Caso 1 de fevereiro: FAMILIARES CRITICAM “ORDEM SUPERIOR” QUE IMPEDE A LIBERTAÇÃO DO GENERAL JÚLIO NHATE  

Um dos irmãos do general Júlio Nhate, detido no dia 16 de fevereiro deste ano na sequência da tentativa golpe de estado de 1 de fevereiro, insurgiu-se contra a “ordem superior” que impede a soltura do seu irmão e disse que a sua detenção está associada ao medo que têm dele vir a assumir a liderança dos militares guineenses.

Em conferência de imprensa, esta terça-feira, 27 de setembro de 2022, Roberto Fetchena disse que é de conhecimento público que o seu irmão tinha sido libertado por não ter cometido nenhum crime, nem estar envolvido na tentativa de golpe de estado. 

“Mas o Estado-Maior não quer que seja solto, por isso recorremos ao chefe de Estado, Umaro Sissoco Embaló. Não nos resta mais nada, depois da LIGA. Se for morrer, que morra porque é o que as pessoas desejam”, disse, para de seguida avançar que “se não fosse inveja, teria sido libertado. Aliás, havia decisões judiciais neste sentido. O juiz de Instrução Criminal ordenou a sua soltura porque o nome de Júlio Nhate não estava na lista dos acusados e detidos”.

“Não digo que alguém se sentiu incapaz perante Júlio Nhate, talvez estejam com medo que venha a ser indicado como Chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas”, sublinhou. 

As informações dos familiares indicam que Júlio Nhate está internado há um mês e duas semanas no Hospital Militar a receber cuidados médicos, ainda assim denunciam que as condições em se encontra não são dignas e exigem que seja evacuado de imediato para tratamento médico mais especializado. 

“Júlio padece de problemas de rins e neste momento apresenta outros problemas graves. Não pode ficar muito tempo sem usar sonda uretral”, indicou e afirmou que não apresenta sinais de tortura nem está algemado, mas está sob vigilância. Os familiares dizem terem cumprido todos os requisitos exigidos para que fosse solto e evacuado para tratamento médico no estrangeiro e depois julgado, caso o Estado tiver algo contra ele. 

Júlio Nhate tinha sido posto em liberdade duas vezes, a 8 e 22 de abril deste ano, mas segundo os familiares, “por ordem superior oculta” foi reconduzido às celas. 

“O nosso pai não tinha os problemas que apresentou na segunda esquadra. Foi tirado das celas a correr, porque vomitava sangue. Não obstante as diligências, nenhuma urgência foi acionada para evacuação do nosso pai”, disse na sede da LIGA um dos filhos, Fernando Siga, que acusou as autoridades de sequestro do seu pai.

LIGA CRITICA INCUMPRIMENTO DAS DECISÕES JUDICIAIS PROFERIDAS NO CASO 1 DE FEVEREIRO

Em reação, o presidente da Liga Guineense dos Direitos Humanos LGDH), Augusto Mário da Silva, denunciou o “incumprimento” das decisões tomadas em relação aos detidos no caso de 1 de fevereiro e acusa o Estado de “sequestro”. Segundo a Liga, havendo um despacho que ordena a libertação de cerca de 17 pessoas acusadas e detidas “ilegalmente”, está-se perante um “sequestro” nas diferentes celas prisionais a mando de “uma suposta ordem superior”.

Augusto Mário da Silva lembrou que a Liga havia alertado e reclamado o encerramento das celas da 2ªesquadra, por não disporem das mínimas condições para deter pessoas que estejam em conflito com a lei.

“Há infiltração da água das chuvas, as janelas estão todas estragadas e as casas de banho entupidas. As pessoas entram lá sãs e saem de lá doentes. A maioria dos detidos está a apresentar problemas de enfermidade graves, por causa dasmás condições das celas em que se encontram”, afirmou. Perante esta situação, o presidente da Liga apela ao Estado guineense a adequar a sua conduta aos padrões internacionais dos direitos humanos e às convenções subscritas pelo Estado da Guiné-Bissau e que vinculam o país, bem como dar maior proteção à dignidade humana.  

Por:  Filomeno Sambú

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