Opinião: SISTEMA EDUCATIVO COLAPSA POR FALTA DE VISÃO EDUCACIONAL 

Nos últimos anos, a juventude guineense tem viajado para Portugal para fazer não só a licenciatura, mas também o mestrado e quiçá doutoramento em diferentes áreas vitais para revolucionar o setor educativo nacional. Essas deslocações vão comprometer ainda mais os esforços nacionais na melhoria de qualidade do ensino no país, e tende a piorar se o atual governo adotar o mesmo modo operandi do anterior executivo face à situação de classe docente. 

Esta corrida da juventude pela ciência que lhe foi negada há décadas por sucessivos governos não pode ser travada por um simples corte e/ou bloqueio de salários. Aliás, os dados de abandono do serviço e de pedido de licença para estudo avançados pela direção geral dos recursos humanos do Ministério da Educação Nacional, Ensino Superior e Investigação Científica demonstra claramente que aquela estratégia falida adotada pelo então governo não tira sono a quem já está em Portugal ou a quem tem processo e aguarda pelo visto e/ou quem pretende ir fazer mestrado em Portugal. Os sucessivos governos falharam por não apostarem na formação do homem novo. O nosso saudoso líder imortal Amílcar Lopes Cabral iniciou um processo de formação do homem novo nos primórdios da luta pela independência da Guiné e Cabo Verde.

Nas zonas libertadas eram construídas escolas e, paralelamente, os jovens eram mandados para a formação superior e técnico-profissional no estrangeiro. É incompreensível que, passado quase meio século, as pessoas que foram formadas com o dinheiro do povo estejam a governar e não podem sequer trabalhar para que haja a possibilidade de se realizar um mestrado no país, tal como está a acontecer no país sobre o qual dizemos que lhe demos  a independência, Cabo Verde. Essa gente que foi sustentado com o dinheiro de Estado é que está hoje a impedir os jovens de irem formar-se com os seus próprios meios.

Não se esqueçam que eles vão à bolsa privada. Por isso, são obrigados a sacrificar-se: trabalhar e estudar. Quão difícil esse desafio, mas a força matriz do país consegue dar voltas a esse sacrifício. O falhanço a que me refiro está a olhos nus: se tivéssemos governos com programas fundados nos horizontes e que priorizassem a formação, através de elevação do nível do corpo docente, a Faculdade de Direito de Bissau e a Escola Normal Superior Tchico Té, através do departamento da Língua Portuguesa apoiado pelo Instituto Camões teriam capacidade de estar a ministrar há anos o mestrado. 

É preciso que o governo adote uma estratégia que não seja a de bloquear o salário dos docentes que estão a fazer mestrado e doutoramento em Portugal deve-se sim exigir do mestrando e do doutorando a apresentação semestral de declaração da Universidade/Faculdade que comprove a sua frequência de unidades curriculares.

Para evitar a fuga de professores, é preciso não só um salário atrativo para os docentes, mas também definir as áreas prioritárias para o mestrado e quiçá doutoramento, porque, que a verdade seja dita, muitos jovens estão a fazer mestrado e doutoramento numa área que ainda não interessa ao país. Outrossim, é urgente solicitar uma assessoria técnico- científica a Portugal e Brasil para a elaboração de uma lei para o mestrado e doutoramento no país, permitindo que as instituições privadas com capacidades técnico-científicas possam lançar sementes, pelo menos iniciando o mestrado, antes do fim desta legislatura.

Por: Tiago Seide 

Professor e Jornalista

Author: O DEMOCRATA

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