Uma das frases mais emblemáticas do líder da luta de libertação da Guiné e Cabo Verde é sobre o seu juramento para com o povo. O compromisso de Cabral para com a causa da luta era conhecido por todos. Mesmo assim, pelas palavras, pelos gestos e pelas ações, o homem reiterava essa entrega total ao serviço da luta que deveria conduzir à independência e abrir as portas da construção nacional, do progresso.
E assim, em 1969, solenemente, afirmava:
“Eu jurei a mim mesmo, que tenho que dar a minha vida, toda a minha energia, toda a minha coragem, toda a minha capacidade que posso ter como homem, até ao dia em que morrer, ao serviço do meu povo, na Guiné e em Cabo-Verde. Ao serviço da causa da humanidade, para dar a minha contribuição, na medida do possível, para a vida do homem se tornar melhor no mundo. Este é que é o meu trabalho”, Amílcar Cabral.
Um autêntico testamento de insolvência, e amor pelo povo e pela sua dignidade. Homem na Guiné, em Cabo Verde e em qualquer canto do mundo. Esse compromisso ultrapassa fronteiras, tinha uma dimensão universal, uma luta pela humanidade no seu todo. Pode parecer utópico quando visto com óculos do conformismo que caracteriza hoje a nossa sociedade.
Era um posicionamento de convicção e não uma utopia. Cabral acreditava na inteligência, na resiliência e no prognatismo do Homem em questionar as realidades, os desafios do seu tempo e equacionar soluções.
Cabral não era um santo! Não era a sua missão. Aliás, santos vivos não existem. A semelhança dos líderes que pintaram seus nomes na história da humanidade, tiveram seus limites, suas fraquezas, seus defeitos. Cabral não era uma exceção. Era um homem com limites, fraquezas e defeitos. Ele tinha consciência das suas limitações. Teve muitos erros enquanto Líder e Comandante de guerra. Quem não teria, no lugar de Cabral, cometido erros? Talvez quem nunca ousasse tentar a luta!
Nelson Mandela, Fidel Castro, Mahamat Ghandi, Kwame Nkrumah, Martin Luther King eram perfeitos? Claro que não! Claro que tiveram provas, tentações e fracassos, mas superaram. Cabral dizia que perder uma batalha não significava perder a guerra. Não esteve presente no ato da proclamação da independência mas deu a sua vida para que assim fosse.
No Cabral devemos revisitar o sentido do juramento. Ke ki juramentu pa anos ahos?
Quando levantamos o braço direito, ouvindo atentamente à leitura do ato de posse, e ao pronunciarmos o verbo jurar na primeira pessoa do singular (JURO), em que pensamos? Que significado damos ao juramento hoje? Simples decoração, mera formalidade momentânea que, ao sair do local, tudo fica por detrásl? Fazemos o que queremos!?
Quantos juramentos assistimos diariamente neste país? Nas associações, nos partidos políticos, nas instituições da República e até nas igrejas ?
Cabral e o juramento hoje…!
Bissau, 9 de setembro de 2024
Por: Armando Lona



















