Movimento “Homi i Ka Bombolom”: JOVENS MARCHAM PARA DIZER BASTA À VIOLÊNCIA CONTRA OS HOMENS 

Dezenas de jovens saíram à rua esta segunda-feira, 28 de novembro de 2022, para marchar e dizer basta à onda de violência contra homens que se vem registando nos últimos tempos. A iniciativa, que visa repudiar a violência doméstica registada um pouco por todo o país, foi convocada através das redes sociais pelo influenciador da rede social, Maiga Indjai, com o intuito de alertar a sociedade sobre o clima da violência e exigir justiça. 

A Guiné-Bissau registou nos últimos tempos uma onda de violência doméstica, sobretudo no que concerne à agressão de mulheres contra os maridos. Um dos casos que chamou atenção da sociedade guineense é de um homem cujo pénis foi cortado pela própria esposa, bem como de uma mulher que agarrou o pénis do marido criando-lhe sérios problemas e de uma mulher que agrediu o marido com uma cadeira e partiu-lhe braço. 

Os marchantes, que contaram com a participação de algumas mulheres, reuniram-se na Praça dos Heróis Nacionais (Império) vestidos de camisas brancas com símbolo de uma mão que dizia: “Basta à violência contra homem”. Os marchantes proferiam as seguintes palavras de ordem: Homi i ka bombolom; Nô kansa sufri e basta di violência contra homis”. 

Em declarações aos jornalistas, Maiga Indjai, responsável pela iniciativa do “Movimento Homi i Ka Bombolom”, justificou o objetivo da marcha. 

“Assistimos nos últimos tempos a uma onda de violência doméstica na Guiné-Bissau. Agora, o que se regista é a violência contra os homens. Uma mulher cortou o pénis do marido, outra mulher agrediu o marido com uma cadeira, ainda outra mulher deitou água quente nos pés do marido, porque o marido era um noctívago. É preciso dizer basta a essa onda de violência contra os homens. No passado, levantamo-nos para dizer basta à violência contra as mulheres e hoje temos que nos levantar também para dizer basta à violência doméstica que cresce cada dia no nosso país”, disse. 

Indjai assegurou que a marcha visa chamar atenção das autoridades.

“Aquele homem está a sofrer. Foi-lhe cortado o pénis por volta da 01 hora da madrugada e foi atendido às 9 horas de manhã, podem imaginar a quantidade do sangue que perdeu. Ainda hoje está a perder sangue. Pedimos que seja evacuado para o estrangeiro para tratamento especializado” contou, para de seguida avançar que a marcha será extensiva a todas as regiões do país como forma de desencorajar a prática. 

Cadi Camará, uma mulher que se associou à iniciativa, disse que é preciso parar com essa prática. 

“Não costumamos ter essa onda de violência na Guiné-Bissau. Apelo às mulheres para pararmos com essa prática, porque nada justifica cortar o pénis do marido, nenhum ódio ou vingança. Se morrer, os filhos acabarão por odiar a mãe. Por isso devemos priorizar o diálogo para resolver as nossas diferenças domésticas”, aconselhou. 

A jornalista Indira Correia Baldé, que também se associou aos jovens na marcha, lamentou os atos de violência vividos nos últimos tempos no país. Acrescentou que tanto as mulheres quanto os homens devem parar com a violência, porque numa relação se se perceber que não existe entendimento é melhor a separação. 

SOCIÓLOGO APONTA POLIGAMIA E TRAIÇÃO COMO RAZÕES DA CRESCENTE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

Ouvido pelo nosso semanário para falar sobre as motivações da onda de violência e o seu impacto na sociedade, o sociólogo explicou que o país está perante um novo fator sócio cultural ou sócio individual, contudo reconheceu que, “na verdade, não é de hoje que se verifica a violência contra os homens”.

“Na sociedade guineense, os homens são treinados para conviver com as dores. Há um conceito que o homem não chora e que deve enfrentar os desafios, sobretudo quando é abusado pela mulher. Essas coisas são de um certo modo um tabu no nosso país e nas nossas comunidades, portanto parte-se de princípio que devem ser os homens a encontrar caminhos e mecanismos de lidar com esta situação, sem perder o foco  que em casa, o homem é o  responsável da família, quem manda na família”, disse.

Diamantino Domingos Lopes assegurou que o que se passa nos lares é muito assustador, acrescentando que “os homens sofrem bastante, embora não se manifestem considerando os fatores de orientação cultural”.

Questionado sobre as razões que têm motivado a onda de violência doméstica nos últimos tempos, respondeu que um dos fatores mais candentes é a poligamia e a traição, porque as mulheres têm dificuldades em lidar com a traição. Acrescentou que outro fator se deve à situação económica e financeira, sublinhado que a pobreza não ajuda a manter uma convivência sã no seio de uma família.

Sobre medidas a adotar para estancar a prática da violência doméstica, disse que uma das medidas necessárias é que haja justiça, bem como lutar contra a impunidade sobre estes tipos de crimes, seja de homem contra a mulher, seja vice-versa.

 “É necessário denunciar casos, porque sem a denúncia é impossível lutar contra a prática. Se não houver a denúncia, é impossível haver justiça e se não houver justiça, a impunidade vai prevalecer e vamos ter mais casos de violência “alertou, sublinhando que a violência doméstica tem um impacto negativo na sociedade.

“Vamos imaginar uma mulher a assassinar o marido e com filhos em casa. A relação entre mãe e filho e com os cunhados, o impacto disso devastador e pode gerar múltiplos conflitos à base da violência”, assegurou.   

Por: Assana Sambú  

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