Uma equipa de reportagem do semanário “O Democrata” deslocou-se este fim-de-semana ao bairro de Cupilum de Baixo, periferias da cidade de Bissau, a fim de trazer a público a iniciativa da nova estilista guineense que aproveita calçados absoletos de senhoras e recicla-os com panos africanos, transformando-os em novos produtos de moda com características africanas para um novo ciclo de uso.
A senhora Vilma Milena Dantas Ferreira Nandingna, de 32 anos de idade, utiliza o seu tempo livre para confeccionar calçados, carteiras de mão e pulseiras para as senhoras.
A futura estilista que actualmente trabalha na empresa das telecomunicações “Guinetel” vivera momentos de aperto financeiro e que a levou a optar por aproveitar e dedicar o seu tempo livre à reciclagem. Uma iniciativa que, de acordo com a própria, pensa alargar no futuro, se conseguir um financiamento que lhe permita adquirir materia prima e alguma maquinaria e produzir em quantidade suficiente para responder às demandas do mercado.
Vilma Nandigna conquistou “fama” entre as senhoras do seu bairro inclusivé entre algumas meninas da cidade de Bissau apreciadoras do seu trabalho, através da sua arte. A estilista confessou a nossa reportagem que o seu maior sonho é tornar-se conhecida internacionalmente.
COMECEI COM O MEU CALÇADO VELHO E TORNEI-O NOVO
A estilista contou que começou a arte da reciclagem primeiro nos seus próprios chinelos. Esse primeiro trabalho foi muito apreciado e surgiram as primeiras interessadas que lhe solicitaram que lhes fizesse igual trabalho. Depois de alguns trabalhos a reciclar chinelos velhos decidiu iniciar-se nos “saltos” para as senhoras.
A futura estilista explicou que aprendeu tudo pela internet, mas o trabalho com “saltos” foi uma inovação sua.
Vilma defendeu ainda que a primeira ideia que tinha era fazer um negócio que lhe desse algum dinheiro para sobreviver. Chegou a pensar em fabricar e vender sorvetes. Mas como não tinha muita experiência naquela área desistiu. Depois de muita refleção optou pela outra iniciativa que sentia que estava em sintonia com a sua vocação.
“Sou uma pessoa ligada ao mundo da moda, mas gosto de ter coisas um pouco diferentes. Mesmo se a moda é parecida com aquela que muitas pessoas usam, faço questão de inventar uma coisinha que vai marcar a diferença. As mudanças que faço nas roupas ou calçados são sempre apreciadas pelas pessoas, sobretudo mulheres”, realçou.
Vilma Milena Dantas Ferreira Nandingna assegurou que a imaginação ou arte que tem permitiu-lhe ter a habilidade de reciclar calçados. Para Vilma, transformar calçados “rotos” em novos com uma cobertura diferente feita de tecidos africanos chama mais atenção às mulheres.
“Comecei com o meu próprio calçado de salto alto já velho. Os sapatos tinham o pano completamente estriado e tornei-o novo. Levei quatro dias a fazer o meu primeiro trabalho. Quando comecei a usar o calçado as minhas colegas gostaram e elogiaram muito a iniciativa, pelo que algumas solicitaram que fizesse igual para elas”, – explicou.
A futura estilista, que trabalha apenas nos calçados que ainda têm boas solas, acrescentou que trabalha apenas por encomenda. Prefere trabalhar com clientes que têm calçado em estado estourado.
Vilma disse que de momento trabalha sozinha, sem apoios financeiros e materiais. Sublinhou que ainda é cedo contratar colaboradores para trabalharem com ela: “não é necessário ter pessoas que trabalhem para mim neste momento, visto que trabalho por encomendas”.
“Estou no início do meu trabalho, da minha criação. Estou a fazer aquilo que se diz: o segredo é alma do negócio. Portanto não quero trabalhar ou ensinar ainda muita gente como faço. Mas com o tempo e se houver necessidade e porque estou a perspectivar produzir em grande quantidade para vender,… aí terei de procurar algumas pessoas para trabalharem comigo”, explicou.
“CALÇADO RECICLADO PELA ESTILISTA GUINEENSE USADO EM LISBOA”
A estilista assegurou que o seu trabalho já chegou à Lisboa (Portugal) através de uma senhora guineense que viu uma das suas marcas e lha solicitou para o casamento da sua filha.
Informou ainda que se sente satisfeita pelo que espera que nessa cerimónia de bodas, as pessoas ao verem os sapatos reciclados por ela, perguntem quem fizera aquilo. Sustentou que através daquela senhora que está usar a sua marca, muitas pessoas poderão entrar em contacto com ela, a fim de encomendar igualmente os calçados reciclados com tecidos africanos.
“Acho que vai haver mais solicitações da parte das pessoas. Faço carteiras de mão, cintos, chinelos e calçados de saltos para as senhoras. Espero que os calçados que aquela senhora enviou para a filha atraia a atenção das mulheres africanas ou até brancas que certamente acabarão por encomendar alguns pares”, disse.
“QUERO SER UMA ESTILISTA PROFISSIONAL DA MODA AFRICANA”
Vilma contou a nossa reportagem que o seu maior sonho é de tornar-se numa grande estilista da moda africana. No entanto reconheceu as dificuldades existentes e que poderão impedir a concretização do seu sonho, mas confessou que vai continuar a labutar com a vida do dia-a-dia para fazer vincar o seu sonho.
Questionado sobre o nome da sua marca, a estilista afirma que de momento não tem ainda um nome concreto. Explicou que está a reflectir neste momento sobre o nome, mas que as suas colegas aconselham-na no sentido de arranjar uma marca para os seus produtos.
Solicitada a pronunciar-se sobre as dificuldades que enfrenta no trabalho, disse que de momento trabalha apenas por encomenda. Por isso sente poucas dificuldades. Contou neste particular que no seu trabalho usa os seguintes materiais: cola, tesoura e fazenda africana de diferentes cores.
“A dificuldade que tenho é em materiais. Porque quero começar a produzir para vender, portanto vou precisar de meios financeiros para comprar calçados e transformá-los em diferentes modas”, segredou.
Apelou, no entanto a ajuda das instituições e de empresários que a quem pediu que acreditassem no seu projecto, porque conforme lembra “tenho capacidades de fazer muito mais do que estou a fazer neste momento é só uma questão de apostarem no meu projecto”.
BIOGRAFIA
Vilma Milena Dantas Ferreira Nandingna nasceu no dia 01 de Julho de 1982 em Bissau. Iniciou os estudos primários aos sete anos de idade na cidade de Bissau, onde igualmente fez os seus estudos liceais no “Liceu João XXIII”. Concluiu o ensino secundário na escola autónoma de Bairro de Ajuda (Bissau).
Fez a formação superior na Universidade Colinas de Boé (UCB) em 2008, onde cursou-se na área de administração pública e economia social. Actualmente está a fazer um curso de corte e costura, que de acordo com ela, poderá ser útil no seu trabalho de mundo de moda.
Vilma é funcionária da empresa de Telecomunicação “Guinetel”. Neste momento trabalha por conta própria na confecção de calçados, carteiras e cintos para as mulheres. Uma actividade que sonha alargar no futuro.
Por: Assana Sambú

















Desejo-lhe coragem e espero que o seu sonho vai ver a luz do dia.