Presidente da ANAG: “PREÇO DE 300 FCFA POR QUILOGRAMA DA CASTANHA DE CAJÚ É ACEITÁVEL E PODE SUBIR SE HOUVER  ESTABILIDADE”

O presidente da Associação Nacional dos Agricultores Guineense (ANAG), Jaime Boles Gomes, afirmou que o preço base anunciado pelo executivo de 300 francos CFA por quilograma da castanha do cajú é aceitável, tendo em conta o contexto do mercado, contudo disse que pode haver mais procura da castanha guineense, o que poderá provocar a subida do preço, se houver estabilidade política e governativa na Guiné-Bissau. 

“O preço base fixado é aceitável, mas para nós o mais importante é o cumprimento do preço base, que não seja violado, comprando a castanha a um preço inferior. Em 2023, o preço era de 375 fcfa. Um preço muito superior ao que foi anunciado para este ano, mas no ano passado o preço fixado não foi cumprido e o cajú foi comprado no valor de 150 francos cfa, o que foi muito negativo para os lavradores”, disse o presidente da ANAG, durante a entrevista ao Jornal O Democrata, por telefone, para debruçar sobre o preço de referência anunciado pelo executivo, acrescentando que o preço da castanha do cajú pode aumentar, mas tudo dependerá da estabilidade política e governativa, porque um investidor não colocará o seu dinheiro onde há fogo. 

“DIZ-SE QUE O NOSSO CAJÚ PERDEU A QUALIDADE, MAS O SEU SABOR NATURAL MANTÉM-SE”

O governo anunciou, através do comunicado do Conselho de Ministros extraordinário, que o preço de referência da castanha do cajú por quilograma é de 300 francos cfa, tendo decidido ainda que a base tributária é fixada em 800 dólares por tonelada e fixou o dia 15 de março próximo, como a data da abertura oficial da campanha de comercialização e exportação da castanha de cajú para este ano.

O preço fixado no ano passado era de 375 fcfa, mas a castanha acabou por ser vendida até ao valor de 150 fcfa por quilograma junto do produtor, facto que levantou preocupações aos produtores, dado que está em perspetiva a realização das eleições legislativas para o mês de abril e junho, coincidindo exatamente com o período da comercialização da castanha nas matas e do seu escoamento para Bissau. 

A castanha de cajú é o principal produto de exportação da Guiné-Bissau e representa quase 90 por cento dos produtos exportados. 

O presidente da ANAG explicou na entrevista que 300 fcfa é o preço de partida e que não se deve vender a castanha a um valor inferior ao anunciado.

É começar pelo preço de referência e fazer subir o valor, de acordo com a concorrência do mercado.

“A procura da castanha permite que seja vendida a um bom preço e tudo isso dependerá essencialmente da estabilidade política e governativa do país, porque quem quer investir na compra da castanha jamais vai colocar o seu dinheiro onde existe fogo, ou seja, num país instável”, alertou, apelando ao governo a criar todas as condições para fiscalizar a comercialização da castanha e criar igualmente as condições que darão mais confiança aos investidores para virem comprar a castanha guineense.

Sobre a perda da competitividade do mercado guineense e também da perda de qualidade da castanha de cajú da Guiné-Bissau, enfatizou que se fala que o cajú guineense perdeu a qualidade, “mas a grande verdade é que o cajú da Guiné mantém o seu sabor original, o sabor biológico. O nosso cajú tem um sabor muito mais elevado em relação às outras”.

“O problema da perda de competitividade não cabe a nós, mas sim é um trabalho árduo que deve ser feito pelo governo e quem ganha com isso são os próprios atores da fileira do cajú”, assegurou, acrescentando que a sua organização engaja-se na formação de produtores em boas práticas, no tratamento e conservação da castanha nos armazéns, de forma a permitir que o comprador possa sair satisfeito com o produto e quando for processado na fábrica que saia muito bem, porque assim o investidor vai ganhar mais confiança e voltará no próximo ano”, notou. 

Revelou que uma das propostas que o governo tinha em mãos era de 400 fcfa por quilograma junto do produtor, mas acabou por anunciar 300 fcfa o que, segundo a sua explicação, é aceitável para os produtores e que apenas apelou às autoridades que sejam vigilantes para que a castanha não seja comprada a um preço muito inferior ao valor anunciado, à semelhança daquilo que aconteceu no ano passado.

“Volto a reafirmar que para nós é aceitável este preço, mas chamo a atenção do governo que não permita o monopólio do mercado”, advertiu.

Questionado se não teme que a campanha do cajú não corra bem por causa das eleições legislativas antecipadas que poderão ser realizadas entre abril e junho, coincidindo com o período da campanha do cajú, disse que se o governo tivesse considerado o cajú como um produto precioso e que cobre cerca de 90 por cento dos assuntos da população guineense, deveria priorizar mais a campanha de cajú e não marcar as eleições no período da comercialização da castanha.

Em relação ao interesse manifestado por empresas estrangeiras na castanha guineense, assegurou que na verdade existem muitas manifestações de interesses no cajú da Guiné-Bissau, porque é muito saboroso e é natural.

“Podem haver milhares de interessados no nosso cajú. A materialização deste interesse é preciso abrir as portas, mas para abri-las as é preciso que haja a paz, a estabilidade política e governativa, porque se não existir a paz e estabilidade nenhum empresário colocará o seu dinheiro na Guiné-Bissau”, aconselhou.

Refira-se que a Guiné-Bissau exportou, em 2023, 170 mil toneladas da castanha de cajú que saíram oficialmente dos portos de Bissau, uma quantidade muito inferior à do ano 2022, embora a previsão fosse de 225 mil toneladas. 

Por: Assana Sambú

Author: O DEMOCRATA

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