísse vencedora”, disse Lula, em discurso num hotel de São Paulo. “As eleições têm um único vencedor: o povo brasileiro”, continuou, ao lado de Geraldo Alckmin, eleito vice-presidente, da antiga presidente Dilma Rousseff, da candidata Simone Tebet e muitos outros apoiantes.

“Estou aqui para governar esse país numa situação muito difícil. Mas tenho fé que com a ajuda do povo, nós vamos encontrar uma saída para que esse país volte a viver democraticamente, harmonicamente. E nós possamos, inclusivamente, restabelecer a paz entre as famílias, os divergentes, para que possamos construir o mundo que nós precisamos”.

“O BRASIL É A MINHA CAUSA, COMBATER A MISÉRIA É O COMBATE DA MINHA VIDA”

“A vida inteira sempre achei que Deus fosse muito generoso comigo para permitir eu sair de onde saí para chegar onde cheguei. Nós não enfrentamos um adversário, um candidato, enfrentamos a máquina do estado brasileiro colocada a serviço de um candidato”, prosseguiu.

E a propósito do seu passado político recente acrescentou: “Eu ressuscitei. Tentaram enterrar-me vivo mas eu estou aqui”.

Lula, 77 anos, volta ao cargo que ocupou de 2003 a 2010, com índice de aprovação à saída superior a 80%. Nascido em Garanhuns, no Estado de Pernambuco, no nordeste do país, migrou com a família, pobre, para o Estado de São Paulo, onde cresceu e se tornou metalúrgico, primeiro, e sindicalista, depois. Ganhou destaque nacional ao liderar greves no final dos Anos 70, e fundou, no início dos 80, o PT, pelo qual concorreu seis vezes à presidência. Perdeu as três primeiras, para Collor de Mello e para Fernando Henrique Cardoso, duas vezes, venceu as duas seguintes, a José Serra e a Geraldo Alckmin, e a atual.

Pelo meio, foi preso em 2018, no contexto da Operação Lava-Jato, e solto há menos de três anos, em novembro de 2019. Além da eleição para a presidência da República, 52% dos brasileiros votaram ainda para o governo das respetivas unidades federais – em 12 delas foi necessária a realização de segunda volta, nas restantes 15, o governador foi eleito logo. Em São Paulo, a mais rica e populosa de todas, a vitória foi do bolsonarista Tarcísio de Freitas, do Republicanos, sobre Fernando Haddad, do PT.

O dia da eleição foi marcado por quase 600 ações da Polícia Rodoviária contra autocarros disponibilizados gratuitamente na Região Nordeste. Silvinei Vasques, diretor da Polícia Rodoviária e eleitor bolsonarista, foi intimado pelo tribunal a dar explicações – a gratuitidade dos autocarros, supostamente, beneficiava os eleitores de Lula, por norma mais vulneráveis financeiramente.

“As operações realizadas foram, segundo o diretor da Polícia Rodoviária, realizadas com base no Código de Trânsito brasileiro, ou seja, um autocarro com pneu careca, outro com farol quebrado, mais um sem condições de rodar eram abordados e era feita a autuação”, afirmou Alexandre de Moraes, presidente do TSE.

“Isso, nalguns casos, retardou a chegada dos eleitores à secção eleitoral, mas, em nenhum caso, os impediu de chegar”, assegurou.

O PT, de Lula, chegou a equacionar pedir adiamento da eleição. “Essa operação da Polícia Rodoviária não foi normal, concentrada no nordeste, só lá há autocarros ou carros com problemas no pneu ou irregularidades? Por que razão fazer isso no domingo das eleições?”, disse Gleisi Hoffmann, presidente do partido.

“E só se preocuparam hoje? O que aconteceu foi criminoso. O povo do nordeste precisa ter o direito de votar livremente”, rematou.

Lauro Jardim, colunista do jornal O Globo, noticiou que a operação foi combinada no Palácio da Alvorada pelo staff do presidente e por Silvinei Vasques na quinta-feira, 27.

Por: Redação

Democrata/dn

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *