Sem o povo não existe a língua e, portanto, ela é indissociável da sociedade. A língua perpassa a questão comunicacional entre os indivíduos, ela se configura como instrumento de poder na relação humana, quer nas ações culturais, assim como no estabelecimento de uma (con)vivência fraternal e harmoniosa. Ainda assim, ela nos permite (re)construir a(s) nossa(s) história(s) do passado, sincronicamente nos ampara a melhorar o nosso presente com vista a projetar um futuro aglutinador, integrador, justo e auspicioso a todos, sobretudo em um país pluricultural: o caso da Guiné-Bissau.
Portanto, o kriol sendo uma língua que resultou do contato entre o povo dominador (português) e o dominado (povo guineense em geral), ele reúne série de estruturas completas que o caracteriza como uma língua. No entanto, podemos outorga-lo do berço de unidade entre a diversidade cultural existente que compõe o território nacional guineense, uma vez que serve de elo entre as diversas culturas e povos residentes naquele país. Desde os meados de luta de libertação, esta língua vem ganhando e conquistando os espaços em distintas comunidades linguísticas do país, principalmente alastrando a sua dimensão semântica, identitária, cultural e convertendo o povo guineense na um povo só, coincidentemente criando um laço inacabável por meio de sua expressão entre a população guineense. Esta língua exerce um papel tão preponderante na sociedade guineense, de maneira tal que marca semanticamente o sentido de pertencimento para habitantes daquele país.
Kriol, embora subalternizado em relação ao português e assim envolvendo assimetria em torno do seu status social, ele ocupa espaço não só de Unidade Nacional, mas também de simbolização e de representatividade ao povo guineense. Através dele, pode-se compreender dois aspectos: Ordem semântica que diz respeito à (re)criação de consciência no sentido de empreender a ruptura singular arraigada por grupos étnicos, pois, é, apenas por meio de kriol que se diz “anos ku mama”, sentença essa que congrega toda a nação guineense e, assim, rompendo-se a margem de particularidade abalizada por essas etnias e dando-as o significado de anos tudu i un son, uma característica de guinendadi.
Na ordem comunicativa, Kriol expressa não só as ocorrências quotidianas, mas também relata sobre a questão cultural e identitária da nação, começando em suas stórias, fábulas, lendas, djumbai, ditus, mandjuandadi etc. Envolvendo também as produções literárias, sejam elas individuais (“Lubu ku lebri ku mortu i utrus storya di Guiné-Bissau (1988)” de Augusto Pereira) ou coletivas (banda com as histórias de “Ntori Palan”, de Manuel Júlio e dos “Tris N’kurbados” de Fernando Júlio; Barkafon de poesia na kriol colecção Kebur) (Embaló, 2008), embusca de mobilizar a (re)criação de uma dinâmica benéfica a uma convivência simétrico ao povo, com vista a congregar os valores culturais à Guiné-Bissau.
Em suma, Kriol é a língua pela qual os valores comuns e individuais são compartilhados e, concomitantemente, é uma língua da convivência entre múltiplos polos sociais, pois a sua representatividade move e reflete seu povo, especialmente no que tange à convivência e à unidade nacional tanto dentro do país, assim como no mundo exterior.
Por: Bernardo Alexandre Intipe
Pesquisador e linguista

















Excelente artigo,visto que dá o lugar de relevância ao kriol e sua representividade e importância cultural,bem como ressalta seu papel de unidade e transmissão de histórias, lendas, contos,arte e cantigas num país com muitas etnias e um mosaico cultural de riqueza imensurável e importantíssima pra toda humanidade.
Me sente muito contente lendo desta materia e logica especialmente escrito por te
Sinto contente como construí o artigo! Agradeço
“Kilis ku sinta Elis ku mama”
A língua kriol nos uniu e nos faz vencer Portuguêses…
Considero!
muito bom rapaz, o Kriol desempenha um papel muito importante na unificação do povo guineense.
Parabéns Bernardo por ter trazido esta excelente reflexão tão importante,ensinando sobretudo aqueles que chamam a nossa língua de “dialeto”.
A vocês, meus agradecimentos! A razão da minha escrita é apenas para os meus leitores (vocês, e a aprendizagem neste espaço é recíproca. Nha mantenhas!