Suspensão de novos ingressos: CENTRO DE SAÚDE DE SUZANA SEM PESSOAL E POPULAÇÃO RECORRE A TRATAMENTO TRADICIONAL

A decisão adotada pelo governo de suspender a contratação de técnicos de saúde colocados em 2021 e a suspensão de novos ingressos nos setores da educação e saúde está a deixar alguns hospitais e centros de saúde do país desertos.

Por exemplo, na seção de Suzana, setor de São Domingos, região de Cacheu, no norte da Guiné-Bissau, a medida levou ao encerramento do centro, porque dois dos quatro técnicos colocados naquele centro em 2021, sendo que os restantes dois, uma parteira e outra enfermeira, estão indisponíveis.

Em entrevista telefónica, a partir de Suzana, Olálio Neves Trindade, vice-presidente da Associação “Onenoral” dos Filhos e Amigos Da Secção de Suzana (AOFASS), revelou que a parteira, responsável sanitária da secção de Suzana, estaria a participar, em Canchungo, num encontro de rotina que se faz de quando em vez na região de Cacheu e a enfermeira encontrava-se em Bissau a frequentar um curso, antes da decisão do governo.

“Neste momento o centro está praticamente fechado. Os doentes têm procurado os serviços sanitários, mas ninguém está disponível para atendê-los. Algumas pessoas têm recorrido ao hospital de São Domingos e ao centro de saúde de Varela, que está também na mesma situação que Suzana. E nas piores das hipóteses, recorrem a tratamento tradicional “, disse.

Olálio Neves Trindade não confirma nem desmente se houve ou não óbitos que poderiam ter sido evitados, mas admite que a situação é “preocupante”, porque obriga doentes a procurarem alternativas pouco recomendadas, as curas tradicionais.

A secção de Suzana tem duas áreas sanitárias (Suzana e Varela).  Estima-se que nas duas áreas sanitárias estejam pouco mais de vinte tabancas, cuja população não tem neste momento acesso aos cuidados básicos de saúde, nem atendimentos ambulatoriais.

Perante estes desafios que o sistema nacional de saúde enfrenta, o alto responsável de AOFASS apelou às autoridades a reconsiderarem a sua posição e fazer um trabalho de base para conhecer as reais necessidades do setor, sobretudo no interior do país.

“Se continuarmos nessa situação, quem sofrerá com tudo isso somos nós. Nesta época das chuvas, de doenças diarreicas e do paludismo, que sempre representam uma ameaça à saúde pública, podem provocar mortes nas populações. É preciso que repensemos e façamos um levantamento exaustivo das reais necessidades em todo o país, sobretudo nas regiões, setores e secções para em conjunto procurarmos soluções”, salientou.

REPRESENTANTE DA COMUNIDADE LOCAL DIZ QUE AMBIENTE NA SUZANA É DE “PÂNICO”

Contactado pela redação do Jornal O Democrata para reagir à decisão do governo e à falta de atendimento médico à população no centro de saúde local, Udjili Ampolima, representante da comunidade de Suzana, disse que o ambiente é de “pânico”.

Ampolima criticou a inércia do Estado perante o sofrimento da população e revelou que os doentes transportados de motorizadas para o hospital de São Domingos à procura de cuidados médicos pagam dez mil francos, para um percurso de 35 quilômetros.

“Não há controlo dos trabalhadores do Estado. O senhor Ministro da saúde deveria ter-se preocupado com as necessidades que os centros de saúde e os hospitais têm, não suspender quem trabalha. Quando sai um técnico, o centro fica praticamente deserto. Aliás, isso revela que os governantes não estão preocupados com a população da secção de Suzana”, criticou. 

Udjili Ampolima desafiou os políticos a cumprirem as suas promessas eleitorais, porque “quem vota e tem o poder é o povo”.

Por: Filomeno Sambú

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