Desporto nacional: “DESORGANIZAÇÃO E AMADORISMO DA FFGB LEVAM A GUINÉ-BISSAU A PERDER JOGADORES PARA O SENEGAL E PORTUGAL” – comentador

O comentador desportivo guineense, Gorky Medina, afirmou que a Guiné-Bissau tem perdido, há vários anos, jovens talentos do futebol de origem guineense que atuam na Europa para as seleções de Senegal, França e Portugal, devido à “desorganização e ao amadorismo” existentes na Federação de Futebol da Guiné-Bissau (FFGB), órgão que gere o futebol nacional.

“Desde que começamos a abordar o assunto do futebol, sempre falei da questão da desorganização. Como pode o jovem defesa-esquerdo do Barcelona, Alejandro Baldé, que nasceu e cresceu em Espanha e começou a jogar no Barcelona por volta dos 11 ou 12 anos de idade, lidar com o modo de funcionamento da nossa federação e constatar toda a desorganização da estrutura do futebol nacional? Nunca vai aceitar voltar a ser convocado para jogar na Seleção Nacional, como já aconteceu com vários jogadores guineenses nascidos em França, que foram chamados para um jogo da Guiné-Bissau em Portugal e nunca mais voltaram”, afirmou.

“Todas as semanas vemos na televisão jogadores com os apelidos Gomes, Mendes e Silva a marcar golos na Liga Francesa de futebol. São filhos de emigrantes guineenses, têm possibilidade de requerer documentos da Guiné-Bissau através da nossa embaixada, mas não aceitam jogar pela Seleção Nacional porque sabem que a FFGB é extremamente ‘desorganizada e amadora’”, acrescentou Medina.

O antigo futebolista falava esta quarta-feira, 10 de dezembro, numa entrevista ao jornal O Democrata, onde analisou a ascensão de muitos jovens futebolistas guineenses no futebol europeu, mas que têm optado por representar as seleções de Portugal, França e Senegal, este último país com fronteira com a Guiné-Bissau.

“Os maiores valores do Ocidente são estruturais e organizacionais, aspetos que não existem na nossa federação. Por isso, aqueles jovens talentosos não aceitam jogar pela Guiné-Bissau, e perdê-los-emos todos para esses países. Se compararmos o nosso país com o Senegal, nota-se claramente que eles estão 50 anos à nossa frente em termos estruturais e organizacionais. Além do Senegal, Cabo Verde também está mais organizado do que a Guiné-Bissau, e a prova disso é a qualificação, pela primeira vez, para a fase final do Campeonato do Mundo de 2026, com mérito, num grupo onde estava a seleção dos Camarões”, explicou.

Segundo Medina, os jogadores guineenses só aceitam jogar pela Guiné-Bissau quando já não têm hipóteses de representar as seleções de Portugal, França ou Senegal, como aconteceu com Almani Moreira e Ednilson Mendes “Lobo”, que só aceitaram após completarem 30 anos de idade.

“Estes aspetos da ‘desorganização e amadorismo’ vão continuar a afetar-nos se não mudarmos a forma de estar na FFGB. Estamos a falar de um país que não tem um período fixo para o início do Campeonato Nacional. Joguei na Guiné-Bissau até ao fim da minha carreira e nunca o campeonato começou na mesma altura. A FFGB não está minimamente implicada em organizar a sua estrutura, e o poder das diferentes áreas está concentrado nas mãos do presidente do órgão. Por isso, a Guiné-Bissau vai continuar desorganizada, vai perder talentos e vai continuar a receber jogadores para a seleção apenas depois dos 30 anos de idade”, concluiu.

Para inverter essa tendência, o comentador considera essencial que o poder político esteja organizado e fiscalize o funcionamento da FFGB, garantindo que esta cumpra a sua missão.

Medina recordou que a reforma profunda na Federação Portuguesa de Futebol foi conduzida por um político, Gilberto Madail, cuja liderança permitiu à seleção portuguesa alcançar consistência e sucesso nos últimos 30 anos.

“Não estou a pedir que o poder político assuma a presidência da FFGB, mas é importante que perceba que deve ajudar a federação a organizar-se da melhor forma. Isso é fundamental, porque se não mudarmos, continuaremos a ver os nossos jogadores a escolherem o Senegal”, afirmou.

Além disso, Medina lamentou o silêncio da FFGB sobre a não realização do jogo amistoso entre Guiné-Bissau e Angola.

Disse que a direção liderada por Carlos Mendes Teixeira “Caíto” tem a obrigação de informar os guineenses sobre as razões do cancelamento.

Neste momento, vários jovens futebolistas guineenses destacam-se no futebol internacional, muitos deles optando por representar Portugal, França ou Senegal. Entre os que representam Portugal, destacam-se Roger Fernandes, Geovany Quenda, Anísio Cabral, Daniel Banjaqui, Joelson Fernandes e Samuel Soares.

Já na Liga Francesa, destaca-se o jovem prodígio de origem guineense Robinho Vaz, avançado de 18 anos do Marselha, atualmente cobiçado pela Federação Senegalesa de Futebol. Embora tenha recusado ofertas para naturalizar-se e representar o Senegal, optou por continuar na seleção sub-19 da França, decisão que gerou críticas na comunidade senegalesa.

Por: Alison Cabral

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