O antigo jogador do Sport Bissau e Benfica, Hemery Gomes, que chegou a ser apontado como uma das principais promessas do futebol da Guiné-Bissau, reconheceu que não conseguiu singrar no futebol, em Portugal, por culpa prória.
O ex- jogador chegou a Portugal em 2009, mas nunca conseguiu corresponder às suas expetativas.
Depois de seis épocas de grande nível no clube encarnado de Bissau, orientado na altura por Pedro Dias, Hemery Gomes, recebeu um convite para fazer teste na equipa júnior do FC Porto de Portugal, em Março de 2009.
Conhecido entre amigos, em Bissau, por “David Beckham”, o jogador que faz extremo e defesa direito só não conseguiu permanecer no clube, porque na altura o campeonato de júniores estava na sua fase final e o FC Porto acabou por emprestar Gomes ao Portimonense.
Hemery Gomes, que foi capitão das águias de Bissau, após saída de Luís António, dexou o país como um jogador com futuro risonho que daria crédito ao futebol europeu, uma vez que representou a seleção da Guiné-Bissau, mas acabou por não se afirmar e deixou cair por terra esse sentimento que muitos guineenses carregavam quando deixou o país para as terras lusas.
Em entrevista ao Jornal O Democrata, a 20 de Outubro de 2021, em Bissau, Gomes lamentou as expetativas que foram criadas à volta da sua pessoa, mas reconheceu que não conseguiu singrar em Portugal por culpa própria.
”Assumo que falhei durante o meu percurso, não estou aqui para dizer que é fator sorte, não. Porque não gosto de atribuir insucessos e êxitos a destino. Em várias ocasiões sempre defendi que a sorte não existe, porque sempre acreditei no trabalho para alcançar o sucesso”.
”É muito complicado chegar a Europa e triunfar logo. Fiz o melhor que pude, tendo passado por clubes da segunda, terceira divisão e a liga de honra, onde realmente os clubes demonstram interesses pelos jogadores, mas no momento da assinatura de contrato, surgem muitos entraves que nem sei explicar as suas causa, como é o caso por exemplo do FC Porto”.
Hemwry Gomes revelou na entrevista que chegou a ser cobiçado por vários clubes da primeira liga portuguesa de futebol, nomeadamente, a Académica de Coimbra, orientado na altura por André Villas Boas e o Beira- Mar, mas nenhuma destas propostas se concretizou.
O antigo jogador da seleção confessou que houve alguns momentos em que comprometeu a sua própria carreira em Portugal. Mas frisou que nunca vai revelar esses momentos à imprensa e pediu compreensão.
Embora não tenha conseguido ficar marca no futebol Europeu, “Beckham” aconselha as novas gerações de futebolistas guineenses a acreditarem no treino, na disciplina, no carácter e por conseguinte, respeitar a vida extrafutebol.
”Outro pormenor importante para um jogador conseguir êxitos no futebol internacional, é chegar a Europa com idade menor, pelo menos aos 14 anos de idade. Não quero justificar que cheguei à Europa muito tarde, mas constitui muita das vezes entraves quando se chega demasiado tarde.
”Senti que poderia ter dado mais e chegado a outros níveis, porque senti que tinha talento para tal, mas no futebol internacional não é só talento. Hoje nesta indústria, onde estamos inseridos, muitos talentos e craques perderam-se devido a vários fatores“, referiu durante entrevista a O Democrata, no Estádio Lino Correia, em Bissau.
Questionado sobre as opções técnicas que os treinadores portugueses fazem de jogadores guineenses em detrimento dos restantes países da língua portuguesa, Hemery Gomes disse que os atletas guineenses são marginalizados em detrimento dos de outros países de língua portuguesa, devido à falta da credibilidade do futebol da Guiné-Bissau no mercado internacional.
Vivendo há 14 anos na Europa, o antigo internacional guineense e jogador do Benfica de Bissau, Hemery Gomes passou por diferentes clubes em Portugal, como: Tabuense, Oliveira de Hospital, Ermesinde, Lixa e Rio Tinto. Em 2016 sofreu uma lesão grave no joelho e teve que abandonar o relvado com uma curta carreira.
Gomes revelou que em 2011 quando começou a sentir que já não conseguiria ter mais sucesso no futebol, decidiu dar continuidade aos estudos. Em 2016 fixou a sua residência na cidade Porto, norte de Portugal, onde conclui o curso profissional em Gestão de Ambiente e técnico do Turismo.
Após concluir o curso, o antigo jogador trabalhou numa unidade hoteleira no Porto. Em 2018, teve que emigrar para Suíça, juntamente com a sua família, mas muito ligado ao futebol.
Hemery Gomes explicou que tem uma empresa de agenciamento de jogadores com o seu conterrâneo Dário Gomes.
Para além de futebol, Gomes tem dois projetos de marcas dos vestuários “Nhatidura e Pancada“.
Na longa entrevista, Hemery Gomes abordou vários assuntos ligados ao futebol nacional, nomeadamente, o percurso dos jogadores guineenses na Europa, a caminhada da seleção nacional nas competições internacionais, o seu percurso no Benfica e o treinador Pedro Dias.
Hemery Gomes revelou que o seu grande sonho é um dia treinar o Benfica de Bissau e a seleção principal da Guiné-Bissau.
Por: Alison Cabral
Foto: AC
