O delegado do Ministério Público do Tribunal sectorial de Safim, Região de Biombo, Lassana Camará decidiu, juntamente com o escrivão do referido Tribunal, João Cabral julgar o caso da prática de feiteçaria que opôs os cidadãos Midana Indi e Angolano Nanque, condenando o primeiro por ser feiticeiro que colocou objectos nos pés do segundo. Assim, na qualidade de réu, Midana India foi aplicado uma multa pecuniária, cujo valor o Tribunal não precisou. Mas, O Democrata apurou que é um valor muito elevado que não está ao alcance do réu.
O Democrata também precisa que Midana Indi assumiu a culpa, em como teria sido ele, a praticar tal acto de feitiçaria que feriu gravemente Angolano Nanque no pé. Por isso, como não tem dinheiro para pagar, entregou ao Tribunal 200 folhas de zinco para aquela instituição judicial vender e ressarcir à vitima.
O delegado do Ministério Público e o seu escrivão já venderam o zinco desde o passado mês de outubro. Aliás, foi o escrivão que negociou com o comité da tabanca de Ensalma, Agostinho Có (vulgo Bolanha), o preço da venda do zinco no valor de 1500 Francos CFA por cada folha. Sendo a soma total de 300.000 Francos CFA (trezentos mil francos CFA) e mais 10.000 Francos CFA para a compra dos pregos. O valor total era de 310.000 Francos CFA (trezentos e dez mil francos CFA) proveniente da venda do zinco pagoa à vítima.
O nosso Jornal confirma, segundo as fontes contatadas, que a vitima recebeu da parte do delegado do Ministério Público e do seu escrivão, apenas 45. 000 Francos CFA. O que motivou certo descontentamento por parte da vitima, que esperava receber todo o dinheiro, a fim de poder pagar outra pessoa para retirar o “Irã” que fora colocada na sua casa pelo réu Midana Indi.
A HISTÓRIA COMEÇOU COM ANGOLANO NANQUE
A história começou, de acordo com a explicação de Angolano Nanque, quando voltou de barco e comprou uma viatura de marca Reno Spress. Depois começou a sentir a diferença numa das suas pernas, o que o levou a deslocar-se a um “djambacus” e este por sua vez, lhe disse que deveria cuidar porque “há um homem e uma mulher que estão a persegui-lo”.
“Quando o meu sobrinho veio me visitar de bairro de Antula Bono, porque fiz muito tempo fora e expliquei-lhe o que estava a passar comigo, mas principalmente do problema que tinha no pé, foi dele a ideia de eu recorrer ao “djambacus”, o qual lhe disse a mesma coisa que me tinham-me dito a mim”, relata ao nosso Jornal, Angolano Nanque, acrescentando que “foi daí que tomei a iniciativa de convocar toda a tabanca para ˝Kansare˝, da tradição Pepel. No kansaré acabou-se por confirmar que era Midana Indi e a esposa os responsáveis pela situação por que eu estava a atravessar, pois foram eles que me lançaram uma coisa no pé, através da feitiçaria, causando-me graves ferimentos”.
Com a confirmação no Kansaré desta feitiçaria, Angolano Nanque tomou a iniciativa de apresentar, em 2011, uma queixa-crime contra Midana Indi no Tribunal sectorial de Safim.
“O caso acabou por ser julgado em outubro de 2012 por Lassana Camará, juntamente, com o seu escrivão João Cabral que condenaram Midana Indi e a sua esposa por prática da feitiçaria. Tomaram-lhe (a Midana) o zinco que foi vendid para pagar-me pelo prejuízo causado, a fim poder tratar. Mas, infelizmente, até então não recebi o valor total em dinheiro da parte do escrivão e do delegado do Ministério Público”, lamentou.
Versão do Comité da Tabanca de Ensalma
O comité da Tabanca de Ensalma, Agostinho Cá, manifestou ao nosso Jornal a sua preocupação pela forma como funciona o Tribunal de Safim, porque de acordo com ele “os casos que entram neste Tribunal não são bem tratados e, de facto, essa situação é triste, não sei se é desta forma que funciona os outros tribunais do país”.
Aquele responsável da Tabanca de Ensalma tomou conhecimento deste caso desde o ano passado, garantindo, por outro lado, que foi ele, quem comprou as duzentas folhas de zincos que o réu Midana Indi entregou ao escrivão de Tribunal João Cabral para vender e que tudo lhe custara 310.000 mil Francos CFA.
˝Comprei cada folha de zinco no valor de 1500 Francos CFA, num total de 200 folhas. Lassana Camará e João Cabral não podem recusar, porque foi o escrivão que entreguei o dinheiro em mãos num valor de 300.000 Francos CFA para zincos e 10.000 Francos CFA de prego”, explicou a’O Democrata.
Versão do Delegado do Ministério Público
O delegado do Ministério Público, Lassana Camará, considerou de lamentável o sucedido, porque apenas assumiu este processo com o intuito de ajudar Angolano Nanque.
˝Sei que o Tribunal não resolve os assuntos da feitiçaria, na situação que este se contrava jovem era má deixá-lo com o sofrimento. Eu, como autoridade, tentei ajudá-lo, mandei convocar as partes e perguntei ao Midana Indi se, na verdade, foi ele quem fez o trabalho e me respondeu que sim, que foi ele˝, defendeu-se Lassana Camará, acrescentando, em seguida que foi, através da confirmação do Midana Indi, que resolveu incumbir-lhe à responsabilidade de cuidar da saúde do Angolano Nanque. Também foi, a partir daí, que o réu decidiu entregar ao Tribunal 197 folhas de zinco para vender e reverter o valor da venda no tratamento do jovem Angolano Nanque.
Instado a pronunciar sobre a quantidade de folhas de zinco que o réu Midana Indi entregou para vender e ainda sobre o valor da venda, Lassana Camará disse que foram 197 folhas vendidas a preço de 1.250 Francos CFA cada folha. Disse ainda que o dinheiro se encontra guardado na sua conta bancária.
Versão do Escrivão do Tribunal de Safim
O escrivão do Tribunal de Safim, João Cabral disse ao nosso Jornal que tomaram a iniciativa de ouvir Midana Indi e Angolano Nanque, a fim de poder criar um clima de normalidade entre as partes e cuidar da saúde de Angolano Nanque que estava a deteriorizar a cada dia.
˝Quando chegamos aqui o processo estava nãos mãos da então delegada, Fatumata Silá. Com a nossa chegada e, com a pressão do Angolano Nanque, o delegado Lassana Camará decidiu convocar as partes, como consta no processo. Na referida audiência, Midana aceitou que foi ele, quem colocou o ‘Irã’ na casa de Angolano Nanque que o feriu no pé. O delegado quando o ouviu a assumir a culpa ameaçou-lhe, pedindo-lhe que repetisse a mesma conversa que teria sido ele, realmente, que colocou o Irã em casa de Angolano Nanque. Foi assim que tomamos a decisão de o castigar para tranqüilizarmos o ânimo da vitima que se encontrava revoltado com a situação”, explicou João Cabral.
Ainda de acordo com as suas palavras, o Tribunal pagou 15 mil Francos CFA a uma viatura para ir carregar as folhas do zinco da residência do réu, cujo filho recusou entregar tendo regressado ao Tribunal sem zincos. Só na segunda deslocação, na companhia de dois polícias da Esquadra local, é que conseguiram trazer para o Tribunal as folhas do zinco, pagando cada polícia mil Francos CFA de subsídio de deslocação. Revelou, por outro lado, que encontraram, em casa do réu, apenas 197 folhas de zinco e venderam-nas, cada folha, a 1.250 Francos CFA.
“Com este dinheiro, pagamos a contratação da viatura 30.000 Francos CFA, entregamos a vítima Angolano Nanque 45.000 mil Francos CFA para o seu tratamento, pagamos policias 2000 Francos CFA. Demos também ao Midana Indi 70.000 Francos CFA para retirar o Irã da casa do Angolano Nanque, ainda hoje entregamos o Angolano Nanque uma soma de 50.000 Francos CFA”, esclareceu o escrivão.
Por: Sabino Mertche



















