[ENTREVISTA] O Ministro da Juventude, Cultura e Desportos, Augusto Gomes, afirmou que o governo coloca centenas de milhões de francos cfa à disposição da seleção nacional que, segundo o governante, “poderiam ter sido utilizados para comprar medicamentos para os centros de saúde”, tendo defendido prestação de contas, que não seja só com a justificação do dinheiro gasto nas deslocações ou participações do país nas competições internacionais.
“Se eu assumir trazer bons resultados para os guineenses e se não os trouxer, devo prestar as minhas contas tecnicamente. Esse é o objetivo e quando não é atingido tenho que assumir as minhas responsabilidades. Os atletas devem ser responsáveis e fazer parte da sua responsabilidade neste processo. A equipa técnica da seleção tem que assumir a sua quota parte de responsabilidade e o governo também. Se todos trabalharem para corresponder às suas responsabilidades, chegaremos ao CAN e passaremos à fase seguinte”, disse o ministro na entrevista ao semanário O Democrata para falar dos projetos do executivo para desenvolver o desporto, sobretudo a questão da requalificação do Estado Nacional 24 de Setembro e a situação da Federação de Futebol da Guiné-Bissau.
Sobre as dívidas ao antigo selecionador nacional, Paulo Tores, reconheceu que na verdade sessenta milhões de francos CFA é muito dinheiro.
Questionado se a dívida existe, Augusto Gomes disse que “não se pode dizer que a dívida não existe e eu que esteja a dizer que ela existe”.
“A questão que se coloca neste momento é como é que a dívida foi acumulada e qual é a perspetiva que se tem para pagá-la. Esses dados foram-me ditos assim, mas estou a pedir que me facultem os relatórios para vermos todos em conjunto (Federação, as Finanças e o Ministério da Juventude, Cultura e Desportos) como é que essa dívida pode ser ultrapassada ou procurarmos uma solução, porque tem que se pagar”, disse.
O Democrata (OD): A FIFA interditou o estádio 24 de setembro para jogos oficiais. O que é que o governo está a fazer para ultrapassar essa situação?
Augusto Gomes (AG): A nível do governo, vimos isso como um desafio que deve ser resolvido. Temos que trabalhar para permitir que os jogos da seleção agendados para serem realizados em casa possam, de fato, acontecer. O processo está a andar bem.
A interdição tem a ver com as más condições do relvado, do balneário e do mobiliário que é preciso padronizar com os estádios para estas competições. O governo já deu passos significativos para normalização dessa situação e consentiu um esforço financeiro para poder realizar as obras de substituição do relvado e a requalificação do balneário.
O governo já pagou 132 dos 160 mil euros necessários à empresa francesa contratada, que esteve a trabalhar no Estádio Bem Diob em Dakar, para executar esse trabalho. A equipa técnica chega no domingo, 2 de julho, para realizar as últimas vistorias e levantamentos para permitir que depois se conclua a aquisição dos materiais que devem ser mobilizados para esse trabalho.
A rota já foi definida e será Paris-Casablanca-Bissau. Para além dos 132 mil euros, há uma outra verba de 84 mil euros para a manutenção. A manutenção vai para um período mais longo para não entrarmos novamente numa situação de más condições do relvado.
OD: O Desporto é uma área vasta que inclui várias modalidades. Como pensa o governo trabalhar para incentivar a prática de outras modalidades de modo a que o país comece a participar nessas competições a nível internacional?
AG: Todos os setores ligados ao desporto merecem atenção do governo. Tivemos a colaboração de um técnico português com muita experiência no acompanhamento e capacitação de diferentes federações desportivas. O governo pretende com isso que todas as modalidades sejam praticadas por todos e em todo o país.
Temos estado muito concentrados em Bissau, mas estamos a estabelecer contatos com a Agência de Cooperação Turca com a qual pretendemos trabalhar para a construção de infraestruturas desportivas a nível das regiões, nomeadamente as arenas, os estádios, pequenos espaços desportivos.
A nível de Bissau, recuperar espaços históricos, por exemplo, Cacoma que se encontra em esquecimento. É uma ideia que vai ser executada em colaboração com o Ministério da Administração Territorial e Poder Local para que esses espaços sejam, de fato, garantidos. Ou seja, queremos promover uma atividade desportiva inclusiva, onde todos podem praticar e ter acesso às instalações e às infraestruturas desportivas.
OD: O Estado da Guiné-Bissau deve sessenta milhões de francos CFA à antiga equipa técnica da seleção nacional de futebol liderada por Paulo Torres, entre 2013 e 2015. Como pensa liquidá-la?
AG: Sessenta milhões de francos CFA é muito dinheiro. Não se pode dizer que a dívida não existe e eu estar a dizer que ela existe. A questão que se coloca neste momento é como é que a dívida foi acumulada e qual é a perspetiva que se tem para pagá-la.
Esses dados todos foram-me ditos assim, mas estou a pedir que me facultem os relatórios para vermos todos em conjunto (Federação, as Finanças e o Ministério da Juventude, Cultura e Desportos) como é que essa dívida pode ser ultrapassada ou procurarmos uma solução, porque tem que se pagar.
É uma dívida, um trabalho que foi prestado, um engajamento e um compromisso do governo. É claro que sessenta milhões é muito dinheiro, numa perspetiva, pode também não ser muito dinheiro noutra perspetiva.
A ideia que se tem do desporto é que ele consome apenas, não produz. Mas é uma ideia errada, porque se se ficar na perspetiva de que o desporto consome fundos do Estado pode-se dizer que é muito dinheiro, mas se partir da perspetiva em como o desporto produz riqueza ou faz receitas, então sessenta milhões de francos CFA há-de ser pouco dinheiro.
Estamos a caminho de requalificar o Estádio Nacional 24 de setembro para que passe a receber jogos internacionais. Se houver um trabalho coordenado, só com os ingressos, sem contar com efeitos colaterais, o estádio 24 de setembro vai produzir muito dinheiro.
Temos a economia de escala que se produz quando se realiza um jogo internacional. Vende-se muita coisa não só no estádio como também nos hotéis e atividade comercial em si gera algum rendimento.
Quando não se joga em Bissau, que podem render para a economia, é claro que os sessenta milhões são muita coisa, porque não há nenhuma perspetiva de angariação de fundos para fazer face a essa responsabilidade.
Vamos trabalhar para organizar melhor. O governo está a trabalhar para introduzir novas medidas de controlo, os torniquetes de acesso, os ingressos automáticos, para evitar a vergonha que aconteceu no Estádio Lino Correia depois da atuação do cantor cabo-verdiano Djodje. Isso vai permitir maior controlo e que quem entre no estádio, realmente, pague ou que o dinheiro de ingresso não vá parar em sítios alheios.
Outra intenção é ter um estádio com muro padronizado com segurança máxima e intransponível, portanto essas medidas tornam um estádio rentável.
Outra realidade que se tem no 24 de setembro é que é um estádio quase exclusivamente para futebol, não pode ser. Os estádios hoje em dia são infraestruturas multiuso, que podem servir não só para o futebol, mas também para eventos culturais (grandes Sows), religiosos e atos políticos de grande massa, tudo isso numa perspetiva de valorização e de conservação. Ou seja, se alguém pretende realizar uma atividade de grande massa que não seja futebol, no estádio haverá placas de proteção do relvado que existem por toda parte do mundo. Você coloca as placas de proteção e nem que passe por aí um tanque blindado o relvado mantém-se intato e quando acaba o espetáculo, remove-se tudo para o estádio voltar a estar apto para a prática a prática de futebol. Quando percebi tudo isso, atrevi-me a apresentar a ideia ao Presidente da República, ao primeiro-ministro, ao vice-primeiro-ministro e ao ministro das Finanças, que aceitaram, a princípio, investir. A primeira ideia era só jogar dinheiro e o Estado não recebia nada de volta.
Nós, o ministério da Juventude, Cultura e Desportos, assumimos essa responsabilidade, que o Estado invista primeiro e depois assuma o retorno desse investimento, mas contamos com o apoio da população, da juventude, dos bancos comerciais, das pessoas ligadas às novas tecnologias de informação e de outras instituições, sobretudo do Ministério do Interior no controlo do estádio e do investimento que se vai fazer e que numa parceria “ganha-ganha”, possamos trabalhar todos e ganharmos todos. Assumi esse compromisso porque tenho confiança na juventude, um exército da paz.
Os 132 dos 160 mil euros já foram entregues à empresa, como adiantamento. A empresa que recebeu já nos entregou a garantia bancária de um banco para cobrir esse adiantamento. A juventude vai participar nesse processo para garantir segurança, porque se a juventude se mobilizar pelo estádio, já será parte para o rendimento. A nossa aposta é fazer com que a população volte aos estádios.
Mas para fazer com que as pessoas voltem aos estádios, não podemos ter o estádio 24 de setembro na situação de lixo em que se encontra. Temos que limpar toda a lixeira de forma a garantir que quem quer for ao estádio se sinta bem acomodado.
A Câmara Municipal de Bissau tem que deixar aquele espaço limpo, organizar um parque de estacionamento para viaturas, que pode ser rentável e formar jovens para a gestão do mesmo, bem como construir cacifos dignos para as mulheres que queiram vender alguma coisa. Tudo isso pode tornar o estádio rentável, não chegar e mandar toda a gente embora. Mas sim as deslocar as pessoas e depois colocar cacifos dignos.
Jogar fora são centenas de milhões de francos CFA que o país gasta, que poderiam ser aplicados no sistema de saúde e no setor da educação, mas vão para a seleção. Se a seleção não ganha, é como se jogássemos o dinheiro no fundo do poço.
Mas não é bem assim, a nossa seleção é viável. É preciso o Estado investir na construção de estádios e infraestruturas desportivas, capacitar as federações na administração do futebol e garantir que o dinheiro que se coloca a disposição das federações chegue ao atleta, por exemplo, de luta e de andebol, etc…
É preciso que a Federação seja apenas gestor a favor do atleta. Quer dizer, recebe o dinheiro do Estado ou das federações internacionais e a federação vai aplicá-lo a favor do atleta que pratica a modalidade. Tenho informações que Paulo Torres terá conversado com alguém no país por isso é que a situação não foi tão explosiva. É provável que se tenha aceitado num determinado momento e depois não se pagou, como também pode ser que tenha a ver com a nossa descontinuidade governativa. Estou aqui até 18 de dezembro, mas o tempo para mim não é o fundamental.
Mesmo que fosse só por dois meses, se tivesse que fazer uma coisa que se possa fazer em dois anos fá-lo-ia, ou seja, começaria a fazê-lo. O tempo é importante, mas não me bloqueia. Vou conservar com todos que estão envolvidos nesse assunto e desenhar um plano de resolução dos sessenta milhões de francos CFA.
OD: A nova direção da FFGB teve roturas grandes internamente, mas ninguém veio a público explicar as demissões e as acusações mútuas entre elementos da federação sobre desvio de fundos, nem o governo se pronunciou sobre a matéria. Será que tem seguido esse fenómeno na FFGB?
AG: Tenho muito respeito pelos dirigentes da federação de futebol e vejo que estão engajados em trabalhar para o bem do desporto nacional. Há, sim, algumas que não chegam e insuficiências do ponto de vista de coordenação que são passíveis de serem ultrapassados pelo diálogo e da forma de estarmos próximos um do outro. Acho que o governo tem a responsabilidade de trabalhar e gerir a proximidade com as federações.
Por exemplo, Augusto Midana e outros vão sempre às competições, mas internamente não há competições para os nossos atletas e as federações não organizam nada. Estamos mais lá fora do que dentro. Os nossos atletas, como é o caso de Augusto Midana, por exemplo, conseguiram ter proezas que têm tido, porque têm o ADN de lutas, mas há um problema de falta de acompanhamento e centros de alto rendimento para treinamento.
Temos que pedir aos países da sub-região ou aos nossos vizinhos. Há dias recebi um grupo de crianças de andebol. Saem de diferentes pontos do país para virem treinar em Bissau. Se não tiverem meios não veem. Querem desenvolver a sua potencialidade, mas não têm meios, portanto temos que começar a construir infraestruturas.
O grande problema é que conversamos tanto e não vamos ao essencial e porque as nossas instituições ficam paradas. Se há uma denúncia, o caminho é fazer uma sindicância financeira. Faz-se uma auditoria para não ficar no falatório.
Uma auditoria competente esclarece e ficamos em paz. Quando há este tipo de situação, o Tribunal de Contas tem a responsabilidade de intervir tecnicamente para esclarecer e a Procuradoria-Geral da República faz recurso e teremos toda umacombinação institucional. Se a PGR julgar que há uma administração danosa toma medidas e o processo fica sanado.
OD: Entende-se que o que aconteceu a nível da federação de futebol não foi discutido abertamente, por isso registaram-se demissões e acusações entre dirigentes daquela organização?
AG: O que acontece agora na Guiné-Bissau é um bocadinho transversal e sempre no mau sentido. Fala-se muito e faz-se pouco! É fácil acusar e falar, mas trazer elementos ou provas é muito difícil. Penso que temos que mudar essa perspetiva, porque mesmo na política é assim todos acusam-semutuamente e no desporto é assim na sociedade civil igualmente. Temos sido ultimamente uma sociedade de barulho e é muito mau para o país.
Temos que poder trabalhar e respeitarmo-nos. Temos que trabalhar numa perspetiva em que nós tenhamos atitude de solidariedade e de entreajuda. O bem comum deve estar acima de tudo e devemo-nos mobilizar completamente para a sua proteção, sendo que o “meu ter só tem valor a partir do nosso ter”. Todos nós que devemos responder pelo país no seu todo e não apenas um de nós a responder pelo país.
Penso que o desporto tem um potencial muito forte, mas se cada dirigente desportivo pensa que deve capturar uma determinada modalidade ou federação para se servir dela, então ele está enganado. Essa atitude de utilizar as instituições para servirmo-nos é que nos está a fragilizar, portanto isso existe no aparelho de Estado e na política.
OD: O ministro está a trabalhar para que haja a aproximação, ou seja, reconciliação entre os dirigentes das diferentes federações?
AG: Já estou a trabalhar nisso. Eu optei por estar mais próximo e agora estamos a trabalhar juntos com os dirigentes federativos. Estar próximos significa conhecer os problemas das federações e que elas (federações) trabalhem também com o governo de forma honesta para que possamos, através de uma parceria, capacitarmo-nos uns aos outros.
Temos a possibilidade de trazer de outro lado outras experiências e trabalhar no sentido de reforçar a forma de aceder aos recursos juntos, através de infraestruturas que eles não conseguem fazer. Podemos desencadear aqui parcerias que nos permitam construir infraestruturas desportivas.
Se os futebolistas tiverem motivação, teremos excelentes profissionais. A partir do momento em que tivermos excelentes profissionais de futebol, haverá retornos porque gerarão riquezas a favor das federações e do país. Um dos exemplos é a nossa participação sucessiva no CAN. Eu não posso ter bons atletas como os “Djurtus”, que façam boas campanhas para o CAN e chegam à fase final com uma dívida que o Estado não consegue pagar ou chegam lá e lembram-se de uma promessa que não foi cumprida.
Essa forma muito franca de trabalhar é que pode mudar o estado das coisas. Como digo sempre há muito potencial, mas o problema é a forma como podemos trazer riquezas através do desporto.
OD: Numa reunião, aqui no ministério, disse que não iria permitir que as pessoas se aproveitassem das deslocações da seleção para emigração ou campo de lazer. Como pensa contornar essa situação que até parece ser moda na Guiné-Bissau?
AG: Os jovens são bastantes tentados para a emigração e isso é uma realidade no nosso país e também em toda parte do mundo. O desporto tem sido um dos meios para chegar lá onde pensam que é um paraíso. Os responsáveis das diferentes federações são pressionados com essas tentações e às vezes caem nelas e acredito que tenham caído bastante na Guiné-Bissau.
OD: Que medidas serão acionadas para estancar essa prática?
AG: O governo já está a trabalhar nisso. Devemos primeiramente aceitar o princípio da reforma, por exemplo, o governo fez uma reforma a nível dos passaportes. Os passaportes da Guiné-Bissau caíram na vergonha e chegou uma altura em que qualquer um é portador de passaporte da Guiné-Bissau, seja diplomático, de serviço ou ordinário. Já há uma reforma que tende estancar essa vergonha.
A saída de uma delegação desportiva para estrangeiro é controlada. Agora não basta dizer que vou jogar em Londres, porque há convite. Sabemos que existe uma rede internacional de contrabando e do tráfico de pessoas que se aproveita de eventos desportivos internacionais desta natureza para outras paragens ou fins de migração.
O Estado tem a responsabilidade de manter seguro o sistema, particularmente a documentação. Os nossos documentos têm que ser emitidos com segurança, como também o nosso pessoal de controlo tem que ser capacitado para ter uma atitude de responsabilidade e de patriotismo, porque facilitar para pôr em causa o país é falta do patriotismo.
O que corrompia o sistema era a indevida intervenção dos agentes do Estado. Passa-se num ministério que valida os documentos e manda para um serviço consular, confirmando que a caravana vai jogar. Um membro do governo não intervém nos passaportes ordinários, por isso é da responsabilidade dos serviços consulares fazer o seu discernimento, de forma autónoma, para garantir que ninguém interfira.
OD: A imprensa tem criticado a sua ausência dos jogos da seleção. O que se passa realmente, senhor ministro?
AG: Quando viajei para Marraquexe (Marrocos) para acompanhar o jogo da nossa seleção com a seleção de São Tomé e Príncipe, eu estava prestes a assinar um despacho que regulamenta a participação da imprensa nas deslocações da seleção. Os critérios foram muito bem desenhados, aliás, tive uma reunião alargada com todos os órgãos antes da produção do despacho.
Desenhamos um critério justo que regulamenta a participação dos órgãos nas deslocações da seleção ao estrangeiro. Quando estava prestes a assinar o despacho de regulamentação, o parlamento foi dissolvido e, consequentemente, a queda do governo, por isso não avancei com o documento e até não podia acompanhar a seleção, mas fui autorizado para acompanhá-la na qualidade de ex-ministro.
A seleção deveria ser acompanhada pela imprensa, mas estávamos numa situação em que todo o mundo pensava que, se calhar, não seria possível o financiamento do governo para a deslocação da seleção. Nós empenhamo-nos bastante até que o governo autorizou o pagamento da deslocação e depois houve o problema de vistos para os jornalistas. A seleção saiu e foi para Portugal e seguiu depois para Marrocos, quando chegamos a Marraquexe não tinha sido resolvido o problema dos vistos para jornalistas, por isso não cobriram o jogo frente ao São Tomé e Príncipe.
Esperava-se que a imprensa pudesse estar em Conacri, porque é mais próximo. Quando chegamos a Conacri não vimos a imprensa nacional e lamento bastante a ausência da imprensa nacional nessas deslocações. O governo tem cobrido a deslocação da imprensa, mas normalmente era só permitir que eles se deslocassem com os orçamento deles.
Temos também os órgãos do Estado, por exemplo, o ministério da Comunicação social podia estar a cobrir as despesas da televisão, da rádio nacional e do Jornal Nô Pintcha. Nos critérios que definimos, os órgãos do Estado estariam todos presentes. Elaboramos um critério de rotatividade para os órgãos privados e já assinei este despacho que estabelece os critérios para a deslocação da imprensa com a seleção nacional.
OD-O senhor, como pensa trabalhar para potenciar a seleção nacional, que já teve três participações nas fases finais do CAN, nomeadamente Gabão (2017), Egito (2019) e recentemente Camarões (2022)?
AG: Constatei em duas partidas que assisti que os “Djurtus” são rapazes muito capazes, técnica e fisicamente. A equipa técnica é boa, mas há que melhorar a sua forma de acompanhar a seleção. Os “Djurtus” são uma matéria prima extraordinária e há que melhorar o acompanhamento da seleção.
O governo deve olhar para o processo técnico de acompanhamento dos Djurtus, trabalhar com a equipa da federação e da equipa técnica da seleção nacional. Temos que ter aqui uma situação em que todos sejam responsáveis. O governo é responsável, a federação e a equipa técnica também são. É o dinheiro dos guineenses, todos devem prestar contas aos guineenses.
São centenas de milhões de francos CFA colocados à disposição da seleção nacional, e que podiam ser utilizados para comprar medicamentos para centros de saúde. Por isso defendemos a prestação de contas, que não seja só com a justificação do dinheiro gasto.
Se assumo trazer bons resultados para os guineenses, e se não os trouxer devo prestar as minhas contas tecnicamente. Esse é o objetivo e quando não é atingido tenho que assumir as minhas responsabilidades.
Os atletas têm que ser responsáveis e têm que assumir a sua parte da responsabilidade neste processo. A equipa técnica da seleção tem que assumir a sua quota parte da responsabilidade e o governo também. Se todos trabalharem para responder às suas responsabilidades, chegaremos ao CAN e passaremos à fase seguinte.
OD: Mister Candé, quando assinou o contrato com a federação para dirigir a seleção nacional não assumiu nenhum compromisso para além de qualificar-se para a fase final da CAN?
AG: O futebol hoje é uma atividade que requer investimento. Por exemplo, o governo tem um compromisso ou um programa que leva ao povo e o povo lhe outorga para realizar esse programa e depois é avaliado.
Todos devem ter a mesma responsabilidade de ter um programa com o objetivo, e se falhar o objetivo é avaliado e sancionado. Todos nós somos substituíveis. Vou procurar conhecer os termos desse relacionamento institucional e começar a cobrar o resultado.
Por: Filomento Sambú
Foto: Marcelo Na Ritche



















