Entre os dias 23 e 25 de junho, investigadores, professores e especialistas da Guiné-Bissau, Portugal, Alemanha, Angola, Brasil e Cabo Verde debatem e partilham experiências pedagógicas e temas relacionados com a educação literária para o século XXI: oportunidades e desafios; ensino e aprendizagem inicial da leitura e da escrita nas escolas do ensino básico da Guiné-Bissau, durante três dias do congresso a decorrer na Escola Superior de Educação – Unidade Tchico Té, em Bissau, sob o tema o “ensino da Língua Portuguesa na Guiné-Bissau”.
Foram ainda debatidos durante estes dias os temas relacionados como: Projeto Jovens Leitores: Literatura Infantojuvenil e educação artística como motores da cultura e da educação na Guiné-Bissau; Chuvas: contributos para a leitura da obra poética de Amílcar Cabral em contexto escolar; Que perfil do professor de Português na Guiné-Bissau?; O ensino da Língua Portuguesa na Guiné-Bissau: as atitudes dos usuários sobre a inserção da língua guineense, o crioulo (kriol), no sistema educativo.
Os participantes abordam ainda os desafios da Língua Portuguesa como segunda língua na alfabetização de jovens e adultos na Guiné-Bissau; o ensino da gramática no contexto multilíngueguineense: uma abordagem interacionista; desenvolvimento das competências comunicativas orais no 2.º ciclo (6.º ano) do Ensino Básico na Guiné-Bissau; o modelo da competência recetiva do Português aplicado ao caso da Guiné-Bissau; tecnologias digitais no ensino da Língua Portuguesa na Guiné-Bissau: um estudo de caso na Escola Superior de Educação – Unidade Tchico Té; implicações pedagógicas da integração digital no ensino de L2: um olhar sobre a atuação docente no contexto da Guiné-Bissau.
COORDENADOR DO CENTRO DE LÍNGUA PORTUGUESA DESAFIA O GOVERNO A VALORIZAR O ENSINO SUPERIOR
De acordo ainda com a agenda do primeiro congresso internacional, os investigadores, professores e especialistas abordam a política linguística angolana e o Português como segunda língua; a construção de um instrumento de avaliação docente: a Escola Portuguesa na Guiné-Bissau; desenvolvimento de instrumentos de avaliação e certificação; da tradição oral ao direito escrito em Língua Portuguesa na Guiné-Bissau; educação intercultural e inclusiva em abordagens pedagógicas em contexto escolar; educação intercultural no ensino de línguas: fundamentos e abordagens para a intercompreensão cultural no contexto multicultural; assim como temas relacionados ao livro-objeto como ferramenta pedagógica na educação artística e linguística; experiências de teatro nas escolas do Ensino Básico e do Ensino Secundário na Guiné-Bissau; manuais didáticos da Orquestra Rizoma: uma ferramenta para o desenvolvimento musical, técnico e artístico; e a música como estratégia didática.
Em entrevista esta terça- feira, 24 de junho, ao semanário O Democrata, o coordenador do Centro da Língua Portuguesa na Guiné-Bissau, Júlio Azevedo, defendeu que o governo assuma o compromisso de valorizar o ensino superior no país, por entender que “não há ensino superior sem um investimento para a investigação científica e a inovação tecnológica”. Daí que, segundo o docente, o governo deve rever a sua política orçamental, alocando um valor robusto ao ensino superior, para que, através da investigação científica e da inovação tecnológica, a Guiné-Bissau possa encontrar um caminho certo que projete o desenvolvimento do país.
Júlio Azevedo desafiou os jovens a apostarem na formação, porque “não há liberdade, não há progresso sem a formação” e porque a formação acaba por significar liberdade e a liberdade começa a partir de hoje.
“Este evento académico tem um simbolismo muito importante no sistema educativo. É um evento que tem como objetivo a nossa língua, a língua da comunidade da CPLP. É um evento da ciência. É mobilizador de toda a comunidade académica, permitindo o debate teórico, a troca de conhecimento e de experiência, no domínio de boas práticas no ensino. Espero que, no final do evento, os professores de Língua Portuguesa possam ter um guia de orientação sobre como encarar as abordagens e boas práticas para o ensino da Língua Portuguesa na Guiné-Bissau” disse.
Embora admita a falta de infraestruturas para corresponder às demandas dos jovens que procuram o Centro de Língua Portuguesa, Júlio Azevedo sublinhou que, em termos científicos, o centro está num bom caminho.
“Prova disso é o início do mestrado no próximo ano letivo, 2025/2026. O curso de Licenciatura em Língua Portuguesa está consolidado. A título de exemplo, temos hoje quadros formados localmente que estão a dar resultados positivos a nível nacional e internacional. As nossas expetativas mantêm-se, ou seja, formar homens capazes de assegurar toda uma continuidade do compromisso promocional do ensino da Língua Portuguesa no país”, argumentou.
Sobre o mestrado, o coordenador enalteceu a sua importância para o país, sobretudo para os professores com vínculo ao Estado, tendo estes a facilidade de fazer o mestrado localmente, sem perder o emprego e podendo conviver com os familiares.
“Este mestrado é igual à pós-graduação ministrada em todas as universidades do mundo. A Língua Portuguesa é um instrumento de oportunidade. Para além de ser um código linguístico de acesso à ciência, não se pode construir progresso sem que tenhamos o domínio da interpretação, porque quem conhece a língua consegue interpretar, e quem não a conhece está longe deste instrumento poderoso de transformação”, disse, sublinhando que a Língua Portuguesa continuará com o seu estatuto e importância.
“Cabe-nos a missão da sua promoção. E este é um dos grandes objetivos deste primeiro congresso: debater grandes questões e desafios à volta do ensino da Língua Portuguesa. O equilíbrio entre a Língua Portuguesa e as línguas nacionais é um debate que se abre. Mas, do ponto de vista da função, as nossas línguas africanas têm o seu espaço, e a Língua Portuguesa tem também o seu espaço. Enquanto professores e investigadores, não encontramos razões para que haja uma certa agitação à volta da convivência entre essas línguas. No fundo, acabam por ser fatores de riqueza e de força que sustentam todo o processo de crescimento e desenvolvimento do nosso país”, disse, quando questionado sobre como vê o equilíbrio entre a promoção da Língua Portuguesa e o respeito pelas línguas nacionais.
Questionado se há espaço para uma convivência harmoniosa no sistema educativo entre a Língua Portuguesa e as línguas nacionais, Júlio Azevedo respondeu que esse espaço existe, na medida em que os professores nacionais provêm desse mosaico linguístico e que é salutar a coexistência e a relação entre a Língua Portuguesa e as línguas africanas.
“Essas línguas africanas podem funcionar como um código de contraste e ajudar a clarificar certos princípios didáticos de ensino. Todas essas línguas, juntamente com o Português, são uma riqueza dentro da diversidade interna que conhecemos”, disse, afirmando que Portugal figura na primeira linha no apoio ao setor do ensino.
Neste particular, Júlio Azevedo revelou que o Instituto Camões tem apoiado o Centro de Língua Portuguesa na Escola Normal Superior Tchico Té com bibliografias, assistência e financiamento.
“Outras instituições têm apoiado a Escola, sobretudo na formação dos professores. Por exemplo, temos professores a formar-se em Portugal, no Brasil, na China, e futuramente esperamos que o apoio seja alargado para os professores das ciências exatas na Rússia”, concluiu.
Por: Tiago Seide






















