ESTUDANTE DO DÉCIMO SEGUNDO ANO PEDE DE JOELHOS A RETOMA DA ESCOLA AO GOVERNO

António Pereira, estudante de 22 anos de idade do 12º ano da escolaridade no liceu “Dr. Agostinho Neto” em Bissau, é o rosto de uma luta solitária através da vigília que leva a cabo desde o passado dia 17 de janeiro de 2021, junto de instituições governamentais e internacionais para reclamar o direito à escola. 

O jovem ficava numa instituição horas a fio, de joelhos exibindo um cartaz em que se podia ler os seguintes dizeres escritos em crioulo e em letras gordas: “SÓ SKOLA KU N’MISTI BAI SUMA BÓ FIDJUS – Apenas quero ir à escola como os vossos filhos“.  

Para além do ministério da Educação Nacional, António Pereira esteve igualmente em frente ao edifício do Palácio do Governo, vestido de calças fato do treino e uma camisola, exibindo o seu cartaz para exigir o direito à escola, de onde mais tarde foi retirado pelas forças de ordem.

O “rosto solitário” da luta pela reabertura da escola passou igualmente por imediações do Palácio da República, da rotundas da Mãe de Água (junto ao mercado do Bandim) e pelo edifício das Nações Unidas, que alberga várias representações da ONU, em particular o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), um dos parceiros do desenvolvimento do governo.   

PEREIRA PEDE À ONU PARA CASTIGAR GOVERNOS QUE NEGAM O DIREITO À ESCOLA AOS SEUS CIDADÃOS

“Comecei a minha vigília no ministério da Educação. Na altura, o ministro não se encontrava no serviço. Disseram-me que não estava e que se deparava com problemas de saúde, mas o seu chefe do gabinete abordou-me e expliquei-lhe a razão que me levara a ficar de joelhos e de costas viradas ao ministério. Expliquei que queria apenas que as partes em greve se sentassem à mesa com os responsáveis do ministério e que chegassem auma solução e que os alunos voltassem às escolas”, contou na entrevista concedida ao nosso semanário O DEMOCRATA sobre a sua luta solitária.  

Sobre a vigília realizada na sede do PNUD, o ativista explicou que não obstante o PNUD ser uma organização internacional, éuma entidade que apoia o governo, em particular no setor da educação. Lembrou que o relatório das Nações Unidas fez uma menção crítica sobre a violação dos direitos humanos na Guiné-Bissau, por isso pede à ONU que acione os mecanismos necessários para instaurar castigos severos para os governos quenão respeitam os direitos humanos.  

António Pereira informou na entrevista que participou também na marcha convocada pelas duas organizações estudantis para exigir o fim da greve e exigir a retoma das aulas, que culminoucom a repressão que considera “brutal” pelas forças de ordemcontra os estudantes.

O ativista disse que foi preso com alguns dos seus colegas estudantes pelas polícia e levados diretamente para uma das celasda Segunda Esquadra, onde alguns estudantes e um adolescente de 15 anos foram espancados. 

Sublinhou que a cela na qual estavam detidos não tinha nenhumas condições de higiene e constitui uma ameaça séria àsaúde pública, sobretudo dos reclusos que são expostos àcontaminação por doenças, em particular do novo coronavírusque causa a Covid-19.      

“As celas da prisão estão em piores condições que se possa imaginar! Aquilo não é um lugar para um ser humano… O cheiro é horrível e acima de tudo, as pessoas deitam-se ao lado de águas paradas. Estamos em momento crítico da pandemia e aquelas celas constituem um espaço ideal para a transmissão e contaminação de não só pela Covi-19, como também por outras doenças”, lamentou o ativista, para de seguida pedir ao governo que melhore as condições das celas, porque “trata-se de vidas humanas, as pessoas detidas naquelas celas da Segunda Esquadra “.  

Pereira explicou que tomaram a iniciativa de limpar a cela onde estavam detidos para que pudessem ficar mais confortáveis, e um pouco mais à vontade e acabar com o cheiro horrível que sufocava tudo e todos.  

CONHEÇA O PERFIL DO JOVEM DO CARTAZ QUE PEDE ESCOLA

António Pereira nasceu a 05 de Setembro de 1998, dois meses do início do conflito político militar de 7 de junho, em Jeta, setor de Caió, região de Cacheu no norte da Guiné-Bissau. Fez o ensino básico na escola Salvador Allende, em Bissau, depois fez a 5ª e 6ª classes na escola União das Cidades Capitais da Língua Portuguesa (UCCLA).  

De 2012 a 2019 fez o ensino complementar, a 11ª classe, no Liceu Dr. Agostinho Neto, onde estuda atualmente a décima segunda (12ª) classe. 

Participou em vários seminários de formação e com destaque àformação em matéria de Cidadania, Direitos Humanos e Diversidade Cultural, Organizada pela Oficina em Língua portuguesa do liceu Dr. Agostinho Neto. Foi-lhe atribuído o certificado de Mérito pelo grupo Teatral do Centro Cultural Português “Teatro Experimental de Bissau – TEB”, o prémio do melhor ator do Drama na segunda Edição do concurso interescolar.   

Recebeu o diploma de mérito como formador em Ziguinchor (Senegal) na oficina da educação Ambiental, na Universidade Assam Seck. Participou igualmente na Formação sobre a Justiça Restaurativa nas escolas. 

Vice-coordenador do Conselho do Ensino Básico e Secundário da Confederação Nacional das Associações Estudantis da Guiné-Bissau (CONAEGUIB), é também membro fundador da Congregação das Associações das Escolas Públicas e Privadas da Guiné-Bissau (Carta- 21).  


Por: Djamila da Silva                

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