[ENTREVISTA janeiro 2021] O presidente da Federação de Futebol da Guiné-Bissau (FFGB), Carlos Mendes Teixeira (Caíto), afirmou que a sua direção mantém mil por cento da confiança no selecionador nacional dos “Djurtos”, Baciro Candé. Acrescentou que a Guiné-Bissau e os guineenses têm uma dívida com o selecionador nacional e que todos os guineenses devem reconhecê-lo pelo esforço e sacrifício que faz para o país, porque “não é nada fácil, em particular na situação em que se encontra a nossa seleção, conseguir doisapuramentos consecutivos para o CAN e tem ainda a possibilidade de apurar-se pela terceira vez consecutiva”.
Caíto Teixeira, como é chamado no circuito de amigos, mostrou-se determinado e disse que a direção vai trabalhar com o selecionador nacional dos “Djurtos”.
O presidente da federação nacional de futebol concedeu uma entrevista ao nosso semanário para falar das ações implementadas pela nova direção da FFGB, desde que assumiu a liderança da federação há três meses, como também dos programas de reabilitação e construção de infraestruturasdesportivas e da definição de estratégias capazes de impulsionar o futebol guineense, em particular o campeonato nacional, que é muito criticado por especialistas em matéria por causa do seu amadorismo.
“A federação prepara-se para lançar outro concurso público para a reabilitação dos estádios de futebol, onde vamos tentar vedar, reabilitar os balneários e fazer a terraplanagem de maior número de campos, para dar dignidade aos nossos jogadores. Porque o futebol não se faz sem jogadores” assegurou para de seguida avançar que a sua direção vai trabalhar para minimizar as carências com que os clubes têm vivido há muitos anos, porque “não é possível que as equipas de futebol continuem a vestir-seou despir-se sob palmeiras ou cajueiros e em público, na presença de mulheres”.
Explicou que a partir desta época desportiva a sua direção decidiu assumir todas as deslocações dos clubes para os jogos do campeonato nacional, o que quer dizer nenhum clube vai pagar as suas deslocações. Enfatizou que a ambição da sua direção é dar mais para o futebol nacional e aos clubes.
Sobre o valor do prémio do vencedor do campeonato da primeira divisão, disse que não pode avançar o montante exato, porque a questão das premiações não depende apenas dele. Contudo, garante que se tiver condições de premiar com 50 milhões de Francos CFA ao primeiro lugar, vai fazê-lo porque “o dinheiro não é dele, é sim dos associados”.
O Democrata (OD): Sr. presidente já passaram três meses desde que assumiu a liderança da Federação de Futebol da Guiné-Bissau. Pode explicar-nos o que a sua direção fez de concreto neste período para impulsionar o futebol guineense?
Carlos Mendes Teixeira (CMT): Nos três meses da vigência do meu mandato como presidente da Federação de Futebol da Guiné-Bissau, o aspeto mais importante ou relevante foi aproximar as partes e tentar quebrar o “gelo” que existe entre os atores ligados ao futebol. Aproximar todos os intervenientes do futebol e dar abertura para que todos possam opinar, apresentar críticas e projetos exequíveis para o bem do futebol guineense.Um dos aspetos que se pode destacar também era aproximar-me dos meus adversários, na altura. É do domínio público que foram umas eleições tanto quanto concorridas. Depois do escrutínio saiu um vencedor e esse vencedor sou eu, graças a Deus.
E foi exatamente a partir desse momento que assumi que o machado de guerra tinha que ser enterrado e mostramos logo abertura da nossa parte para receber todos os intervenientes. Assumimos também, internamente, o engajamento de dinamizar a Federação de Futebol da Guiné-Bissau, inovar para poder motivar os funcionários que fazem parte das estruturas doorganismo que gere futebol nacional, porque julgamos que ninguém, sozinho, consegue levar avante seus projetos e as suas ideias.
A minha aposta, aliás, a nossa aposta é trabalhar em equipa e de forma aberta, dando voz a todos os intervenientes para opinarem e criticar as ações da federação e, consequentemente, apresentar soluções consentâneas.
OD: Será que conseguiu, em três meses, aproximar partes, organizar o setor e unificar toda a família do futebol guineense?
CMT: Não… Eu sou exigente comigo mesmo. Tudo o que foi conseguido até aqui acho que é importante e determinante, mas falta muito por fazer. A nossa meta sempre está aberta. Vamos continuar a alargar os nossos horizontes e objetivos.
OD: O presidente falou muito das infraestruturas desportivas durante a campanha para a presidência da federação e, quiçá, seja a razão que levou os associados a apostarem no seu projeto. Fala-nos do seu projeto, ou seja, do seu programa a médio e longo prazo, capaz de resolver a questão das infraestruturas para o futebol nacional?
CMT: O primeiro aspeto já está a ser tratado. Somos apologistas de pessoas que defendem a ideia de não fazer coisas só por fazer, mas fazê-las de forma correta, incluindo toda gente. Foi lançado na semana passada um concurso público para a reabilitação do Centro de Estágios da Federação de Futebol, porque temos que dignificar as nossas seleções e clubes. Não podemos ter um Centro de Estágio que nem a federação nem associados ou população podem usufruir dele.
Acreditamos que no início de 2021, a empresa vencedora para aexecução das obras de reabilitação do Centro de Estágio será conhecida. A federação prepara-se para lançar um outro concurso público para a reabilitação dos estádios de futebol, onde vamos tentar vedar, reabilitar os balneários e fazer terraplanagem de maior número de campos, para dar dignidade aos nossos jogadores. Porque o futebol não se faz sem jogadores.
OD: O concurso público para a reabilitação do complexo do centro de estágio está limitado a empresas nacionais ou foi alargado a empresas internacionais?
CMT: É um concurso abrangente, inclusive foi publicitado nas rádios e nos jornais…
OD: Quem vai financiar a reabilitação do centro? Qual é o custo ou o valor das obras…
CMT: Será financiada pela federação e os seus parceiros. Valor?… Podemos ter um valor indicativo, mas nunca é um valor definitivo, porque também não é um valor fixo. A execução de obra sempre tem uma linha orientadora e posso assegurar-vosque temos técnicos da área que estão a ocupar-se desse assunto. Mas o mais interessante é criar condições para que todos possam ter o mesmo direito e as mesmas oportunidades.
OD: Falou de um concurso público para a reabilitação de campos. Tecnicamente, temos dois estádios, 24 de setembro e o Lino Correia, com condições exigidas para receber jogos oficiais. Outros campos seriam quais, por exemplo?
CMT: Campos pelados. Vamos vedar o maior número possível, porque não se pode admitir que, em pleno século XXI, os campos sejam vedados com ramos de palmeiras (Kirintins). Aliás, não dignifica nem jogadores nem o país, muito menos os amantes do futebol. Vamos tentar minimizar as carências com que os clubes têm vivido há muitos anos. Não é possível que as equipas de futebol continuem a envergar equipamentos ou despi-los debaixo de palmeiras ou cajueiros e em público, na presença de mulheres.
OD: Teremos apenas vedação de campos ou outras condições de infraestruturas desportivas que permitirão que os estádios acolham jogos oficiais, que tipo de obras?
CMT: Vamos ter dois tipos de infraestruturas, porque a maior parte dos clubes não tem um campo de futebol definitivo. Os clubes que não têm campos definitivos, vamos operar algumas melhorias, nomeadamente, tornar plano o terreno do jogo para garantir que o futebol não seja praticado em condições deploráveis ou num terreno cheio de cascalho e de pedregulhos e os clubes com campos definitivos com dimensões normais faremos intervenções mais sérias, para que quando for necessário levar relva sintética estejam preparados.
Um clube pode ter até um campo definitivo, mas se não tiver a dimensão prevista no regulamento não vai beneficiar dessa oportunidade, mas estamos a estudar as possibilidades para encontrar, de imediato, uma solução a médio e longo prazo.
OD: A Guiné-Bissau conta apenas com dois estádios de futebol com condições para receber jogos oficiais. Falou-se muito do projeto “Gool” da FIFA que apoiou a construção dos estádios com relva sintético em África e o Estádio Lino Correia é o exemplo desse projeto. Sr. presidente, questiona-se muito a gestão deste projeto na Guiné-Bissau. Cabo Verde, por exemplo, conseguiu com o mesmo projeto fazer cinco ou mais estádios com condições exigidas para jogos internacionais. Viu este dossiê no seu gabinete e o que pretende fazer…
CMT: Sim. Mas às vezes os guineenses falam de coisas que épreciso ter cuidado, porque não é bem assim. A FIFA não dá dinheiro líquido para a construção de campos. O que a FIFA faz é, lança um concurso e o vencedor trata diretamente com a FIFA e esta por sua vez canaliza o dinheiro diretamente para a conta do vencedor. Havia um projeto… Só que a Guiné-Bissau nesse aspeto falhou um bocado, porque não apresentou projetos. Ou osprojetos foram apresentados, mas sob algumas condicionantes. O país estava a cumprir uma medida restritiva. Graças a Deus conseguimos ultrapassar essa fase, um esforço conjunto da antiga e da nova direção.
Não posso apropriar-me de todos os ganhos da gestão anterior, aliás, não funciono assim, de forma separada, sempre tenho funcionado em grupo. Hoje, a condição que a federação tem, não as tinha antes, porque estava a observar as medidas restritivas impostas pela FIFA. E na sequência dessas medidas viu-se limitado o seu campo de ações.
Aliás, a FIFA esteve cá e penso que com a nova dinâmica, o Comité Executivo está determinado para mudar o paradigma do futebol da Guiné-Bissau, sobretudo o local e a nível de camadas de formação.
OD: A nível das infraestruturas, há possibilidades de a sua direção conseguir um projeto junto da FIFA, à semelhança do projeto “Gool”, a internacionalização de mais estádios, tanto em Bissau quanto no interior do país?
CMT: Se tudo correr bem em 2021 vamos iniciar uma obra gigantesca, a construção de um Centro Técnico. A federação vai identificar e comprar o seu próprio espaço, embora seja um processo lento, já fizemos algum investimento junto do governo no sentido de ceder-nos um espaço. Não temos tempo a perder, o tempo que temos é de executar ações concretas, por isso a federação vai adquirir o seu próprio espaço para construir um centro técnico (uma espécie de um complexo desportivo) que poderá ter, no mínimo, dois ou três campos e um hotel com capacidade para albergar trinta a quarenta jogadores.
OD: O centro será construído em Bissau ou no interior do país?
CMT: Ainda não temos espaço definido. Estamos a estudar as possibilidades para o melhor enquadramento, porque um centro técnico precisa de certa tranquilidade. Os nossos jogadores sempre têm estado sob pressão dos adeptos e de familiares. Aliás, os guineenses gostam dos jogadores da seleção nacional e já foi provado diversas vezes, mas é preciso deixá-los mais cómodos, sossegados e a gozar da sua privacidade.
OD: Falou-se muito em fundos avultados que a federação recebe anualmente através das instituições parceiras (CAF e FIFA). Para além do fundo dado pelo executivo, quanto é que a federação recebe da CAF e da FIFA e com que frequência?
CMT: O governo dá mais a nível da seleção, ou seja, assegura as suas despesas… As pessoas fazem muita confusão, esse fundo vem especificamente para os seus itens. As pessoas não sabem, mas a FIFA não dá dinheiro para organizar o campeonato nacional. A FIFA apoia sim a promoção do futebol feminino, a formação e para a gestão das federações locais. A grande verdade é que o governo da Guiné-Bissau devia estar a subvencionar a federação para a organização dos campeonatos.
A federação organiza os campeonatos com fundos próprios. Se formos ver os valores injetados para a realização dos campeonatos da primeira e segunda divisões mais as formações são muito elevados. Isso tem sido suportado com o dinheiro que a FIFA dá à federação.
O fundo era mensal, mas com a restrição imposta a federação,passou para anual. A federação de Futebol da Guiné-Bissaurecebia por mês 50 000 (cinquenta mil) dólares norte-americanos e cada mês a federação tinha que enviar relatórios de gestão do mesmo. Portanto a avaliação era constante. Graças ao cumprimento das exigências da FIFA, resolveu-se subir o valor para 100 (cem) mil dólares norte-americanos. Hoje não estamos sob nenhuma medida de restrição e estamos a ter mais campo de manobras, mas esse fundo não se destina para a organização decampeonatos.
A nossa direção decidiu este ano assumir todas as deslocações dos clubes para os jogos do campeonato nacional, o que quer dizer que nenhum clube vai pagar as suas deslocações. Mas a federação não tem patrocinadores, apenas nesse fundo da FIFA é que faz toda a sua ginástica.
OD: Acabou a medida restritiva da FIFA. Quanto é que a federação vai passar a receber da FIFA, já que o apoio do governo é apenas a nível da seleção?
CMT: São contas a serem feitas depois. Outro aspeto que o Comité Executivo da federação implementou este ano (2020), odécimo terceiro mês de salário e todos os funcionários receberam-no, coisa que nunca tinha acontecido na história do futebol da Guiné-Bissau. São aspetos administrativos necessários para o bom funcionamento da organização. Aliás, o Comité Executivo assumiu também a situação de segurança social e todas outras situações que estavam pendentes. A partir de 2021 todos os funcionários da federação terão descontos regulares para a segurança social para que no futuro, na idade de reforma, possam ir para reforma com dignidade.
Fizemos ainda muito mais. Por exemplo, há um funcionário que trabalha há mais de 20 anos para a federação e sem descontospara a segurança social. O Comité executivo assumiu a responsabilidade de pagar parcialmente, a segurança social dos funcionários que se encontram na mesma situação. Ou seja, no caso concreto de funcionários com 20 anos de efetividade de funções, a federação paga dez anos de descontos e os que têm 10 anos, vamos pagar cinco anos de descontos à segurança. Fizemos isso, porque entendemos que o futebol desenvolve-se com gente de mente sã, por isso essas pessoas devem ser valorizadas e depois exigir-se-lhes boa prestação de serviço.
OD: Um dos problemas que tem sido criticado na gestão da direção cessante tinha a ver com a transparência na gestão dos fundos. Indigitar o Sr. Hussein Farat para vice-presidente da área financeira é uma mensagem de transparência deixada aos associados da federação ou de controlo total do poder através de um homem de negócios…
CMT: A nossa posição é de partilha de ideias. No meu entendimento como presidente da federação, Hussein Farat está mais preparado para desempenhar essas funções, porque tem condições necessárias para ajudar a instituição a realizar a visão do seu presidente.
A visão do presidente da federação é desenvolver o futebol, um meio que sistematicamente exige investimentos. Aliás, é uma figura muito determinante, além da área da administração e finanças, tem ainda o poder de assinatura obrigatória, o que quer dizer que mesmo o presidente da federação, apenas com a sua assinatura não pode levantar dinheiro da conta da federação. Penso que não há outra transparência que não seja essa abertura. Mas isso não quer dizer que Hussein tem o direito de bloquear o funcionamento da instituição…
A FIFA não põe dinheiro na conta privada de ninguém, mas dá para desenvolver o futebol. Enquanto presidente da federação,não permitirei o bloqueio de nenhum membro e seja quem for…
OD: Tinha sido definido o modelo de premiação. Fixar dez milhões de francos CFA como prémio para o vencedor do campeonato motivou os clubes que, aparentemente, pareciam desanimados. A sua direção pretende manter esse mesmo valor ou vai subi-lo mais?
CMT: A minha ambição é dar mais, mas não posso avançar omontante, porque essa questão de prémios não depende apenas de mim. Estou a ponderar com os patrocinadores… Se tiver condições de premiar cinquenta milhões de francos CFA, vou fazê-lo, porque o dinheiro não é meu é dos associados.
OD: Há uma enorme espetativa a volta da sua direção no sentido de fazer os amantes de futebol reviverem o campeonato nacional que outrora era muito competitivo. Que mecanismos pretende implementar para mobilizar somas significativas junto do executivo e capaz de dar mais dinâmica ao campeonato nacional…
CMT: Estamos a trabalhar nesse sentido. Aliás, como se sabe, o nosso primeiro parceiro estratégico é o governo da Guiné-Bissau. Estamos a entendermo-nos muito bem. Ou seja, estamos a andar na mesma direção, porque como se sabe, ninguém pode desenvolver o futebol sozinho. Para desenvolver o futebol é preciso um conjunto de estratégias e de medidas, portanto estamos a caminhar muito bem juntamente com o governo, porque sabemos das dificuldades do nosso país e das nossas finanças públicas. Por isso não vamos culpabilizar o governo de não apoiar o futebol. Sabemos que no nosso país, quase tudo faz falta! Vamos trabalhar com meios que estão a disposição da federação.
OD: Quais as estratégias concretas que a sua direção pretende implementar para dar impulso e competitividade ao campeonato nacional, considerado muito pobre porespecialistas em matéria?
CMT: Vou trabalhar mais na base. Temos o nível de competitividade que temos, porque não temos bases sólidas. O meu foco será dar mais relevância às bases. Para ter um campeonato competitivo é preciso constituir bases sólidas, organizar o futebol interno e não estamos a falar apenas do campeonato nacional.
Estamos a referirmo-nos a organização ou aposta séria nas camadas de formação para consolidar o campeonato nacional e ter seleções competitivas que passarão a ter resultados merecedores e convincentes, não vencer só para vencer. Portanto, a minha ambição é dar visibilidade, suporte e alicerces à nossa seleção e ao nosso futebol.
OD: Uma das formas de sustentar os clubes e as seleções, sobretudo as camadas mais jovens são as academias, de acordo com os peritos em matéria. Praticamente nenhum clube guineense tem uma academia e as que existem não recebem apoio da federação nacional. Tem alguma política virada às academias e em particular as privadas?
CMT: Sim. Por isso vamos trabalhar para definir as regras sobre conceitos de academia, de formação e de clubes, para determinar espaços de atuação de cada área. É grave uma equipa atuar na primeira divisão, por exemplo, sem camadas de formação. O apoio destinado às equipas que competem no campeonato nacional e que têm as academias, não será igual com o das equipas que não têm academias ou equipas de bases.
Tem que haver sequência lógica das coisas, porque a academia é parceira do clube, mas não pode substituir um clube. É preciso estabelecer balizas e definir limites para que possamos ter um campeonato estruturante. Não podemos continuar a ter apenas selecionados de Bissau. E porque não ter jogadores provenientesde Orango, Cacine ou Fulacunda, apenas os selecionados de Bissau…
OD: Assinou, recentemente, um acordo com o presidente da liga de clubes. Pode falar-nos do conteúdo do acordo?
CMT: Fizemo-lo, porque entendemos que todos os atores são importantes. A Liga dos clubes, a par do governo, são parceiros importantes para o desenvolvimento do futebol da Guiné-Bissau. A federação por si só não será capaz de desenvolver o futebol guineense, por isso tem que andar de mãos dadas com os seus parceiros.
A liga dos clubes deve assumir as suas responsabilidades e a federação tem que continuar a desempenhar o seu papel defacilitador para congregar todos os elementos e esforços necessários para que possamos todos caminhar juntos.
OD: O selecionador nacional renovou o contrato com a antiga direção. Baciro Candé continuará a merecer a confiança da sua direção?
CMT: Bom… Eu vejo as coisas numa perspetiva bem diferente. O problema não é Baciro Candé, mas sim, a estrutura que temos e a dinâmica que temos imprimido até aqui e que caminhos pretendemos seguir. Não podemos estar a almejar vitórias sem trabalhar, definir critérios de chamada dos jogadores para a seleção. Não podemos culpar o Mister, se a seleção nacional joga sem nenhum jogador da equipa local. A culpa não é do Mister Candé, mas sim de todos nós!
Não estamos a fazer as coisas como devem ser feitas, mesmo se trocarmos o Mister Candé hoje e trazermos aqui o Mourinho, ele (Mourinho) estará condenado ao fracasso, porque não tem alicerces para fazer um bom trabalho. A nossa preocupação não é o Mister Candé, mas criar as condições necessárias para dinamizar o campeonato nacional e consequentemente, para que haja valores localmente que possam ser chamados para a seleção nacional. Nestas condições estaremos preparados para enfrentar qualquer seleção do mundo…
OD: Então, Baciro Candé, continua a merecer a confiança da sua direção?
CMT: Temos mil por cento de confiança no Mister Candé.
OD: Mister Candé levou a seleção nacional duas vezes a maior competição do nosso continente e nunca passou da fase de grupos. A sua direção mostra muita ambição de querer mais ou de ir longe e já definiu alguma meta para o Mister Candé?
CMT: O meu foco não são os resultados, até porque não estamos preparados para ter resultados. A nossa direção está a trabalhar na criação das estruturas eficazes, imprimir dinâmicas e esperar os resultados. É verdade que enquanto amantes do desporto e do futebol, queremos sempre vitórias da seleção. Para ganharmos temos que estar preparados e não ganhar por acaso. A Guiné-Bissau tem uma dívida com o Mister Candé e devemos todos reconhecê-lo, porque não é nada fácil, em particular na situação em que se encontra a nossa seleção conseguir dois apuramentos consecutivos para o CAN e ter ainda a possibilidade de apurar-se pela terceira vez.
Sou homem de futebol e sei reconhecer quem trabalha em situação extremamente difícil e complicada. Apreciamos as funções e o desempenho de Candé apenas na perspetiva de resultados, mas ignoramos a parte da estabilidade e de criação de condições para que possa trabalhar, portanto não podemos crucificá-lo ou tê-lo como o azar da seleção. Candé deve ser valorizado por todos os guineenses, porque nenhum treinador, na situação de Baciro Candé, aceitaria ficar sete meses nascondições que temos. Sairia sem pensar duas vezes! É preciso dignificá-lo e atribuir-lhe todos os méritos possíveis.
OD: Só uma questão de curiosidade: como foi parar apresidência da Federação de Futebol da Guiné-Bissau, depois de ter sido dado como desistente a favor de Manelinho?
CMT: Deus!
A mensagem que quero deixar aos guineenses em particular aos amantes do futebol é simples: é preciso ter paciência e calma, porque quem está neste momento à frente dos destinos do futebol nacional é um homem de futebol. É preciso apenas paciência e esperar por quatro anos para ver mudanças no futebol.
Finalmente, devo dizer aos guineenses e amantes de futebol que nunca tinha desistido da presidência da Federação de Futebol da Guiné-Bissau, porque se tivesse desistido não seria o atual líder da federação de futebol. O futebol é um campo transversal, por isso a federação deve assumir o seu papel de mediação, deintegração e de apaziguador de ânimos, porque a federação não pode e nem deve estar de costas viradas com ninguém que tenha ou não criticado as suas ações.
Por: Assana Sambú/Alison Cabral
Foto: Marcelo Na Ritche



















