Opinião: E SE MONSIEUR PRESIDENTE DIOMAYE FAYE FOSSE GUINEENSE?

Resumo: O presente artigo visa basicamente analisar a (correlação) existente entre a recente eleição do presidente da república do Senegal, Monsieur Bassirou Diomaye Diakhar FAYE, em face das crónicas peripécias político-eleitorais na Guiné-Bissau, ao longo dos últimos 30 anos, com o advento político-partidário e a consequente realização das primeiras eleições democráticas, em 1994.

1.      Introdução e Contexto

Um pouco por toda a Guiné-Bissau, observámos com júbilo a eleição do “Monsieur” Bassirou Diomaye Diakhar FAYE – 5º presidente da república do Senegal, até aqui era um desconhecido Inspetor dos Impostos e antigo secretário-geral do PASTEF[1].

Todavia, é preciso reavivar a nossa memória coletiva, pois antes de 24 de setembro de 1973, o Senegal havia fundado a primeira Universidade de Dakar (atualmente – Universidade Cheikh Anta Diop – UCAD) ainda nos primórdios da década de 60 do Século XX.

A Guiné-Bissau era um dos países que ainda se emergia e que lutava pela sua autodeterminação, contava com cerca de 11 licenciados, nos anos 70, tendo lutado, durante 11 anos, por uma sociedade mais livre das amarras do colonialismo e do imperialismo português. Porém, a Guiné-Bissau, só e apenas, conheceu a sua primeira Universidade Colinas de Boé (por sinal privada) apenas em 2003, ou seja, uma distância de mais de 40 anos.

A sociedade senegalesa, no entanto, foi se consolidando através de investimento sério, estável e organizado no setor da Educação. É, justamente, na educação que se encontra o “Porto Seguro” da liberdade e democracia desta nação de “Taranga”, porque sem a Educação, sem a Sociedade Civil forte e despolitizada, não seria possível eleger “Monsieur” Bassirou Diomaye Diakhar FAYE, com apenas 44 anos de idade. Os jovens senegaleses que o digam, pois esta luta constou-lhes sacrifícios e perdas de vidas humanas, nas ruas, um pouco por todo o país de “Yolof”, desprotegidos, mas sempre convictos.

E se ele – “Monsieur” Bassirou Diomaye Diakhar FAYE – fosse guineense, provavelmente, não seria eleito presidente da república da Guiné-Bissau, porque, por cá, chamar-lhe-íamos de jovem delinquente e anarquista; atrevido; irresponsável; falta de maturidade; impreparado; cheio de pressa na vida; ambicioso, etc.

Hoje, porém, com júbilo, vemos guineenses e uma boa parte de cidadãos de outros países africanos, a aplaudirem a sua eleição, como se de guineense ou de seus conterrâneos se tratasse.

Bravo!

Mas, logo no dia seguinte, após a sua eleição, pareceu-me que já não tínhamos mais motivos para comemorar e apreender o exemplo da expressão popular. Apesar de número crescente de jovens guineenses que, cada vez mais, se forma ou beneficia de bolsas de estudos, as desigualdades sociais ainda persistem, pois falta-nos a consciência cidadã, temos défices do pensamento coletivo, privilegiamos a agenda particular em detrimento da coletividade.

Em matéria da Educação, as escolas públicas guineenses têm vindo a perder a eficácia, há mais de duas décadas. Contudo, há um aumento significativo do número das Universidades e das Instituições de Ensino Superior (IES), mas com “qualidades discutíveis” ou até mesmo “questionáveis”. As nossas escolas públicas estão no “chão” com reflexos diretos na atuação da nossa classe política.

Como se não bastasse, os nossos ditos políticos, analistas, ativistas, pensadores, estudiosos, que deviam e podiam servir-nos de referência e de bússola na Guiné-Bissau, ao longo dos últimos 44 anos, precisamente a idade nativa do “Le Monsieur” Bassirou Diomaye Diakhar FAYE (1980), estes têm feito justamente o contrário, contribuindo, cada um a sua maneira, para que houvesse Estado Guineense, curiosamente, curto do ponto de vista temporal – periodológico, mas prenhe de acontecimentos paradoxais, de contradições, de tergiversações, de violência, de golpes e contragolpes, de acrobacias e reviravoltas, de intentonas e “inventonas” e até mesmo de assassinatos políticos, tudo isto para não falar de outros flagelos que o confirmam, concorrendo esses qualificativos, cumulativamente, para que a partir do estudo dos seus desdobramentos se possa tornar mais cognoscível a explicação dos meandros da luta pelo poder com que, há quase 50 anos, as elites políticas da Guiné-Bissau se vêm confrontadas.

Se “Le Monsieur” Bassirou Diomaye Diakhar FAYE fosse guineense, muito provavelmente, não teria sido eleito presidente da república da Guiné-Bissau, porque o atual contexto político-institucional guineense não possibilita que jovens – pan-africanistas, patriotas, com desapegado à corrupção, despidos de espírito de lutas pelo protagonismo a todo custo, jovens honestos, trabalhadores – fossem tidos e achados nas esferas públicas do exercício profissional.

À mercê da ESCOLA i.e., da Educação, a sociedade senegalesa foi progressivamente evoluindo e os comportamentos visionários de jovens, como “Le Monsieur” Bassirou Diomaye Diakhar FAYE, foram se emergindo, a par de “Le Monsieur” Ousmane SONKO. Os tempos mudaram e o povo senegalês soube ler este tempo de mudança geracional.

Perguntar-nos-ia, alguém, sobre quais são as receitas dessas conquistas, diríamos que não há muito SEGREGO relativamente à diferença entre os nossos dois (2) povos: a resposta básica seria o investimento sério na EDUCAÇÃO – a mãe de todas as respostas possíveis!

Por cá, na Guiné-Bissau, há exatamente 32 anos, creio que com a criação do SINAPROF[2], a semelhança da abertura político-multipartidária, o sistema educativo entrou em colapso. Os valores sociais passaram a ser outros. Os interesses estão, doravante, voltados ao enriquecimento ilícito rápido. Captura do erário público. Quem recebe algum tacho vai fazendo apologias ao seu “patrão”, clamando que este “patrão” continue açambarcando o erário público. Quem pensa diferente é, pura e simplesmente, “excluído” pelo sistema, que vai criando privilegiados à volta da figura do Estado.

“Son Excellence Monsieur LE PRESIDENT Bassirou Diomaye Diakhar FAYE, “Je vous souhaite du succès et soyez une source d´inspiration pour changer le paradigme en Afrique et dans le monde – Merci”.

Portanto, que não nos iludamos. Não agimos de forma ingénua tentando comparar ou fazer benchmark de contextos desconexos comparativamente entre Guiné e Senegal, na justa medida em que – Senegal – fez e tem feito o seu percurso político-democrático de forma notável. Não tem sido fácil, mas fê-lo com os devidos percalços, com o respeito ao primado da lei associado ao investimento no setor da Educação “tout court”.

Da inspiração do Le Monsieur President Bassirou Diomaye Diakhar FAYE, aguardemos que “Son Excellence” nos traga novo “input”, que não hipoteca o futuro dos jovens, porque os grandes problemas dos jovens são a formação, o emprego, a habitação, a pobreza, a inflação e seus efeitos, entre outros fatores relacionados, em grande medida, com o défice de uma liderança visionária e inclusiva.

Por isso, não é a toa que toda a ÁFRICA OCIDENTAL se vangloriou com a qualidade da democracia senegalesa, que vai se reinventando, cada vez mais.

Fundamentados numa VISÃO clara: “Notre vision est de faire du Sénégal une nation juste, prospère, souveraine et ancrée dans des valeurs fortes. Cette vision prône la nécessité de trouver de nouvelles voies de développement économique et social du Sénégal se fondant sur les valeurs que sont: LE PATRIOTISME LE TRAVAIL L’ETHIQUE ET LA FRATERNITÉ”.

 Apenas uma opinião!

Abril de 2024

Por: Santos FERNANDES


[1] LE PATRIOTISME LE TRAVAIL L’ETHIQUE ET LA FRATERNITÉ DU SÉNÉGAL.

[2]SINDICATO NACIONAL DOS PROFESSORES.

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