METEOROLOGIA ANUNCIA UM ANO AGRÍCOLA HÚMIDO E DE MUITA CHUVA NO PAÍS

O Serviço do Instituto Nacional de Meteorologia da Guiné-Bissau prevê um ano agrícola húmido e de grande quantidade de chuvas, o que pode constituir um fator de alegria, tanto para os agricultores como para outros atores que intervêm no setor agrícola.   

O anuncio foi feito por Cherno Luís Mendes, ponto focal da previsão climática e sazonal do Instituto Nacional de Meteorologia da Guiné-Bissau, em entrevista ao jornal O Democrata (27 de maio de 2022) para falar de, entre outros aspetos, do tipo da época de chuvas que os agricultores podem esperar, que culturas ou variedades devem ser priorizadas e as medidas preventivas que devem ser tomadas caso ocorram ventos fortes.

CHERNO MENDES ALERTA QUE O PAÍS VAI REGISTAR VENTOS FORTES ENTRE AGOSTO E SETEMBRO

O especialista em previsões sazonais alertou que a Guiné-Bissau é um país “muito vulnerável” às inundações, devidos às suas especificidades caraterizadas por muitas zonas baixas, que estão a ser invadidas e onde estão a ser construídas habitações. Quando chove, todas estas zonas ficam inundadas, porque grande quantidade da água pluvial não consegue passar para o mar.

“Para além disso, a valetas são entupidas de lixo e quando chove de forma torrencial, deixa  muita a água na terra e nas casas porque não consegue circular com facilidade”, precisou.   

Lembrou que a previsão sazonal para este ano foi feita em março, destacando que em cada fórum de previsões, faz-se três tipos de previsões, nomeadamente climática sazonal, agro-meteorológica sazonal e meteorológica sazonal, tendo em conta a especificidade de cada matéria.

Cherno Luís Mendes disse que só no final da época das chuvas é que o Instituto Nacional da Meteorologia poderá estar em condições de calcular o volume de água que poderá ter caído, que apenas faz análise da performance sazonal de cada época para saber se vai ser um ano pluvioso ou de fraca chuva.

“Mesmo sabendo que se trata de um ano menos favorável aos agricultores, a nossa obrigação é informá-los para que possam planear melhor. Não fazemos antes os cálculos da quantidade das águas pluviais, só no final das chuvas”, esclareceu.

Perante estes fatos, Cherno Mendes aconselhou os agricultores a trabalharem mais nos planos de gestão da água nas bolanhas, construir diques de qualidade para a retenção da água nos campos de cultivo, bem como bombas de drenagem.

“Em 2020, muitos agricultores não conseguiram cultivar, devido à grande quantidade de água que inundou as bolanhas. Os agricultores têm que começar a adaptar-se às novas técnicas, seguir sempre as orientações dos técnicos do ministério da agricultura e as informações meteorológicas”, sublinhou.

Em conversa telefónica com a redação de O Democrata, o presidente do Instituto Nacional de Pesquisa Agrária (INPA), João Aruth, esclareceu que o país não dispõe ainda de variedades de arroz de ciclo longo para suportar grande quantidade de água nas bolanhas.

O presidente do INPA revelou que está em curso um estudo num centro de pesquisa sub-regional para encontrar variedades adaptáveis a grandes quantidades de água.

“Não temos essa variedade. Temos, sim, a de ciclo médio que não precisa de grande quantidade de água, apenas dura três meses e pode aguentar mesmo quando a chuva fracassar no meio da época. Temos ainda o ciclo curto, que também se adapta à pequena quantidade de água, porque se antecipar a fase de stress, formação de espiga, não precisa da água em grande quantidade, apenas humidade”, frisou.

O ponto focal do Instituto Nacional da Meteorologia alertou que o país poderá registar ventos fortes entre setembro e agosto e no final da época das chuvas, devido ao deslocamento das células, dependendo da formação do sistema e apontou as zonas litorais como as mais vulneráveis a ventos fortes.

“Vamos ter um clima quente, porque as temperaturas que são sentidas favorecem o processo de vaporação e a formação das nuvens. Se não houver calor, não há condensação e não vamos ter chuva nenhuma”, indicou.

Questionado sobre as medidas que devem ser tomadas em relação a ventos fortes, Cherno Luís Mendes criticou aquilo que tem sido prática de devastar árvores de grande porte, com argumentos de que constituem ameaça à segurança das pessoas e das habitações.

Para Mendes, essas árvores só devem ser podadas, se constituírem perigo ou se estiverem muito próximas das infraestruturas habitacionais, mas se estiverem longe devem ser preservadas porque podem servir de tampão e proteger as casas.  

Por: Filomeno Sambú

Fotos: Marcelo Na Ritche  & MM

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *