Opinião: QUANDO OS GUINEENSES QUERIAM, CONSEGUIRAM

A esta data [23 de janeiro ] em 1963, quando os jovens guineenses decidiram que não podiam mais atrasar-se por nenhum momento, a luta de libertação nacional e a vontade de viverem livres no seu país e serem donos do próprio “nariz”. Condições estas que eram suprimidos no próprio território. Não era fácil ser guineense nessa época, como atualmente, mas a vontade de viver numa Guiné melhor superava todas as dificuldades.

Quando os bissau-guineenses queriam, conseguiram.

Na noite de 23 de janeiro de 1963, como a história, centenas de homens com apenas quatro pistolas, Arafam Mané, atirou em Tite, no interior da Guiné-Bissau, o primeiro tiro da Luta de Libertação Nacional. As tropas do PAIGC atacaram o quartel de Tite, a história que quase todos guineenses conhecem. Não quero aqui debruçar sobre a História da Guiné-Bissau de uma forma geral, mas sim, no valor simbólico desta data e o que ela significa para nós, decerto que isso pode não ter o mesmo valor que algumas pessoas dariam a ela. Porém, considerando isso como um artigo de opinião, sinto-me de certa forma provocado a dar a minha.

Esta data significa muito mais do que um tiro de início de partida. Apesar de a Luta contra o jugo colonial pela Libertação Nacional ter durado onze anos, culminando com a data da Independência (considero isso um erro fatal), em nenhum momento deveríamos sentir que a luta acabou. Cabral dizia que a independência era o programa mínimo. Comemoramos tanto ela que acabamos por esquecer outras tantas lutas que nos são arrojadas. Colocamos nossos antigos combatentes e nossos/as heróis e heroínas nas comemorações e homenagens e, por conseguinte, ausentamo-nos de lugar de combatentes, considerando que a luta acabou. A luta mudou. Há que haver novos combatentes para a nova luta!

A Luta de Libertação Nacional não foi fácil, como nenhuma é. Mas, driblamos todos os obstáculos. Certo, não tinha dinheiro envolvido e ninguém seria pago para tal. Algo maior do que qualquer valor monetário nos movia, o BEM-ESTAR do nosso povo. Usamos todas as técnicas e toda nossa inteligência em defesa do interesse maior e comum.

Quando os bissau-guineenses queriam, conseguiram.

De todas as datas históricas da Guiné-Bissau prefiro mais desta. Foi a maior prova da nossa ousadia. Afinal, primeiro passo é meio caminho andado. A nossa liberdade é maior do que qualquer inimigo, cantamos todos numa só voz:

“Pa nô uni, pa nô mama
Pa nô uni, pa nô luta, pa nô terra…”

O que aconteceu com esta música? Lembro-me que a cantávamos nas escolas primárias, até finais dos anos 90.

Acredito que consideramos que ela não faz mais sentido, a luta já acabou. Se assim for, considero que estamos criando uma geração sem o nacionalismo e patriotismo. Esta música definia o caráter de sermos bissau-guineenses, isto é, nos moldava a um só corpo. Depois de vencermos a luta esquecemo-nos das lutas de reconstrução nacional, saímos da unidade nacional para o individualismo, egoísmo e uma geração sem causa. A geração de mais de noventa por cento de analfabetos fez a maior história do país até então, e a maior prova de intelectualidade já mostrada pelos bissau-guineenses (lutar e conseguir expulsar o colonialismo em onze anos), nossa geração de “letrados” não conseguiu ainda sequer construir uma Universidade pública em quarenta e dois anos, apenas enumerando um entre muitas coisas.

O objetivo deste pequeno texto é entre outros, fazer algumas indagações sobre o presente do nosso país. Pois, não consigo entender o que aconteceu com os guineenses que colocavam a Guiné-Bissau em primeiro lugar, acima de qualquer interesse pessoal. É verdade que tinham guineenses que lutaram a favor do colonialismo português, sei lá, quais foram os motivos, e não me interessa, mas, eram a minoria e nós os vencemos. Sinto-me livre em fazer algumas questões e convidar os guineenses a refletir sobre todas as ações e condutas que temos mostrado durante todos esses anos de “independência” e que começamos a “andar com nossos próprios pés”.

Gosto das afirmações de Mia Couto, quando diz que “o maior problema dos países pobres, é que em vez de produzir riquezas produzem ricos”, e de Antony Gramsci quando diferencia o intelectual orgânico do intelectual tradicional, sendo o primeiro aquele que se suicida como classe para ascender com a massa. Este foi o propósito de Cabral e outros camaradas, que ao contrário do segundo que luta para manter o status quo, fato semelhante ao que decorre na Guiné-Bissau atualmente.

Se considerarmos os 42 anos de independência em termos quantitativos no que refere aos sonhos almejados e realizados, acho desnecessário termos atirados o primeiro tiro que resultou na expulsão dos colonialistas. Pois, não estamos sendo melhor do que os colonialistas, à medida em que continuamos explorando nosso povo da mesma forma que os colonialistas faziam, não somos legítimos de criticá-los. Uma vez que não conseguimos dar uma vida melhor a nosso povo e continuamos brigando com nossos irmãos para ocupar cargos na governação do país, como podemos criticar o colonialismo?

E aos jovens, como podemos criticar os governantes, se quando procuramos um emprego, queremos na verdade dinheiro ao invés de trabalho? Se estamos a estudar para que no final conseguíssemos um emprego com boa remuneração, sem pensar em como desenvolver o país, estamos sendo diferentes? Quando em nossas associações juvenis perpetrarmos a corrupção, falsificamos os relatórios e desviamos os financiamentos, não estaríamos a confirmar que cada povo tem o governo que merece?

Sinto falta daqueles guineenses que não se conformavam com a situação do país e decidiram enfrentar a luta, hoje vejo aqueles que são pagos para sair nas ruas para defender os interesses de um grupo de pessoas por uma camisola e comida de um dia, enquanto eles engordam suas contas bancárias no estrangeiro. Sinto falta daquele povo revolucionário e unido, que não se deixava sucumbir e que colocava os interesses máximos do país acima de qualquer valor monetário. Agora vejo uma geração medrosa e sequestrada que teme a luta, que exerce seu direito só nas urnas.

Precisamos sair da zona de conforto. Precisamos quebrar os paradigmas, fazer novas apostas, mudar de ritmo. Precisamos de um novo 23 de janeiro. É urgente fizermos a nova partida e primeiro passo de novo.

Por isso falo, quando os guineenses queriam, conseguiram.
Queremos, podemos, conseguiremos!
Mantenhas!

Por: Magnusson Da Costa
Estudante de Humanidades
Bahia-Brasil

3 thoughts on “Opinião: QUANDO OS GUINEENSES QUERIAM, CONSEGUIRAM

  1. “Se considerarmos os 42 anos de independência em termos quantitativos no que refere aos sonhos almejados e realizados, acho desnecessário termos atirados o primeiro tiro que resultou na expulsão dos colonialistas. Pois, não estamos sendo melhor do que os colonialistas, à medida em que continuamos explorando nosso povo da mesma forma que os colonialistas faziam, não somos legítimos de criticá-los. Uma vez que não conseguimos dar uma vida melhor a nosso povo e continuamos brigando com nossos irmãos para ocupar cargos na governação do país, como podemos criticar o colonialismo?”

    Caro amigo Magnusson da Costa, este parágrafo arruinou a minha leitura, e deixou-me intrigado. Pois na minha humilde opinião, acho impossível ser pior que o colonizador português.
    Abraços!

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