Se a transumância política não é a única razão da desorganização política e mesmo a do Estado bissauguineense, ela contribuiu a elevar a cultura de permissivismo e a corupção na função pública guineense.
Transumância, do latim trans (do outro lado) e húmus (a terra, o país), é a migração periódica de gado (bovídeos, equinos e ovelhas) da planície para as montanhas ou das montanhas. Por outro lado, abelhas de uma região floral para outra, dependendo das condições climáticas e da alternância das estações. Na Guiné-Bissau, quando falamos de transumância, a definição é bem diferente. Isso evoca imediatamente a passagem de um político de um partido para outro, de uma ideologia para outra. O gado transumante é sempre guiado por um pastor, os políticos transumantes são guiados pelas necessidades e conveniências circunstanciais.
Politicamente, o tópico prosaico de debates hoje é a transumância política, longe de ser uma boa estratégia política, esse fenômeno, continua sendo a tática favorita de certos políticos, torna-se cada vez mais significativo no seio dos políticos. Contudo, vergonhoso!
De PAIGC para PRS, de MADEM para APU-PDGB, de PRS para PTG, etc. A transumância política aparece, portanto, como uma ação oportunista dos políticos em busca dos ganhos pessoais. De fato, em troca da sua adesão e do seu apoio, o transumante mantém ou aumenta seus privilégios e/ou escapa de certa condenação por má gestão, o mais frequentemente e vergonhoso é o caso dos deputados eleitos que abandonam o partido que os elegeu.
Cada partido político é uma entidade de direito próprio e forma a opinião e os seus militantes através de um quadro doutrinário e ideológico, e é graças a esta formação proporcionada por esta entidade que as ideias e o programa eleitoral deste partido é elaborado. Por ser eleito através deste programa e visão do partido a transumância política deve ser considerada como a pior traição.
As consequências são enormes e podemos citar principalmente o descompasso das aspirações populares com as ações do governo, bem como a impunidade, a corrupção e prática do nepotismo como forma de recompensar os transumantes.
Vários fatores são responsáveis por este fenômeno. Cito por exemplo, a fragilidade das instituições publicas e o multipartidarismo integral. O sistema multipartidário integral e sem limites empurra certas pessoas, baseando unicamente nas influências das suas comunidades, a criar um partido político porque não existem mecanismos alternativos para harmonizar ideologias ou para limitar o número de partidos.
Atualmente, existem vários partidos políticos na Guiné-Bissau com ideologias e fundamentos de criação idênticos e alguns não conseguem ou não preocupam em identificar e divulgar as respetivas ideologias estruturantes. O mais alarmante é que raras vezes (quase nunca) o eleitorado bissau-guineense exige os partidos para apresentar as suas ideologias. Consequentemente, quase não se discutem as ideologias nos debates políticos e os partidos mudam facilmente de uma posição para outra, chegando até a apoiar outro partido, independentemente da corrente ideológica que segue. Podemos, por isso, concluir que a busca do poder para tirar ganhos pessoais são as únicas razões da proliferação dos partidos políticos e que os partidos políticos não são criados por razões ideológicos ou de prossecução do interesse comum.
Assim, não restam dúvidas que não é expetável confiar na vontade política para reverter esta situação, a elite político atual é motivada pelo desejo de dominar as peças do xadrez e não em combater os fenómenos prejudiciais ao interesse público.
Mesmo que pareça impossível, essa disfunção política pode ser corrigida pela formação ideológica de jovens partidários. A juventude, que é a única esperança, deve ser formada para abraçar melhor as realidades políticas e recusar a manipulação e a compra de consciência. A juventude deve estar atenta para que os erros do passado sejam corrigidos pela boa prática da democracia.
É necessário combater o nepotismo através de procedimentos de recrutamento às funções públicas transparentes e claros, num contexto de crescente desconfiança dos cidadãos em relação às autoridades públicas, bem como garantir a imparcialidade na aplicação dos processos de recrutamento. É fundamental evitar a transumância e criar condições da estabilidade política e desenvolvimento humano.
Por: Ronize Ivan Ramos Pires
Mestre em Economia e Finanças Aplicadas
















