AGENDA COMUM DOS LÍDERES RELIGIOSOS PARA A PROMOÇÃO DA PAZ, PREVENÇÃO DO RADICALISMO E EXTREMISMO VIOLENTO NA GUINÉ-BISSAU
Nós representantes das comunidades religiosas guineenses, islâmica, católica e evangélica, reunidos nos dias 30 de novembro e 1 de dezembro de 2022, em Bissau, no quadro do projeto Nô Cudji Paz, financiado pela União Europeia e pelo Camões – Instituto da Cooperação e da Língua:
Conscientes do crescimento exponencial de movimentos de radicalização e extremismo violento no mundo, nomeadamente, na África Ocidental;
Reconhecendo os riscos que estes fenómenos representam para a paz, estabilidade e desenvolvimento socioeconómico;
Cientes do impacto assimétrico do radicalismo e do extremismo violento sobre as mulheres e as crianças;
Conscientes que o fenómeno de radicalização e do extremismo violento afetam todas as comunidades, estratos sociais e confissões religiosas;
Considerando as fragilidades do país, mormente os desafios socioeconómicos, o desemprego, o disfuncionamento da justiça, a pobreza extrema e o baixo nível de qualidade do sistema educativo;
Cientes da tentativa de associar o radicalismo e o extremismo violento aos conceitos religiosos;
Conscientes do papel das comunidades religiosas na consolidação da paz, através de diálogo intra e inter-religioso para a construção de parcerias estratégicas entre as diferentes confissões religiosas em prol da paz e coesão social.
Nós, líderes religiosos aqui presentes, proclamamos como acordo de compromisso, a presente AGENDA COMUM PARA A PAZ nos termos que se seguem:
- A nível POLÍTICO-SOCIAL
Advogar a adoção de políticas públicas para promoção da paz, prevenção do radicalismo e do extremismo violento na Guiné-Bissau, em colaboração com as autoridades nacionais, com o poder tradicional, com a sociedade civil e as comunidades locais no âmbito do Observatório da Paz – Nô Cudji Paz;
Promover parcerias nacionais e internacionais para o intercâmbio e partilha de boas práticas no domínio da prevenção, da radicalização e do extremismo violento;
Assegurar o distanciamento ativo em relação aos partidos políticas e as agendas político-partidárias, respeitando a laicidade do Estado e a igualdade de todas as confissões religiosas;
Trabalhar ativamente para a identificação e erradicação de práticas e narrativas que coloquem em causa a paz comum, particularmente, o discurso de ódio, a apologia à intolerância religiosae a abordagem ligada à segregação étnico-tribal;
Trabalhar com o poder tradicional, as autoridades públicas, a sociedade civil e as organizações comunitárias de base na adoção de estratégias específicas e transversais para mitigar os riscos da radicalização e o extremismo violento nas comunidades mais vulneráveis.
A nível da COOPERAÇÃO E ARTICULAÇÃO EM REDE
Construir espaços de concertação intra e inter-religioso para harmonizar as intervenções no domínio da promoção da paz e da prevenção do radicalismo e do extremismo violento;
Institucionalizar uma jornada anual de reflexão ecuménica inter-religiosa para promoção da paz e do diálogo.
Desenvolver espaços e mecanismos conjuntos para monitorizar e mitigar os riscos do radicalismo e do extremismo violento;
Criar uma plataforma de diálogo intra e inter-religioso, com a participação de todas e todos, incluindo mulheres, jovens, chefes tradicionais, meios de comunicação social e os líderes religiosos para a prevenção da radicalização e do extremismo violento.
a nível da EDUCAÇÃO, INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO
Integrar nos programas de educação teológica, componentes ligadas à promoção da paz, à prevenção da radicalização e do extremismo violento, de modo a separar as religiões dos movimentos radicais;
Promover uma educação religiosa voltada para a tolerância, respeito pela diversidade e convivência pacífica entre diferentes confissões religiosas;
Promover informações, comunicações, ensinos e jurisprudências religiosas (canónicas, islâmicas e evangélicas) para a desconstrução de narrativas apóstatas que visam associar o radicalismo e o extremismo violento às confissões religiosas;
Desenvolver programas de sensibilização, educação e informação, objetivando melhorar a compreensão comum sobre as causas da radicalização e do extremismo violento, bem como as suas consequências para a sociedade, e as comunidades religiosas em particular.
Feito em Bissau, a 01 de Dezembro de 2022
Documento aprovado por unanimidade no “I Encontro Nacional de Reflexão de Líderes Religiosos para a Prevenção do Radicalismo e Extremismo violento”, realizado nos dias 30 de novembro e 1 de dezembro no Dunia Hotel Bissau, ex-Azalai.
Fonte: LGDH