A Guiné-Bissau enfrenta uma complexa dinâmica em que estratégias de ativismo político são disfarçadas de ações sociais, minando a legitimidade dos movimentos cívicos. Os Jovens são financiados por partidos para atuar como “ativistas” nas redes sociais, disseminando insultos, notícias falsas e ataques pessoais contra opositores, sobretudo em troca de cargos públicos ou benefícios materiais.
O campo ativista guineense é um jogo de adaptações táticas, mudando de campo em função dos interesses. A busca por postos reflete não apenas oportunismo, mas a necessidade de sobreviver em um Estado frágil, onde recursos escassos são controlados por elites políticas. O ativismo opera nesse sentido, numa dialética de jogo de “dá cá e toma lá” caracterizando-se por adaptações estratégicas contínuas, onde atores políticos e sociais deslocam seus campos de ação em resposta a oportunidades de influência, recursos e posicionamento institucional, sintetizando com precisão a lógica perversa do clientelismo político que domina contextos frágeis de Estados como a Guiné-Bissau. Trata-se de uma dinâmica de trocas espúrias que corrói instituições e aprisiona jovens em ciclos de dependência permanente.
Entretanto, algumas organizações de sociedade civil surgiram nesse contexto como plataformas de reivindicações sociais (educação, saúde, inflação), mas seu propósito é a oposição ao governo. Discursos divisionistas são usados para explorar a população menos informada, desviando o debate de questões estruturais (como pobreza e corrupção) para conflitos identitários. Quando não recompensados, esses “ativistas” vazam informações comprometedoras sobre seus patrocinadores, revelando o caráter instrumental da prática. A Casa dos Direitos, tem servido como “Embaixada dos Direitos Humanos” para articular críticas políticas com financiamento de organismos e cooperação internacional.
Como Funciona o “Jogo”
Elites políticas/partidos políticos oferecem promessas de empregos, cargos simbólicos, dinheiro imediato e acesso á recursos. Assim, “falsos militantes” juram apoio incondicional, mobilização de rua, ataques á opositores. Utilizam violência, agressões e insultos como “prova de lealdade” para garantir benefícios, num contexto onde a corrupção Sistêmica torna o Estado como um banquete de cargos, não uma estrutura de serviços (ex.: 70% do orçamento da Guiné-Bissau vai para salários dos “filiados”.
Essa tática perpetua o ciclo de pobreza onde os jovens trocam autonomia futura por sobrevivência imediata. Aliás, como diz um provérbio mandinga: “A árvore que cresce na sombra de outra nunca se torna grande”. A libertação começa quando os jovens percebem que são sementes de baobás, não mato rasteiro.
O caminho para um ativismo transformador na Guiné-Bissau não passa pela instrumentalização de causas, insultos ou agressões, essas táticas alimentam o ciclo de odio, instabilidade e deslegitimação. O desafio é enorme, mas a estratégia mais eficaz reside em: (1) ancorar a ação em princípios éticos (consistência, transparência, não-violência), (2) concentrar esforços em causas concretas com documentação sólida e propostas, (3) construir alianças amplas e baseadas em valores e éticas, (4) utilizar e fortalecer os canais institucionais sempre que possível, (5) comunicar de forma estratégica e responsável para mobilizar a base e a opinião pública e (6) manter a resiliência e o foco no longo prazo.
É um caminho difícil, que exige coragem, paciência e um compromisso inabalável com métodos democráticos e respeitosos, mesmo perante a provocação. A credibilidade e a legitimidade moral são as armas mais poderosas do ativismo face a governos e instituições frágeis.
Por: Iaguba DJALO
Investigador, Consultor Arquivista/Bibliotecário
Bissau, Guiné-Bissau



















