O comentador desportivo guineense, Gorky Medina, admitiu que mesmo que a Federação de Futebol da Guiné-Bissau (FFGB) decidir contratar o técnico espanhol, Pep Guardiola, para orientar a Seleção Nacional de Futebol, não terá resultados desportivos almejados pelo órgão devido à “desorganização” interna no organismo que dirige o futebol do país.
Medina, que foi jogador de futebol, sustentou ainda que não existe planeamento para o futebol na instituição federativa nacional, por isso, nenhum projeto desportivo terá sucesso nas competições internacionais onde a Guiné-Bissau tem participado com diferentes seleções nacionais.
Medina falava esta terça-feira, 10 de junho de 2025, numa entrevista concedida ao Jornal O Democrata para analisar a saída de Luís Boa Morte do cargo do selecionador nacional no inicio da semana, através de mutuo acordo entre o técnico luso são-tomense e o organismo liderado por Carlos Mendes Teixeira “Caíto”.
“Fizemos um favor ao Luís Boa Morte após o termino do vinculo contratual, porque o técnico vai agora trabalhar num local onde terá melhor organização, um plano de trabalho melhor e um projeto melhor. Onde não existe um planeamento, nenhum projeto pode funcionar lá. Portanto o que estou a falar não existe na Federação de Futebol do país”, disse.
“Mesmo trazendo Pep Guardiola vai acabar por abandonar o cargo de Selecionador Nacional, porque já chegou num nível da organização alto, treinador Barcelona FC, Bayern Munique e Manchester City e somente num dia do trabalho nas instalações da FFGB acabará mesmo por abandonar”, justificou Medina.
Igualmente docente na Faculdade de Direito de Bissau, Medina diz que sente pena dos jogadores nacionais que nasceram na Europa, com destaque para o avançado Beto, que desde que iniciou a jogador o futebol em Portugal somente jogou no processo altamente estruturado e agora está a deparar-se com a situação de desorganização na estrutura que dirige o futebol nacional.
“È preciso ter muita coragem para um jogador que nasceu na Europa decidir a jogar pela seleção nacional e temos somente que agradecer aos jogadores como caso de Beto, porque tenho dúvidas se eu estivesse no lugar de Beto, se aceitaria jogar pela Guiné-Bissau devido ao nível gritante de desorganização interna. Mas acho que a presença de Boa Morte foi determinante para o Beto abraçar o projeto do país”, sublinhou Medina.
Segundo explicações do comentador desportivo, devido à situação da desorganização interna, vários jogadores recusaram jogar pela Guiné-Bissau após receber apelos familiares. De acordo com Medina, esta realidade é domínio publico e a própria imprensa desportiva tem conhecimento deste assunto. Nesta senda, Boa Morte decidiu abandonar simplesmente devido à desordem da estrutura de futebol nacional.
Na opinião de Medina, o problema da Guiné-Bissau para alcançar os resultados desportivos plausíveis não está na equipa técnica, mas o problema está na estrutura organizacional da FFGB devido à falta de dirigentes competentes no sentido de fazer crescer o futebol nacional.
“A FFGB não está a fazer nada a nível de futebol de formação há vários anos. Agora temos pessoas indivíduais que estão a levantarem-se todos os dias para investir suas energias nas respetivas escolas de futebol, mas pessoas estão a criar ilusão que podemos ter uma seleção de sub-15, mas sem um Campeonato da formação. Em nenhuma parte uma pessoa que tem uma escola de formação de atletas pode ser selecionador da camada juvenil onde o futebol esta a crescer”, acrescentou Medina.
Relativamente ao próximo selecionador nacional, Medina alertou que pela estrutura que a FFGB apresenta a seleção nacional não pode ter um técnico estrangeiro. Portanto, o comentador defendeu que o Comité Executivo do órgão deve apostar num treinador nacional ou num treinador que bem conhece o futebol africano.
“O próximo Selecionador até pode não ser guineense, mas tem que ser uma pessoa que culturalmente se identifica conosco e podemos decidir apostar num treinador senegalês e que conhece o futebol africano. Boa Morte conhece somente o futebol europeu, porque cresceu e vive na Europa”, conclui Medina.
Importa salientar que após a Guiné-Bissau ter conseguido apurar-se quatro vezes para a fase final do Campeonato Africano das Nações (CAN) nas últimas quatros edições da competição, sob a batuta do treinador guineense, Baciro Candé, embora nunca tenha alcançado a fase seguinte da prova, a atual Direção da FFGB decidiu fazer nova aposta da estrutura interna da equipa técnica nacional.
Após o termino do contrato de Candé em março de 2024, o organismo, em conjunto com o governo, contratou o treinador luso são-tomense, Luís Boa Morte. O técnico tinha como objetivo principal colocar a Guiné-Bissau no CAN”2025 e CAN’2027. O segundo objetivo de Boa Morte é conseguir qualificar a seleção nacional pela primeira vez para o Campeonato do Mundo de 2026.
Em Em seis jogos realizados na fase de qualificação para o CAN’2025, a Guiné-Bissau venceu apenas uma partida na primeira jornada frente à seleção de Eswatini em partida realizada em Bissau, graças ao golo de Bura.
Após o triunfo frente ao Eswatini, a Guiné-Bissau perdeu na segunda jornada diante de Moçambique, perdeu na terceira jornada diante do Mali, empatou com Mali para quarta jornada em Bissau, empatou com Eswatini na quinta jornada e perdeu no encerramento da sexta jornada em casa, frente à seleção de Moçambique no mês de novembro último e ficou logo fora da fase final da competição.
Depois de falhar a quinta qualificação consecutiva para o maior torneio de futebol em África, ondas de criticas começaram logo a volta da equipa técnica e na altura era visível nas redes social e nos bastidores o desregrado dos guineenses sobre o desempenho do técnico luso são-tomense.
Em relação à fase do apuramento da zona africana para o Campeonato do Mundo 2026, Boa Morte estreou-se com um empate 0 a 0 em casa diante da seleção de Etiópia na terceira jornada e em seguida defrontou a poderosa seleção do Egito também em casa e voltou empatar 1 a 1, numa partida que deixou satisfeitos os adeptos nacionais. Após dois empates consecutivos, Boa Morte não conseguiu mudar o rumo dos acontecimentos e somou duas derrotas consecutivas diante das seleções de Serra Leoa e Burkina Faso, o que deixou a Guiné-Bissau quase fora do Mundial. Em 10 jogos oficiais realizados como selecionador nacional, Luís Boa Morte somente alcançou uma vitória.
Devido aos resultados negativos, as duas partes decidiram terminar o vínculo, através de “mutuo acordo” entre as partes. A informação foi tornada pública pelo próprio presidente da FFGB, Carlos Mendes Teixeira “Caíto”, em conferência de imprensa na sede do órgão em Bissau, horas depois da reunião com a ministra da Cultura, Juventude e Desportos da Guiné-Bissau, Maria da Conceição Évora, nas instalações do Palácio do Executivo na passada segunda-feira.
Caíto Teixeira, como é conhecido entre os guineenses, promete anunciar para breve o novo selecionador nacional e garantiu que pode nacional ou estrangeiro.
Por: Alison Cabral
















