Previsão sazonal: SERVIÇO DE METEOROLOGIA ALERTA QUE A PROVÍNCIA LESTE É A ZONA DE MAIOR RISCO E DE INSEGURANÇA ALIMENTAR

[ENTREVISTA_agosto 2023] O ponto focal da previsão climática e sazonal do Instituto Nacional de Meteorologia da Guiné-Bissau, Cherno Luís Mendes, apontou as regiões do Leste do país e a região de Oio como zonas de maiores riscos e de insegurança alimentar porque nessas localidades, chove tarde e termina prematuramente e também porque as bolanhas da zona leste são arenosas e secam rapidamente.

Em entrevista ao jornal O Democrata para falar dos resultados da previsão sazonal e das consequências ou impactos que as chuvas torrenciais que têm caído podem ter nas atividades agrícolas dos camponeses, Cherno Luís Mendes disse que aquilo estava previsto. Depois do regresso da equipa técnica nacional do Fórum da previsão sazonal da África Ocidental, incluindo Chad, manteve-se e a precipitação vai continuar a ser normal, porque “não se apresentaram outros sinais de categorias que pudessem alterar a previsão inicial, para que se pudesse avaliar se iria ou não haver alterações”.

Disse que se não houver uma categoria para permitir situar se a precipitação vai estar abaixo ou acima do normal, presume-se que a média climatológica será normal.

Cherno Luís Mendes esclareceu que a chuva que tem caído é aleatória e lembrou que, em algumas zonas do país, regista-se uma seca e nas zonas em que tem chovido com alguma regularidade, nem sempre foi consecutivo.

“Em 2020, no mesmo período, a situação era bem mais complicada, porque não havia camponeses nas bolanhas. Portanto, a precipitação está normal este ano”, afirmou.

METEOROLOGIA EM DIFICULDADES PARA COLOCAR EQUIPAS NO TERRENOS E RECOLHER INFORMAÇÕES

Interpelado sobre os trabalhos realizados por técnicos no terreno,Cherno Luís Mendes admitiu que a Meteorologia da Guiné-Bissau carece de dados, porque até ao momento a missão de GTP – a missão que vai ao terreno em cada final do mês para recolher dados e informações e divulgar o boletim informativo meteorológico não conseguiu descer ainda ao terreno este ano, quase meio período das chuvas esgotado.

“Olhando para os dados que temos da previsão para este ano, que nos permitem fazer uma avaliação e saber se realmente aquilo que tínhamos perspectivado é que realmente está a acontecer no terreno, devemos concluir que não há nada de alarmante e que os camponeses estão satisfeitos com a pluviometria deste ano, apenas devem fazer um esforçozinho para acompanhar com esse ritmo e fazer boa gestão da água nos campos agrícolas”, aconselhou.        

O ponto focal da previsão climática e sazonal do Instituto Nacional de Meteorologia disse que não se pode afirmar se há ou não sinais de que a presente campanha agrícola possa ser um sucesso, sem ter presente, no terreno, equipas para acompanhar os trabalhos, fazer uma avaliação rigorosa e a olho nu da situação e se as culturas estão a evoluir positivamente ou não.

“Infelizmente, até ao momento não temos equipas no terreno. Mas tudo indica que vamos ter um ano agrícola razoável, senão bom. Mas esses sinais de esperança apenas podem ser alimentados, se os camponeses forem capazes de acompanhar as orientações e concentrar-se no terreno, porque a chuva tem tempo determinado”, alertou.

Disse acreditar que as orientações dadas pelos serviços da Meteorologia Nacional   antes do início das chuvas estão a ser seguidas paulatinamente pelos camponeses, mas falta saber se essas orientações ou informações são pbem interpretadas. Portanto “é uma das preocupações da Meteorologia, aliás, é uma das recomendações que sempre saem do fórum da África Ocidental, porque  os camponeses precisam ser capacitados para que estejam à altura de descortinar a língua técnica que utilizamos nas nossas informações”.

Frisou que um dos desafios da sua instituição é começar a capacitar jornalistas em componentes técnicas e na linguagem técnica e específica para que possam interpretar fielmente as informações e fazê-las chegar aos camponeses de forma clara e transparente.

Nos últimos dias tem chovido intensamente na Guiné-Bissau, sobretudo na capital Bissau, o que deixou muitos agricultores apreensivos.

Questionado sobre o que poderá acontecer se essa intensidade se mantiver, Cherno Luís Mendes esclareceu que a chuva que tem caído foi aleatória e lembrou que em algumas zonas do país, regista-se a seca e nas zonas em que tem chovido com alguma regularidade, nem sempre foi consecutivo.

“Em 2020, no mesmo período, a situação era bem mais complicada, porque não havia camponeses nas bolanhas. Portanto, a precipitação está normal este ano”, lembrou.

Cherno Luís Mendes apontou as regiões do Leste e a região de Oio como zonas de maiores riscos e de insegurança alimentar porque nessas localidades chove tarde e termina prematuramente e porque também as bolanhas da zona leste do país são arenosas e secam rapidamente.

Neste sentido, aconselhou os agricultores locais a fazerem boa gestão da água nos campos e nas bolanhas, por causa das duas situações enumeradas e da especificidade da zona.  

“É preciso que se faça boa gestão da água e acompanhar o calendário cultural para ver se conseguem maximizar as suas produções, por serem zonas críticas. A chuva começa no Sul e termina no sul. Nas zonas norte e leste, chove tarde e termina prematuramente. São zonas consideradas críticas no capítulo da segurança alimentar”, assegurou.

Cherno Luís Mendes afirmou que grande quantidade da chuva que se regista na África Ocidental e no Equador deve-se às descargas elétricas nos períodos das chuvas, porque “as precipitações que resultam são resultados de nuvens convertíveis com cargas elétricas”, afirmou.

“Para que essas fortes nuvens convertíveis se transformem em chuvas é preciso ocorrerem essas descargas elétricas. Quando se faz barulho ensurdecedor da descarga elétrica cai uma quantidade enorme de chuva. Se não houver essa descarga elétrica que por sinal está ligada a forte condensação das nuvens, não haverá chuvas” disse.

“QUANDO CHOVE É PRECISO DESLIGAR ELETRODOMÉSTICOS E NÃO FICAR MUITO TEMPO AO TELEFONE”

Admitiu que as descargas elétricas têm consequências na natureza, nos seres vivos, nos materiais, sobretudo eletrodomésticos, porque são um campo magnético. Destacou que é aconselhável toda vez que chove com descarga elétrica ter os eletrodomésticos, incluindo os celulares, desligados e não ficar ao telefone por muito tempo, porque “é imprevisível e não se sabe quando pode acontecer”.

“Os celulares e outros eletrodomésticos podem atrair o campo magnético dessa descarga elétrica para cair junto da pessoa e provocar uma fatalidade e danos materiais”, precisou.  

Cherno Luís Mendes defendeu que, embora seja uma instituição com um serviço técnico que não produz receitas, é preciso investir no Instituto Nacional de Meteorologia para que os seus técnicos possam desempenhar, de forma cabal, o seu trabalho.

Sublinhou que o que a Meteorologia faz ultrapassa o valor de uma receita, porque “salva vidas das pessoas e os seus bens”, destacando que é preciso equipar essa instituição em função das estações que o país tem e os poços pluviométricos que medem as chuvas.

“Quanto mais poços pluviométricos, mais fiabilidade de informações vamos ter, porque a repartição da chuva não é igual em todo o território nacional. É verdade que as estações requerem muito dinheiro e muito investimento, mas o governo deve trabalhar neste sentido para equipar a Meteorologia”, desafiou.

O ponto focal da previsão climática e sazonal do Instituto Nacional da Meteorologia revelou que a Meteorologia está à espera de um projeto de alerta rápido que deveria ter começado em 2012, financiado pelo Fundo Verde das Nações Unidades sobre o ambiente.

“Temos toda a documentação e o projeto foi validado pelo Fundo Verde, mas neste momento não sabemos como está”, lamentou e desafiou o novo governo a acionar os mecanismos junto da pessoa responsável pelo projeto, no PNUD, para ver como se pode reativar o processo e desobstaculizar todos os estrangulamentos, por ser a única alavanca para a Meteorologia.

“A maior parte dos técnicos já está em idade de reforma. Precisamos de jovens quadros com formação nessa área para dar sustentabilidade aos serviços meteorológicos. A Meteorologia não tem dinheiro para suportar a formação de quatro ou cinco técnicos, apenas com apoio de parceiros e mediante projetos. Com a implementação deste projeto, poderemos financiar a formação de novos quadros, beneficiar de novos equipamentos e instalar as estações em todo o território, bem como outros benefícios que podemos tirar do projeto”, indicou.

Cherno Luís Mendes disse desconhecer as razões por que o projeto não está a ser implementado até ao momento e criticou os sucessivos governos de pouco ou nada terem feito para melhorar a situação da Meteorologia da Guiné-Bissau, porque “dão maior atenção às instituições que geram receitas”.

“Não somos uma instituição que gera muito dinheiro, mas o trabalho que fazemos tem mais importância do que dinheiro que as outras geram. Salvamos vidas e bens e alertamos sobre perigos que os cidadãos correm ou podem estar sujeitos”, disse.  

Por: Filomeno Sambú/Aguinaldo Ampa    

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