Na adolescência, apenas uma criança, que carreguei a minha cruz que fui obrigado a carregar pelo povo da Guiné-Bissau em luta pela liberdade contra o jugo colonial. Isto porque cresci forte e alto, na adolescência superei todas as idades normais, para sempre ingressar as idades mais elevadas que aquelas da minha própria idade fisiológica e mental. Assim, todos os parceiros das fases de idade por que passei, sempre temeram o adolescente Bubo Na Tchuto.
Carregado com a minha cruz em plena luta libertadora, embora jovem adolescente, comecei a pensar diferentemente dos meus colegas combatentes, e, sobretudo, dos meus chefes. Por exemplo, Amílcar Cabral dizia que não devíamos deixar “os Tugas” dormirem tranquilos na nossa terra, pelo que devíamos buscá-los onde quer que estivessem. Transformei imediatamente este slogan em minha palavra de ordem. Comecei logo a não poder ficar numa Barraca, ou, num grupo esperando sermos atacados para reagir.
Em consequência, passei a ir a procura dos “Tugas” lá onde se encontravam, ou, lá onde supostamente a informação dizia que iam atacar, carregado de uma bazuca e as sua munições em quantidade suficiente, uma metralhadora «bi-pés», com a sua longa fita de munições enlaçada em volta do corpo, uma pistola e uma espada. Por causa disso, os meus chefes me acusaram junto da direcção do Partido e da Guerra apresentando-me como um desordeiro que não queria submeter-se a nenhuma ordem. Então, fui chamado apresentar-se a Conakry, na presença do próprio Amílcar Cabral, que me perguntou o que é que eu queria, sendo um jovem que não queria obedecer a ninguém, criando desordem nas frentes de combate?
Respondi então, calmamente ao Amílcar, explicando qual era a palavra de ordem que servia de minha guia, como acima expliquei.
Foi o próprio Amílcar que se levantou para me abraçar, elogiando-me como sendo o seu verdadeiro soldado. Em seguida, me entregou uma carta que me dava todas as liberdades para que pudesse deslocar-me para todas as zonas de combate a procura dos “Tugas” lá onde se encontravam.
Foi assim que, de campo de batalhas a campos de batalhas, contribuí para libertarmos o país, a actual Guiné-Bissau. E, apesar de todos os obstáculos e calúnias, Bubo Na Tchuto, um puro guineense, atingi a graduação de Almirante que ganhei com mérito de sangue.
Será ainda o alto, forte e feio guineense nomeado Bubo Na Tchuto que faz medo a certas pessoas, ou, o corajoso Almirante, combatente da liberdade da Pátria? Quem sabe?
Hoje porém, face ao que me aconteceu há quem diz “é o que ele merece”. Porém, outro com certeza pensará que é uma ironia da vida. Mas, quem bem conhece Bubo Na Tchuto se lembrará que foi a partir das brincadeiras de crianças que ele se identificou com o povo americano por se considerar alto, forte e corajoso.
Aliás, é a identificação que sempre fiz, ao ponto de considerar, anos após independência, de tudo fazer para emigrar para os Estados Unidos da América, onde hoje me encontro, numa situação contrária a minha livre vontade.
Claro que, da fase de libertação chegamos numa nova fase, que foi o próprio Amílcar Cabral quem nos disse que “ a luta de libertação constituindo a primeira fase do processo de libertação de um povo, era penosa sem dúvida, mas muito menos difícil a realizar, que a segunda fase do arranque para o desenvolvimento”. Ninguém entre os combatentes entendeu esta “parábola”.
Para nós, ao contrário, a libertação do país significava o período de “Maná” que outrora conheceu o povo Hebreu. Talvez foi a razão porque o período se tornou extremamente mais difícil, porque todos nós queremos tornar-nos ricos de um dia para outro. Em consequência, tornamo-nos vulneráveis a mercê dos nossos “tubarões” nacionais, isto é, dos nossos políticos intriguistas aliados dos “dragões” internacionais interessados de espoliar os nossos recursos nacionais.
Quem não se lembra da quantidade de droga deixada no Rio de Biombo e que ficou conhecido como a «Droga de Biombo», que foi ali deixada, intencionalmente, para obrigar o povo guineense conhecer a droga para se tornar, ao mesmo tempo, “cobaia” e “isca” nas mãos dos «dragões» internacionais como povo mortiço de fome? Pois, foi a partir daí que a maioria parte do povo guineense (entre os quais nós mesmos), ficou a saber da existência concreta de algo que se chama droga pura.
Tudo foi feito pelos «barões» internacionais da droga que precisavam de uma certa cumplicidade interna para poderem utilizar o nosso país, sem controlo, para entrar na Europa e na América, local de verdadeiros consumidores prontos a alienar uma importante soma para conseguir o seu produto de “alívio” criando uma enorme procura. O que explica o fomento desse mercado diabólico.
Hoje, pergunto como não somente parar, mas acabar definitivamente com este drama humano, onde, por um lado, existem os grandes consumidores com enormes possibilidades com que adquirem e consomem tranquilamente o seu produto de «alívio» e diversão. Enquanto por outro lado, existem os «barões» super potentes aliados de cumplicidades variadas pelo mundo inteiro para fazerem chegar o seu produto diabólico lá onde querem, em detrimento dos pequenos que por motivos de fome caiem nas suas armadilhas?
Está ali, hoje, nesta questão, o fundo das minhas preces que faço quotidianamente a Deus Pai pedindo para que me perdoe e perdoe o mundo inteiro, sobretudo, os que directa ou indirectamente contribuíram e contribuem a manter este processo dramático de negócios diabólicos.
Perguntaste-me onde vou?
Prazo a Deus que me deixem voltar com a minha cruz para Madina de Boé!
USA/Bissau, 30/07/2016.
Por: Almirante, Américo Bubo Na Tchuto (transcrição do Professor Filipe Benício Namada)

















Coragem oa nosso irmao. Deus vai te trazer de Volta a tua Guinee Bissau
Desejo-lhe uma grande bênção de Deus. e que as coisas correm de milhor.
Este homem não merece o que está passar com ele, eu peço que justifica América seja mais ponderante sobre a possibilidade de o libertar.
No algum comentário anterior, refero-me a inocência de gravidade da situação de tráfico de droga, foi uns dos factores que influenciam a este senhor a integrar neste negócio.
Bubo na tchuta para quem conhece sabe bem, é um um homem simples e simpático e que dava muito bem com qualquer pessoa.
Resumindo a minha ideia e não ferir a sensibilidade qualquer pessoa, eu penso que foi a inocência que levou este senhor a cair nesta armadilha. por isso agradeço e peço que justifica América atenua alguns factos.
O Homem sempre cai na tentação porque é a natureza dele. Mais um dia você vai merecer uma segunda oportunidade, que lhe permitira corrigir com os erros do passado e tornado um Homem novo.
Coragem Bobu, Tudo que tem inicio tem um fim:
Meu caro amigo Almirante, Américo Bubo Tcuto! Acabei de ler (e reler alguns parágrafos que entendi mais significativos e acutilantes), e senti o seu sentir. Também eu fui Combatente da Guerra Colonial, mas do outro lado, do lado dos “Tugas”, como era vulgo caracterizar-nos, a nós Portugueses. Estive nessa, então Província Ultramarina da Guiné, durante os anos de 1965 e 1966, por ordem do Governo Português que então administrava por direito então convencionado esse território. Fazia parte de um Companhia de Caçadores Independente, tendo percorrido um boa parte da Guiné e aí e contactado e vivido em circunstâncias precárias a condição dessa boa gente que não me sai da memória.
Não havia instalações militares ainda, mandei fazer uma palhota redonda coma as dos Fulas e aí morei grande parte do tempo, num destacamento na pequena tabanca, denominada CUMBIJÃ, cuja sede de companhia era Aldeia Formoso (Zona de Forreá), a norte do rio do mesmo nome que limitava a Mata do Cantanhês.
Fizémos imensas incursões na região; Nhacobá, Samenau. Unal. Xacual, Bricama, Lenguel, Bolola, nas imediações dos rios Cumbijã, Balana e Balanazinho, etc. Participei na grande operação na mata de Cufar-Nalú (Catió), bem como no Norte na região de Mansabá.
Conheci várias raças: papéis, balantas, mandingas, manjacos felupes, fulas, futa-fulas, nalús e bijagós.
De todos guardo gratas recordações. Também guardo momentos de aflição e desespero, de tragédia mesmo, mas esses arquivei-os na sombra…
Ainda hoje quando vou a Lisboa e sempre que posso dou um salto ao Largo de São Domingos, junto ao Rossio onde sempre encontro velhos amigos, que me tratam por ‘Furié Kilimenti? ou ‘Professor’… Isto diz tudo.
Não discuto questões políticas, mas… tudo o que é humano me interessa! Aí agarro as pessoas, sinto-as sem qualquer descriminação e talvez com mais afecto por as sentir mais carentes.
O seu texto interessou-me, mormente quando cita Amílcar Cabral a chamar a atenção para a segunda fase, após a luta da libertação, que é a fase do arranque para o desenvolvimento do país libertado que, sendo menos penosa seria a mais difícil de realizar.
Aí está uma evidência até aos dias de hoje!!!
Mais que os “Tugas”, vejam os estragos advindos e que o Sr. Almirante apelida de “Tubarões nacionais”, “Dragões internacionais” e “Barões da droga” que continuam a dizimar esse LINDO país, constituído por gente boa, mas espoliada, desprotegida e ensanguentada…!
É isso que nos dói, mau caro amigo, você, filho da Guiné (enquanto eu, filho adoptivo me considero), mas que ambos pugnámos e continuamos a lutar para levantar do chão esse país que ambos amamos, elevando-o ao nível dos mais respeitados internacionalmente, para bem desse bom e sacrificado povo que bem o merece. Cada o fez e vai fazendo a seu modo, ainda que inicialmente em campos contrários.
Só lá voltei há quatro anos, mas não escondo o momento em que aí fui reconhecido, lembrado que estava de tantos nomes de gente que já fez história e outros, então jovens e agora ‘homens e mulheres grandes’. “Furié Kilimenti, genti sempre papia di bó!… e um a Mariama, emocionada num forte abraço segreda-me ao ouvidfo e em bom português: “Kilimenti, não mais esqueci o que aprendi na tua escola!” (- Sabe di mais!!!)
Andei perlo Xitole, Contabane, Saltinho,,, mas n~qao cheguei a ir a Madina do Boé, que ficava mais para a frente no caminho para a a Guiné-Conacri. De lá vinha gente visitar o meu saudoso amigo Tcherno Raschid, com quem partilhei algumas conversas, sentados lado a lado na esteira do seu alpendre, indagando sobre o Alcorão, usos e costumes do povo fula.
Termino esta crónica alongada que vai pela emoção e evocação de desejos comuns e que, respondendo à sua pergunta direi: mesmo sem medalhas é meu desejo lá voltar ainda este ano. Deus me o permita.
Um abraço irmanado na saudade que nos devora e um “DJARAMA” amigo!
Grande homem
Nunca queria falar desse grande homem sempre tenho boas recordações dele dos quatro amigos que Anibal Alarba Gomes Embalo e Intalte Quiaque cada minha resa que faço peço ao Senhor que um dia a justiça Americano saiba ponderar e mandar-lhe de volta para a sua patria que sempre amou e deu tudo que pode até a data que o levaram.