O investigador Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa (INEP), Saico Djibril Baldé, defendeu esta quarta-feira, 1 de junho, a definição de uma política de emigração para incentivar os emigrantes a investirem no país e a transferirem as suas poupanças.
O investigador sénior do INEP fez essa chama de atenção na apresentação pública da sua tese de doutoramento “O Impacto das Remessas dos Emigrantes nas Sociedades Guineenses”.
Saico Djibril Baldé frisou que, apesar de as remessas aliviarem a pobreza na Guiné-Bissau, não são tão positivas no desenvolvimento do país, porque “poderia haver mais investimento, não resumir-se a apenas a ajudar nas despesas básicas das famílias”.
O investigador salientou que, para além de dar o testemunho da sua vida do que é ser emigrante acidentalmente e viver, às vezes, na clandestinidade, o estudo vai contribuir na academia e trazer a real situação do que é ser emigrante e dos conflitos que esse fenómeno gera.
Para o investigador, a taxa da pobreza na Guiné-Bissau podia ser mais alta se não fosse a ajuda das remessas dos emigrantes, tendo em conta a inflação. Revelou que as pressões que os emigrantes recebem dos familiares faz com que muitos nem se quer pensem na sua aposentadoria.
Realçou a necessidade de ser desencorajada a emigração clandestina, porque é uma aventura arriscada e a apostar na criação de política de desenvolvimento, baseada na contribuição dos emigrantes, bem como instruir as famílias na redução de gastos das remessas recebidas do exterior.
Saico Djibril Baldé admitiu que as remessas dos emigrantes têm contribuído significativamente para o desenvolvimento do país, visto que assumem um papel importante na sobrevivência das populações.
“Em alguns países, as remessas dos emigrantes superam as ajudas públicas. Também permitem aos Estados ganharem algumas divisas”, precisou.
De acordo com a tese, as remessas dos emigrantes têm assumido uma dimensão significativa na sobrevivência da população guineense, por ser um país em que a instabilidade política é constante, resultante de várias dinâmicas potencialmente destruidoras.
“Escolhi o tema da minha tese para compreender as relações entre as mudanças globais e as dinâmicas internas da sociedade guineense, através do estudo das remessas dos migrantes, mas também para conhecer a dinâmica da migração dos guineenses, em geral e as estratégias dos migrantes e das suas famílias face às mudanças políticas, à crise financeira e o desemprego”, indicou.
O investigador concluiu que os guineenses emigrados mantêm fortes ligações com o país e local de origem através do envio das remessas, e que as estatísticas apontam que as mães e esposas são as que mais beneficiam dessa ajuda.
Dados estatísticos indicam que a maior parte dessas remessas são provenientes da Espanha, país de onde os emigrantes guineenses mais enviam as remessas, depois vem a França e Portugal figura na terceira posição.
Saico Baldé justificou que Portugal ficou na terceira posição, porque as remessas dos emigrantes neste país escapam aos registos estáticos oficiais, assinalando que as remessas têm criado uma “dependência excessiva” das famílias, o que se traduz no aumento da vulnerabilidade não só da família que ficou na Guiné-Bissau como do próprio migrante perante e a sua responsabilidade de garantir o sustento da família, cuidados de saúde, educação e todos os tipos de cerimónias no seio da sua comunidade.
O estudo aponta que em 1980 viviam em Portugal 678 cidadãos guineenses com estatuto legal de residente. O máximo foi atingido em 2008 com cerca de 24 mil. No entanto, este estatuto refere-se a um conjunto de pessoas de nacionalidade não portuguesa com autorização ou cartão de residência, de acordo com a legislação de estrangeiros em vigor.
A pesquisa decorreu em três áreas geográficas: no Norte, Leste e Sul, respetivamente, como também no Rossio (Lisboa) e no mercado do Bandim, na Guiné-Bissau.
Por: Epifânia Mendonça
Foto: E.M



















