MORTE LENTA DA PESCA ARTESANAL NA REGIÃO DE CACHEU

Na Região de Cacheu a Pesca Artesanal atravessa uma crise profunda sem precedente que espelha a imagem da sua morte lenta em todo o território nacional. O Porto de Pesca de Cacheu, o principal Porto da Pesca Artesanal da região é um exemplo do descalabro da Pesca desta natureza no nosso país. Quem visita o Projecto de Pesca Artesanal de Cacheu percebe, logo a olho nu, constata a degradação do património do projecto e até a própria memória dos pescadores na difícil faina na calada da noite nos 25 Portos de desembarque do pescado na região de Cacheu.
Dentre as autoridades pesqueiras nacionais poucas estão interessadas em agir para pôr cobro a esta situação de degradação profunda em que se encontra a Pesca Artesanal na Região de Cacheu. O Projecto da Pesca Artesanal de Cacheu, quase, já não existe na prática. O que ainda existe neste complexo pesqueiro nacional, criado pelo governo em 1974 e começou a funcionar no ano seguinte, é apenas o nome: Projecto de Pesca Artesanal de Cacheu.
Qualquer visitante ao projecto da Pesca Artesanal de Cacheu descobre o total estado do abandono em que foi votado pelo governo. Tudo a sua volta tem só um nome, a morte lenta. Na realidade não há nada no espaço do projecto da Pesca Artesanal de Cacheu que não apresente características de abandono e até os rostos dos pesqueiros espelham a triste realidade de um sector de extrema importância para a economia nacional, sobretudo, para a sobrevivência das famílias rurais.
Na cidade de Cacheu as opiniões são unânimes que o Projecto da Pesca Artesanal de Cacheu nunca conheceu os melhores dias desde o ano de 1975 – data em que iniciou as suas actividades da faina na primeira capital da Guiné-Bissau. Porque há 40 anos da sua existência só funcionou com base num sistema financeiro que nunca dinamizou a própria actividade de pesca artesanal na região. As autoridades pesqueiras nacionais só limitavam a conceder créditos aos pescadores para a compra de combustível que, logo depois da faina noturna e uma vez vendido o pescado, devolvem o dinheiro emprestado ao governo, guardando o resto para alimentação das suas famílias.
Este sistema nunca conseguiu dinamizar as actividades do Projecto da Pesca Artesanal de Cacheu nem melhorou as condições dos 130 pescadores da região inscritos na Associação de Pesqueiros de Cacheu. Por outro lado, há três anos que o projecto deixou de funcionar, tudo porque “estragou uma peça pequenininha de fábrica de gelo”, que na opinião dos Pesqueiros custa uma “ninharia” de Francos CFA. Os homens da faina artesanal da Região de Cacheu acusam as autoridades pesqueiras nacionais de nada terem feito para a dinamização e a rentabilização das actividades pesqueira do projecto e o próprio Porto de Pesca em si.
É uma tristeza ver que tudo o que está a volta do Projecto da Pesca Artesanal de Cacheu encontra-se em ruina sob visão impávida sem reação dos técnicos do Ministério das Pescas que, como tem sido hábito neste país implantado a beira do rio Geba, invariavelmente queixam também de não receberem há meses os seus salários.
O que acelera, de que maneira, a degradação progressiva do projecto da Pesca sob olhar das estatuas dos descobridores portugueses também mal tratadas pela nossa renúncia à história do “descobridor” português, Nuno Tristão.
Aliás, quando se anda com olhar atento pela cidade de Cacheu, não obstante ser um século e meio da nossa história capital da então Guiné-portuguesa, está totalmente abandonada a sua sorte. Ninguém compreende, em Cacheu, sobretudo, dentre os Pesqueiros por que há três anos não funciona o projecto de pesca e até hoje nenhum dos sucessivos governos que dirigiram o nosso país se dignou resolver o problema da fuga de gás na fábrica de gelo do Projecto de Pesca Artesanal por falta de uma pequena peça. O que na opinião dos pescadores mostra a falta de vontade das autoridades pesqueiras nacionais em dinamizar na Região de Cacheu a Pesca Artesanal.
Contudo, perante este estado de degradação avançada que atingiu todo o espaço da Pesca Artesanal na Região de Cacheu, o Delegado Adjunto da Pesca da região, António Assor, fala apenas de falta de meios de circulação para atingir os 25 principais Portos de desembarque de pescado da região. Todavia, António Assor, que está de mala aviada para Bubaque, reconheceu que realmente é necessário a mão do governo em reabilitar o Projecto da Pesca Artesanal da Região de Cacheu porque é vital para a economia e a sobrevivência, sobretudo, dos Pescadores de Cacheu.
Instado pelo nosso jornal, a especificar esses meios de circulação que é necessário para atingir os 25 Portos de desembarque, António Assor escusa de os identificar alegando que estão a vista e todas as pessoas os conhecem e sabem do que é que ele está a falar quando diz “falta de meios de circulação para atingir os 25 principais Portos de desembarque de pescado na Região de Cacheu”.
Confrontado com a ruína em que se encontra neste momento o Projecto da Pesca Artesanal de Cacheu, António Assor levanta a cabeça e olha para o rio Cacheu e com um tom de uma voz suave, pensativo reconhece perante os repórteres que “para fazer o Projecto da Pesca Artesanal de Cacheu funcionar em pleno é necessário que a sua fábrica produza cinco toneladas de gelo. Ter combustível e redes de pesca para vender aos pescadores num preço acessível”.
Todavia, o facto do projecto pesqueiro viver hoje numa situação de degradação não deixa o António Assor abordar à-vontade, com o nosso jornal, as questões candentes relacionadas com a crise profunda que o projecto espelha a olho nu de qualquer visitante, recorrendo de vez em quando “não sei” ou “não estou em condições” ou ainda “hoje é domingo”.
Criado em 1974 após a independência, o Projecto da Pesca Artesanal de Cacheu tem a capacidade de produzir cinco toneladas de gelos para Pescadores dos 25 Portos de desembarque do pescado da região. Mas, hoje não produz gelo sequer para os Pescadores da cidade de Cacheu onde se encontra o principal Porto de Pesca da Província do Norte do nosso país.
Não obstante, quase cada tabanca de Cacheu possuir o seu grupo de pescadores, estão inscritos na Associação dos Pescadores de Cacheu 130 Pescadores dos quais 90 são senegaleses e apenas 40 são nacionais que na sua maioria possui Canoa de Remo. Curiosamente todos os pescadores senegaleses possuem Canoas a Motor bem equipadas para a faina noturna, o que lhes garante assim uma maior vantagem e segurança em relação aos pescadores nacionais. Ninguém, em Cacheu, percebe como esta situação de desigualdade se verifica nas barbas das autoridades pesqueiras nacionais sem que haja uma resposta ou pelo menos uma tentativa de corrigir este desequilíbrio na actividade de faina entre os pescadores nacionais e senegaleses.
A única coisa que se pode orgulhar dela é o facto dentre os 40 pescadores nacionais 17 serem mulheres. O que mostra cada vez mais o empreendedorismo das mulheres guineenses nas actividades económicas do país e o sector da pesca não foge a regra da dinâmica económica feminina nacional.
VIGUIPESCA RESISTE À MORTE LENTA DA PESCA ARTESANAL EM CACHEU
Se o Projecto da Pesca Artesanal de Cacheu está no estado de coma profunda e que fustiga as suas actividades pesqueiras, o Projecto da Pesca Privada Viguipesca tem estado a resistir estoicamente a fúria do descalabro que abala na região todas as actividades da pesca artesanal. Tem, por exemplo, ainda a funcionar duas câmaras de conservação de pescado de 70 toneladas e uma câmara congelador de 40 graus negativos. Por outro lado, o seu Director-Geral Amadu Kamoka disse, ao nosso jornal, estar convicto que chegarão, brevemente, os melhores dias para fazer funcionar, em pleno, de novo aquele projecto que outrora exportava pescado para Portugal e Espanha.
“Estamos convencidos que chegarão brevemente os melhores dias para, pelo menos, fazermos a empresa regressar aos seus velhos tempos de 1996 em que exportávamos para Portugal e Espanha 44 toneladas de pescado. Estamos também em condições de retomar, em pleno, a nossa actividade pesqueira assim que a União Europeia retomar a cooperação com a Guiné-Bissau, em particular, Portugal e Espanha”, explicou ao nosso jornal Amadu Kamoka que considera ainda que para reactivar de novo o projecto pesqueiro Viguipesca é necessário adquirir, no mínimo, 20 Canoas a Motor, bem equipadas, com dez pescadores em cada uma, e ter combustível e redes de pesca a preço acessível para que os pescadores as possam adquirir.
Viguipesca tem a capacidade de produzir dez toneladas de gelo por dia. Mas, neste momento não produz porque não possui clientes suficientes para o adquirir na cidade de Cacheu. Por exemplo, antes de sete de Junho de 1998, o projecto da Pesca Viguipesca produzia dez toneladas de gelo, embalava o pescado e fazia o controlo de qualidade de pescado nas suas instalações na cidade de Cacheu antes de serem exportados para Portugal e Espanha.
“Nós podemos reactivar toda essa nossa produção que tínhamos antes da guerra de sete de Junho de 1998. Até podemos adquirir um Camião-frigorífico para levarmos o pescado as outras regiões do nosso país”, garantiu ao Democrata” Amadu Kamoka visivelmente convicto que com o novo governo, agora eleito, chegarão os bons ventos e boas marés para o sector da pesca artesanal nacional.
Para o antigo presidente de Associação de Pescadores de Cacheu, Armando Gomes Pacatana, a crise que levou o sector da pesca artesanal de Cacheu a viver agora em profunda convulsões se deve ao facto de muita gente que actua no sector não querer ver o bem-estar dos pescadores nacionais que labutam noite e dia em difíceis condições de fainas noturnas sem seguranças e com péssimas canoas de remo, correndo séries riscos de perder vidas, enquanto que os seus colegas senegaleses que pescam nas nossas águas possuem pirogas a motor bem equipadas e seguros para a faina noturna.
Na visão de Armando Gomes Pacatana a única saída a esta situação de crise no sector da Pesca Artesanal é a privatização do Projecto da Pesca Artesanal de Cacheu. Ao invés, não acredita em nenhuma outra solução ou melhor em nenhuma outra solução milagrosa para a pesca em toda província do Norte.
“Há pessoas que não querem o bem-estar da pesca artesanal aqui em Cacheu. Por isso, não querem sequer ouvir falar da sua privatização e para nós a privatização é a única saída para esta crise que abala agora o sector da pesca artesanal na cidade de Cacheu”, explicou ao “O Democrata” visivelmente triste Armando Gomes Pacatana que escusou de identificar as referidas pessoas que acusam de sabotar o bem-estar dos pescadores de Cacheu por não aceitarem a privatização do Projecto da Pesca Artesanal que dinamizaria as actividades da faina em 25 Portos de desembarque do pescado nas regiões da Província do Norte do país.
Aquele antigo dirigente de Associação dos Pescadores de Cacheu afirma que os seus colegas senegaleses que pescam nas nossas águas têm grandes vantagens na faina em relação aos pescadores nacionais e disse ainda ter medo que daqui a cinco anos não hajam mais peixes em abundância nas nossas águas territoriais devido à pesca dos vizinhos senegaleses.

 

Por: António Nhaga

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