O autor do livro “Risco e Adaptação Costeira às Alterações Climáticas – Estudos de caso na Guiné-Bissau”, doutor Morto Baiém Fandé, estima que, daqui a 2050, cerca de 19% de superfícies de Bissau poderão ser engolidas pelo mar.
“Eu trabalhei a questão da inundação de origem marítima, usando o cenário da subida de nível do mar. Constatei que à medida que o nível do mar vai se elevando, mais parte da terra seca vai ficar inundada. Por exemplo, em Bissau, que é uma área de baixa altitude, teremos daqui a 2050 cerca de 19% da superfície de Bissau em risco de inundação. E isto é muito, se pensarmos, por exemplo, nas construções que estão a ser feitas nas zonas de baixa altitude. Isto pode acarretar problemas sociais, por exemplo, em certas zonas teremos que ter que realojar as pessoas, realocar atividades agrícolas e industriais. Tudo isso coloca o país em risco” alertou esta quarta-feira, 26 de outubro de 2022, no ato do lançamento do seu primeiro livro [resultado da sua tese de doutoramento] que debruça sobre um dos maiores problemas ambientais que a humanidade enfrenta e que vem ganhando atenção especial de cientistas, governos, indivíduos, empresas, agências internacionais e organizações não-governamentais de todo o mundo: às alterações climáticas.
Baiém Fandé acredita que há claras evidências que a elevação do nível médio global do mar causada pelas alterações climáticas será inevitável, pelo menos durante este século, mesmo que sejam neutralizadas as emissões de gases com efeito de estufa, ameaçando severamente às comunidades costeiras. Tornou-se cada vez mais necessário e urgente as comunidades costeiras enfrentarem esse desafio – planear e implementar medidas de adaptação.
Lembrou que a Guiné-Bissau é um país muito vulnerável às alterações climáticas, por ser um país costeiro e de baixa altitude, o que lhe torna muito suscetível à subida de nível do mar.
“É uma questão indiscutível hoje. O nível do mar está a subir e continuará a subir nas próximas décadas. Achamos muito importante trabalhar esta temática para o nosso país. Quando falamos da vulnerabilidade às alterações climáticas e da subida de nível do mar não estamos a falar de um problema futuro. É um problema atual. Estamos a ser seriamente afetados pela inundação e erosão costeiras, e esses fenômenos tendem a agravar-se no futuro”, avisou.
Fandé afirmou que as autoridades têm maior quota da responsabilidade, por serem responsáveis pelo ordenamento do território, cabendo-lhes definir as áreas para agricultura e as áreas residenciais e que não deverão permitir que as pessoas construam nas áreas baixas.
“Temos situações complicadas como o caso de Djobel que todo o mundo sabe. Quem deve tomar medidas são as autoridades. Como sabemos, a população não dispõe de recursos para relocação, nem dispõe de recursos para adotar medidas de proteção. Muitas vezes, a ocupação dessas zonas é por causa da falta de conscientização das pessoas, as pessoas não sabem, não têm ideia dos efeitos. Às vezes, vê-se as pessoas a ocuparem áreas baixas, porque há diques que fazem para o cultivo de arroz. Aquilo faz secar certas partes, por causa desses diques que não permitem a entrada da água, as pessoas vão ocupando essas partes, e depois quando rompem a água sobe. Então, às vezes também, é a falta de conscientização é que leva as pessoas a ocuparem essas áreas” explicou o também engenheiro Ambiental e Sanitarista, detalhando que, em Bissau, os bairros de Quelelé, Cuntum Madina, Bissau velho (zonas de Quartel da Marinha de Guerra Nacional, Antula (está a verificar-se uma explosão de construção de enormes armazéns e fábricas), o risco é caracterizado pela grande extensão da área construída e elevada quantidade de casas em condições precárias localizadas em áreas inundáveis, e na Secção de Suzana, a inundação propaga-se mais as tabancas de Djobel, Elia, Bulol, Djufunco, Eossor, Elalab, Arame e Edjim, que concentram boa parte da população da secção, sublinhando que nessas tabancas as inundações atingem principalmente as terras agrícolas e habitações.
Presente no ato, o Assessor de Comunicação e Relações Públicas do Ministro do Ensino Superior e Investigação Científica, Buo Manuel, aconselha os guineenses a começarem a tomar consciência e agirem perante situações que põem em causa a segurança e vidas das pessoas, tendo lembrado que, recentemente, a tabanca de Djobel, na secção de Suzana, foi invadida pela água do mar.
“Temos que ter presente que, à medida que o tempo passa, a situação tende a agravar-se, tornando cada vez mais difícil a adaptação do homem às situações de catástrofe, o que requer uma intervenção refletida e consciente, de modo a prevenir os danos que poderão ser irreversíveis para as gerações vindouras” disse, alertando o governo a criar um plano de combate às alterações climáticas, envolvendo todas as entidades nacionais, em especial os ambientalistas.
Por: Tiago Seide
Foto: TS



















