Opinião: JORNALISMO INSTITUCIONAL

Nos últimos anos, a imprensa guineense tem sido dominada por um jornalismo institucional. Os governantes têm viajado para exterior sem  a imprensa com a justificação de falta de fundos para suportar as despesas de viagem dos homens de imprensa.

Virou “uma lei” os assessores de imprensa [não se esqueçam que quando um jornalista exerce essa função deixa de ser considerado Jornalista] gravarem os “seus chefes” e enviarem os áudios para o grupo de WhatsApp criado por quase todos os departamentos governamentais. Os responsáveis dos órgãos de comunicação social caem (in)conscientemente na armadilha de LIGITIMAR a falta de cumprimento do preceito constitucional a que um governante está sujeito: o dever de prestar contas ao povo que o elegeu. 

A imprensa esquece-se que é “olho do povo”, e mais, se esquece que há um princípio fundamental no jornalismo: o jornalista é guiado pelos órgãos de sentido.

Falam de assinatura de acordos, parcerias, encontros bilaterais, empresários disponíveis para investir no país, tiram fotografias no cocktail e postam-nas para enganar o povo. Tudo isso fora dos olhos de imprensa nacional. Mas os responsáveis dos órgãos aceitam ser “mininus di mandado”, autorizando a difusão dessas informações.

O povo guineense está de rastos, não tem o comer, nem de pagar a escola dos filhos, não tem saúde, estradas em condições… Essas são as prioridades governativas e agendas que devem merecer a atualidade nos órgãos de comunicação social.

Difundir os áudios de entrevista de um governante do seu país que se deslocou em viagem de Estado ao estrangeiro sem jornalistas é sinônimo de fazer um jornalismo institucional “promover a imagem do “chefe” e da instituição”. Quando é assim, os órgãos são vistos como instrumento de propaganda institucional e não um instrumento com missão de “fiscalizar” a ação governativa.

É preciso que os órgãos de comunicação social priorizem agendas internas, nomeadamente a entrevista com empreendedores, agricultores, criadores de gado, artesões, carpinteiros, mecânicos, organizações de defesa de mulheres e crianças…

Outrossim, é preciso rejeitar essa narrativa construída por esses políticos e deixarmos de intoxicar o povo.

Tenho dito!

Por: Tiago Seide

Jornalista e Professor

Bissau, 6 de julho de 2022

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