Opinião: COMO O PAIGC PODE RECONCILIAR SUA HERANÇA DE INDEPENDÊNCIA COM A AUSÊNCIA DE INSTITUIÇÕES PARA PRESERVAR A HISTÓRIA DA LUTA? 

A Guiné-Bissau comemora hoje 52 anos de independência, altura em que o PAIGC enfrenta um profundo paradoxo: foi o arquiteto da independência da Guiné-Bissau, mas o próprio país que fundou carece de instituições sólidas (Arquivo, Biblioteca e Museu) verdadeiramente nacionais para preservar a memória dessa luta. Esta ausência abre um fosso entre a lembrança heroica do passado e o risco de esquecimento no presente, uma tensão que se reflete tanto no debate político atual quanto no estado precário em que se encontram os vestígios da luta.

É um paradoxo que merece uma reflexão profunda. A celebração dos 52 anos de independência da Guiné-Bissau ocorre efetivamente em um contexto onde a vitalidade das comemorações contrasta fortemente com a fragilidade das instituições dedicadas à memória e a falta de um plano político que reconheça a memória como um fundamento da soberania e da cidadania. A verdadeira “luta pela libertação” continua hoje, agora pela libertação da própria história das amarras do esquecimento.

Essa situação representa, além de um problema cultural, mas também abre uma lacuna à soberania. A incapacidade de guardar e gerir a própria memória histórica limita o conhecimento que o país tem sobre si mesmo, podendo levar a uma “amnésia institucional”. A verdadeira celebração da independência passa pela luta pelo direito à memória e pela adoção de políticas credíveis e sustentáveis á preservação do patrimônio histórico.

Celebração sem apropriação.

Na ocasião do dia da independência, o país realiza conferências e manifestações em homenagem a Cabral, mas sem que haja uma reflexão profunda ou medidas concretas para repatriar e valorizar o seu acervo documental, que permanece “em zonas cinzentas e nebulosas” da história nacional.

A incapacidade de construir uma narrativa histórica baseada em fontes primárias e críticas impede a consolidação de uma identidade nacional sólida e partilhada por todos os guineenses.

O país vive hoje uma forte dependência de fontes externas: A conservação de acervos físicos importantes, como o Arquivo Amílcar Cabral, fora do país, significa que a história nacional é, em parte, contada e guardada por outros. Isto limita a nossa soberania sobre a própria narrativa histórica.

Num contexto de instabilidade política crônica, pobreza e desafios de segurança, a preservação da memória é frequentemente vista como um “luxo” ou uma prioridade secundária pelos governos. Os orçamentos são direcionados para questões entendidas como mais prementes (saúde, educação, segurança, infraestruturas básicas), enquanto instituições como arquivos e bibliotecas, museus definham por falta de verba e de atenção estratégica. Isto cria um círculo vicioso: a instabilidade impede o investimento na memória, e a falta de memória (e das lições que ela traz) perpétua a instabilidade.

Por: Iaguba DJALO

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